Mercado pede engenheiros com melhor formação

Todas as áreas de engenharia permanecem em alta, mas o mercado está mais exigente.

A previsão de que o setor de construção civil poderá ter um apagão de engenheiros, caso seja confirmada, não acontecerá por falta de mão de obra qualificada, mas pelas novas exigências que o mercado está impondo aos profissionais para acelerar a industrialização do setor. "Não existe escassez de talentos", diz a presidente da consultoria de busca de executivos Dasein, Adriana Prates.

De acordo com ela, todas as áreas de engenharia permanecem em alta, mas o mercado está mais exigente e elevou seus critérios de seleção. "Apenas o diploma não é mais garantia de emprego. É preciso mais", afirma.
 
Os números do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) mostram que a procura por cursos de graduação em engenharia cresceu 44% entre 2009 e 2011. Em seis das 40 especialidades em engenharia - civil, produção, mecânica, elétrica, ambiental e petróleo -, a procura cresceu 68% no mesmo período, concentrando 72% do total de alunos de engenharia em 2011. A civil foi a que mais teve alunos matriculados em todos os anos e a que mais aumentou o número de estudantes. Foram 68.654 vagas a mais em 2011 em relação a 2009. Mas a evasão é uma preocupação. Enquanto a área de engenharia, produção e construção representou 11,3% de todos os alunos matriculados em todos os cursos de ensino superior em 2011, os concluintes dessa mesma área representaram apenas 6,4% do total.
 
O número de concluintes do ensino superior geral, no entanto, registrou um aumento de 4,4% em 2011 em relação a 2010 segundo o Censo. Na Universidade Federal de Pernambuco (UF-PE), a evasão vem diminuindo. O professor Bernard Bulhões Genevois, coordenador das engenharias do Centro de Tecnologia e Geociências (CTG), afirma que houve aumento de interesse e melhora no nível dos alunos. "Alunos que iam para os cursos de administração e medicina, por exemplo, agora estão vindo para engenharia", diz Bernard.
 
Em 2008, a universidade formou a metade dos 120 alunos que entraram para o curso de engenharia civil cinco anos antes. Este ano, a previsão é de formar 90 dos 120. "Ainda não é o mundo perfeito, mas estamos avançando". Para ele, o que motiva a evasão não é apenas a falta de preparo do estudante para lidar com números, mas também as dificuldades a universidade impõe ao aluno, como carga horária elevadas.
 
Se por um lado a promessa de haver mais graduados em engenharia civil no Brasil nos próximos anos parece factível, por outro a busca pelo profissional com melhor preparo continua difícil. "Ao mesmo tempo em que a demanda cresceu 25% em três anos aqui dentro, o tempo médio de busca do profissional na área de engenharia passou de 35 para 45 dias", diz Frederio Moraes, especialista do mercado de construção civil da consultoria em recrutamento ASAP.
 
Essa média também subiu na consultoria em recrutamento Hays, que em 2010 era de 80 a 90 dias e neste ano pulou para 100 a 120 dias. "A única explicação para essa demora são os critérios dos empregadores que também se ampliaram", diz Caroline Cadorin, gerente da Hays em Campinas (SP). Helena Camila Magalhães, diretora da consultoria Fesa, do Rio, diz que "quando a gente procura uma pessoa com 20 anos de experiência, ainda existe uma grande dificuldade".
 
Na opinião de Felipe Calbucci, gerente de propriedade e construção da consultoria em recrutamento Michael Page, empresas que têm dezenas ou centenas de canteiros de obras pelo país não têm engenheiros que acompanhem uma edificação do começo ao fim. "Que é exatamente o que o mercado exige para cargos de gestão, alguém com visão de produção, planejamento, orçamento, de custos, de segurança de trabalho e meio ambiente", diz Calbucci. Ele acredita que essa dificuldade de encontrar engenheiros civis deve perdurar ainda por 10 anos. Afinal, são cinco anos de faculdade para se formar e as obras de edifícios residenciais ou corporativo levam pelo menos 18 meses, dependendo da complexidade. "Quem está entrando na faculdade hoje só vai ficar pronto e bem treinado em nove anos".
 
Por Luiz de França/ Valor Econômico