Fabricantes de máquinas começam o ano com queda no faturamento

Dados da Abimaq apontam que faturamento do setor caiu 3,7% na passagem de dezembro para janeiro

As boas perspectivas para 2013 não foram abaladas, mas o ano começou de forma ainda lenta para os fabricantes de bens de capital. Dados compilados pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) dão conta que o faturamento bruto do setor recuou 3,7% na passagem de dezembro para janeiro, na série sem ajuste sazonal, para R$ 5,8 bilhões. Na comparação anual, houve avanço, mas modesto, de 0,2%.

Os números do primeiro mês de 2013 sofreram o impacto das transações externas. As importações avançaram 9,9% em relação a janeiro do ano passado. As exportações, por sua vez, caíram 24,1%. O resultado foi um déficit da balança comercial do setor de US$ 1,9 bilhão, o maior para um mês de janeiro desde o início da série histórica da Abimaq, que data de 2005.
 
A avaliação da entidade é que houve uma redução na demanda de máquinas em mercados desenvolvidos, como Estados Unidos e Europa, além dos problemas bilaterais com a Argentina, que continuam afetando as exportações. "Torcemos para que isso não seja uma tendência, pois exportamos cerca de um quarto da produção", disse Carlos Pastoriza, diretor da Abimaq, em coletiva de imprensa.
 
Pelo lado das importações, uma avaliação é que havia demanda reprimida. "As condições de financiamento do BNDES [para produtos nacionais] e barreiras colocadas pelo governo deram uma segurada nas importações no fim do ano passado", afirmou André Romi, presidente da Câmara Setorial de Máquinas Ferramenta da Abimaq.
 
Romi disse que a taxa anual de financiamento Finame/PSI do BNDES passou de 2,5%, no ano passado, para 3%, neste semestre, e chegará a 3,5% na segunda metade do ano. "A condição excepcional de financiamento fez as empresas anteciparem o consumo no fim do ano; no segmento de máquinas ferramenta, cerca de 20% a 30% das vendas foram antecipadas".
 
Para o executivo, essa combinação trouxe uma retomada das importações e uma queda na compra de produtos nacionais. Essa tendência, prevê, continuará a ser observada em fevereiro, que provavelmente trará resultados ainda fracos, até porque os dois primeiros meses do ano são sazonalmente mais fracos.
 
"Março já tende a ser um mês mais "normal", mais homogêneo", disse o executivo. A expectativa dele, em linha com a já apresentada pelo presidente da Abimaq, Luiz Aubert Neto, é de uma retomada suave e mais consistente a partir do segundo trimestre. Romi afirmou que, apesar da alta gradual da taxa Finame/PSI, o financiamento de máquinas continuará muito atraente e estimulará as vendas. No segmento de máquinas ferramenta, a linha do BNDES é usada em 70% a 80% das vendas dos fabricantes nacionais, estima Romi.
 
Sinais para corroborar esse "otimismo moderado" aparecem no horizonte. A indústria, cliente do setor de bens de capital, mostrou-se mais vigorosa neste início de 2013. A produção industrial, medida pelo IBGE, avançou 2,5% na passagem de dezembro para janeiro (descontadas as influências sazonais). Foi a maior alta mensal do índice desde março de 2010. A produção de bens de capital subiu 8,5%.
 
É importante ponderar que esses sinais estão bastante concentrados em alguns setores, especialmente o automobilístico, que puxou a produção de bens duráveis, e de caminhões, que inflou os dados da produção de bens de capital.
 
O setor de caminhões se recupera de um 2012 que foi muito ruim. Com a edição de nova regulação para emissões de poluentes, os clientes haviam adiantado as compras de caminhões no fim de 2011 e as vendas sofreram fortemente no ano passado.
 
Outro índice positivo foi visto na pesquisa "Indicadores Industriais", da Confederação Nacional da Indústria (CNI). A capacidade instalada da indústria alcançou 84%, em janeiro, melhor índice desde fevereiro de 2008.
 
Por outro lado, a pesquisa da CNI apontou uma queda de 4,2% no faturamento real da indústria, na comparação com dezembro. Em relação a janeiro de 2012, o tombo foi de 5%. A pesquisa mostra um cenário também da indústria, como um todo, preparando-se para uma retomada das vendas no futuro próximo.
 
Por Ana Fernandes/ Valor Econômico 

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