Campinas e Sorocaba já garantem um terço do PIB industrial de SP

Campinas e Sorocaba já garantem um terço do PIB industrial de SP

Os centros produtores de Campinas e Sorocaba foram os grandes indutores da dinâmica de desconcentração que marcou a indústria de São Paulo entre os anos 2000 e 2010. Com 33,5% de participação no produto industrial do Estado, de acordo com a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), a região que compreende cidades como Jundiaí, Hortolândia, Sumaré, Indaiatuba, Piracicaba, Vinhedo, Atibaia, Itupeva e Rio Claro se aproxima cada vez mais da região metropolitana, que viu sua representatividade na indústria recuar de 42% para 38,1% em dez anos.

O conjunto de polos industriais tradicionais - Grande São Paulo, Vale do Paraíba, Litoral Norte e Baixada Santista - perdeu importância de forma generalizada. De acordo com o estudo "onde a Indústria se fortalece no Estado de São Paulo", recém-finalizado pelo Seade, nos chamados "eixos com retração" a redução foi de quase dez pontos, de 59,9% para 50%. Em dez anos, a presença de São Paulo na indústria nacional caiu ligeiramente, de 45,1% para 42%.
 
Nas regiões administrativas de Campinas e Sorocaba, a participação do Valor Adicionado Fiscal da Indústria de Transformação - indicador que mede a produção industrial - passou de 28,3% para 33,5% do total atingido pelo Estado no período. Em termos nacionais, a fatia da região cresceu de 9,4% para 11,2%.
 
O estudo do Seade mostra ainda que a região Centro-Noroeste também ganhou importância no produto industrial do Estado. Sua participação variou de 9,5% para 14% no intervalo pesquisado e de 5% para 5,4% na comparação nacional. Juntas, as duas regiões receberam 42,1% dos US$ 72,9 bilhões investidos no Estado no período.
 
Os motivos para a saída de fabricantes da região metropolitana são conhecidos, afirma Haroldo Torres, um dos autores do estudo: escassez de terrenos, valorização imobiliária, custo da mão de obra, congestionamentos, poluição e crescimento do setor de serviços. Pesam, ainda, os incentivos fiscais que governos de outros Estados se dispõem a conceder às empresas para a implantação de indústrias em outras localidades.
 
O que surpreendeu, diz o pesquisador, foi o ritmo acelerado de desconcentração. "A região de Campinas e Sorocaba ganha uma musculatura industrial que chama atenção. Se fosse um Estado independente, já seria o segundo mais industrializado do país, atrás apenas de São Paulo. Minas Gerais, o segundo, tem cerca de 10% de participação na indústria nacional." Ao contrário da área em torno de Ribeirão Preto, que deve o crescimento particularmente ao setor sucroalcooleiro, a região Campinas-Sorocaba está formando um parque industrial diversificado, com a presença de setores como eletrônico, farmacêutico, de eletrodomésticos e automobilístico.
 
Devido à concentração de empresas sul-coreanas, chinesas e japonesas - Toyota, Hyundai, Honda, Stanley, Sumitomo, LG, Samsung, Huawei, ZTE, CJ e Ajinomoto -, a área é identificada no estudo como "corredor asiático". Não por acaso, os subsetores em que a região avançou mais dentro do produto industrial do Estado foram os de máquinas para escritório e equipamentos para informática, cuja representatividade saltou de 33% para 74,8%, de material eletrônico e equipamentos de comunicações (32% para 64,5%) e de eletrodomésticos (20,5% para 40,5%).
 
Torres chama atenção também para o segmento farmacêutico, cuja participação cresceu de 13,1% para 27,1%. A região metropolitana, ele diz, ainda agrega a maioria das empresas do setor, mas a migração de fábricas de genéricos para o interior tem causado uma redistribuição importante de forças.
 
Em ritmo menos acelerado, o mesmo tem acontecido com a indústria de material de transporte, que inclui montadoras e fabricantes de autopeças. A participação aumentou de 22,2% para 29,4%. Os ramos de máquinas e equipamentos, materiais elétricos e produtos de plástico - que fornecem bens de capital e bens intermediários para a essa indústria -, saíram de patamares em torno de 25% e passaram a responder por cerca de 35% do produto industrial do Estado. "Nos os últimos 20 anos, nenhuma montadora anunciou novas unidades na região metropolitana. Em contrapartida, de 2010 para cá, a Toyota construiu nova fábrica em Sorocaba, e a Hyundai, em Piracicaba."
 
Proximidade com a região metropolitana, oferta de mão de obra qualificada, existência de um sistema de transportes eficiente e de universidades e centros de pesquisa reconhecidos são atributos considerados por Torres como os grandes atrativos da região. Já a "área industrial da cana-de-açúcar", no centro-noroeste do Estado, deve seu crescimento especialmente à alta dos preços internacionais do açúcar e ao crescimento da demanda doméstica de etanol.
 
De acordo com o estudo, o aquecimento da demanda fez com que os investimentos, antes bastante concentrados em Ribeirão Preto, onde já existiam usinas, avançassem em direção a outras cidades, como São José do Rio Preto, Bauru, Marília, Araçatuba, Barretos e Presidente Prudente. O subsetor de alimentos também ganhou expressividade nessa área - aumentou de 42,1% para 51,7% a participação no produto industrial do Estado.
 
Os "eixos com retração" (Grande São Paulo, Litoral Norte, Vale do Paraíba e Baixada Santista) perderam importância em boa parte dos 29 segmentos que compõem o estudo. Houve avanço apenas nos subsetores de fumo (82,5% para 98,1%), edição, impressão e gravações (86,5% para 87,3%) e de artigos para perfumaria e cosméticos (75% para 87,3%). Torres atribui o crescimento desse último principalmente à atividade de grandes empresas, como a Natura, que possui uma unidade em Cajamar, e a Jequiti, com fábrica em Osasco.
 
O pesquisador também ressalta a resistência do setor têxtil e de vestuário, cuja participação caiu de 45,6% para 41,8% e de 75,1% para 69,3%, respectivamente. "O ramo da moda é muito influenciado por tendências. Tradicionalmente, elas se agrupam em torno de grandes centros de informação, como é o caso de São Paulo", diz Torres.
 
Por Camilla Veras Mota/ Valor Econômico

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