Produção chinesa provoca um tsunami nos preços mundiais

Produção chinesa provoca um tsunami nos preços mundiais.

 

O aumento da produção de aço na China e uma enxurrada de exportações de produtos siderúrgicos do país estão pressionando os preços do aço em todo o mundo, apesar dos esforços de Pequim para conter a indústria, no mais recente exemplo do impacto global do enorme excesso de capacidade industrial chinesa.
 
A alta mostra a dificuldade que os líderes de Pequim estão encontrando para reorganizar a segunda maior economia do mundo e torná-la mais orientada ao consumo interno e aos serviços, reduzindo sua dependência do setor manufatureiro e dos grandes projetos de infraestrutura, como rodovias e aeroportos. A China produz quase a metade de todo o aço do mundo, mas nos últimos anos Pequim vem tentando reduzir o número de fundições, que são cada vez mais vistas como ativos poluentes, de baixo valor e ultrapassados.
 
A produção de aço chinesa cresceu 8,4% em abril em relação ao mesmo mês de 2012, para 65,7 milhões de toneladas, o segundo maior nível da história, de acordo com dados divulgados esta semana pelo Custeel, que coleta os dados e é financiado pelo governo. A produção de aço da China atingiu seu recorde em março, com 66,3 milhões de toneladas, 7,7% maior que um ano antes. O aumento ocorreu apesar de o país ter crescido menos do que o esperado no primeiro trimestre e de outros dados econômicos que mostram desaceleração nos últimos meses.
 
Em termos de média diária, as siderúrgicas chinesas fabricaram em abril 2,19 milhões de toneladas de aço bruto, superando as 2,14 milhões registradas em março e se aproximando do recorde de 2,2 milhões alcançado em fevereiro.
 
Os efeitos dessa febre produtiva estão se propagando no mercado mundial de aço e reacendendo temores de uma inundação de exportações chinesas. As exportações líquidas de aço do país totalizaram 4,29 milhões de toneladas em abril, o maior volume desde setembro de 2008.
 
"Está tendo o efeito de um tsunami na indústria siderúrgica global, pressionando os preços em todas as regiões", disse Michelle Applebaum, analista de Chicago. "Suponho que os chineses estão só esperando que outras regiões entrem com processos de litígio comercial, e eles sabem que simplesmente terão que parar quando isso ocorrer, porque se Pequim está fazendo alguma coisa para conter o excesso de produção, está fazendo isso de forma invisível."
 
Os preços mundiais de aço caíram 3,5% desde fevereiro, para uma média de US$ 710 a tonelada, de acordo com a Meps, uma consultoria do setor siderúrgico. Embora a China não esteja vendendo muito mais aço diretamente para os Estados Unidos, grande parte dele chega à maior economia do mundo indiretamente através de Japão, Coreia do Sul, Cingapura ou Malásia, disse Applebaum.
 
O governo chinês está exercendo uma pressão pública cada vez maior sobre as siderúrgicas. Na quarta-feira (15), o vice-premiê Zhang Gaoli disse, em declarações publicadas pelo governo central, que a China não vai permitir a expansão de setores industriais como o de aço e alumínio. "Devemos proibir estritamente nova expansão da capacidade nos setores de aço, cimento, alumínio, vidro plano, construção naval e outros setores [e] impedir a construção de projetos ilegais para promover o desenvolvimento do meio ambiente", disse Zhang durante uma visita a uma usina siderúrgica.
 
A China tem um excedente de capacidade siderúrgica anual de cerca de 160 milhões de toneladas, aproximadamente um sexto do tamanho da indústria, dizem analistas. A Associação de Ferro e Aço da China admitiu, em janeiro, que os esforços para conter a expansão da capacidade não têm sido eficazes, culpando usinas menores pelo excesso. A organização afirmou que a oferta excedente tende a continuar afetando o setor.
 
As siderúrgicas afirmam que estão se enquadrando às novas pressões do governo. A estatal Baosteel Group "não está mais correndo atrás de produção, mas buscando criação de valor e inovação", disse o porta-voz da empresa, Meng Haibiao.
 
No domingo (12), autoridades locais de Tangshan, uma cidade do norte do país, disseram por meio de um comunicado que iriam cortar a eletricidade de 199 fábricas poluentes, apontando quatro usinas siderúrgicas como as líderes em emissões tóxicas.
 
Não é a primeira vez que a China adota ações como essa. Incitadas pelo governo central, autoridades locais em províncias costeiras, incluindo Hebei, Jiangsu e Zhejiang, também cortaram a energia de usinas em setembro de 2010 numa tentativa de reduzir a produção de aço. A iniciativa não foi bem-sucedida, já que elas voltaram a produzir a todo vapor no ano seguinte.
 
Analistas dizem que os tempos podem estar mudando. "No curto prazo, é difícil dizer qual o impacto que tais medidas podem ter", disse Yu Liangui, da consultoria Mysteel, de Xangai. "Mas recentemente tem havido uma exigência maior de uma política ambiental forte na China, então essa políticas [de contenção de capacidade] vão se tornar mais intensas no longo prazo."
 
O governo vem sofrendo uma pressão crescente para controlar a produção do aço desde que uma fumaça tóxica provocou revolta no público no início deste ano. Em janeiro, o Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação da China prometeu intensificar o ritmo de fusões em indústrias poluentes, incluindo a siderúrgica.
 
O inchado setor siderúrgico do país, com pouco mais de 1.000 fábricas, é um legado da era Mao, quando a China buscava ser autossuficiente na maior parte dos produtos industriais. Mas a indústria fragmentada passou por frequentes ciclos de crescimento e estouros de bolhas econômicas, produzindo em excesso durante os períodos de alta, o que logo provocava uma queda nos preços.
 
Por Chuin-Wei Yap/ The Wall Street Journal, de Pequim