Projeções apontam recuo de 2,1% na produção industrial

As projeções para a Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física a queda varia entre 1% e 2,7%.

Mesmo com a surpresa positiva após a alta de 2,5% da produção na abertura do ano, economistas avaliam que a recuperação da indústria segue moderada e sujeita a oscilações. A média de 14 consultorias e instituições financeiras aponta para recuo de 2,1% em fevereiro sobre janeiro, feito o ajuste sazonal. Nas projeções para a Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física, a ser divulgada hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a queda varia entre 1% e 2,7%.

Perto das estimativas mais pessimistas, Alessandra Ribeiro, da Tendências, observa que todos os indicadores antecedentes analisados pela consultoria encolheram na passagem mensal, o que reforça o perfil "errático" e pouco disseminado da retomada. De acordo com a Anfavea, entidade que reúne as montadoras, a produção de veículos (automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus) recuou 17,9% ante janeiro, dado que, dessazonalizado pela economista, resultou em tombo de 19,4%.
 
Alessandra acrescenta que a expedição de papel ondulado, o consumo médio de energia, o fluxo pedagiado de veículos pesados e a arrecadação do IPI também caíram em fevereiro segundo o ajuste da Tendências, informações que indicam contração de 2,6% da produção no período. Essa expectativa não anula o cenário de reação da indústria, mas impõe ainda mais dúvidas quanto ao ritmo, afirma. "Numa economia que está se recuperando, o esperado seria que produção mostrasse acomodação depois de um resultado forte, e não devolvesse toda a alta", diz.
 
Passado o efeito das "supervendas" de veículos, a produção irá crescer em velocidade mais modesta ao longo do ano, diz Igor Velecico, do Bradesco, para quem a atividade industrial caiu 2% entre janeiro e fevereiro. Se confirmada a projeção, ele calcula que o setor precisa avançar a uma média mensal de 0,65% para acumular a expansão de 3,5% esperada pelo banco em 2013. Segundo Velecico, ao adiar a volta integral do IPI sobre carros para o fim do ano, o governo não deve obter resultados muito diferentes em termos de atividade em relação às previsões.
 
Antes zerada até dezembro, a alíquota do IPI para veículos populares subiu para 2% em janeiro e iria voltar a 7% depois de junho, mas será mantida no nível atual até o fim de 2013, assim como o imposto menor, de 7% a 8%, para automóveis acima de mil a duas mil cilindradas.
 
Alessandra, da Tendências, afirma que a decisão do governo pode reduzir a volatilidade nas séries de produção e vendas, causada pela perspectiva de que o IPI suba no mês seguinte, mas não é suficiente para aumentar suas previsões para a produção industrial e para o crescimento da economia referentes a este ano. "Esse tipo de política tem cada vez menos efeito. As pessoas não trocam de carro a cada semestre", afirmou.
 
Fabio Ramos, da Quest Investimentos, também não irá mudar sua estimativa de 3% para a alta da produção em 2013 devido à manutenção do desconto no imposto, medida que, segundo ele, já era esperada. Em sua avaliação, a isenção fiscal concedida no ano passado antecipou boa parte do consumo para 2012 e, por isso, o IPI menor por mais tempo não será capaz de inflar as vendas e puxar a indústria a reboque, mesmo com um processo de redução do endividamento das famílias em curso.
 
Para fevereiro, a Quest trabalha com recuo de 1% da produção frente a janeiro, variação que, de acordo com Ramos, pode ser vista como uma correção do salto expressivo do primeiro mês, ainda resultado de um último fôlego da indústria em resposta ao IPI totalmente reduzido para carros. "É normal que em fevereiro haja uma ressaca e, em março a produção deve ficar relativamente parada", diz. O ritmo projetado para março, na opinião do analista, seria um "meio termo" entre a alta de janeiro e a queda do mês posterior e deve ser observado até o fim de 2013.
 
Por Arícia Martins/ Valor Econômico