Vale tem primeiro prejuízo em 10 anos

Vale tem prejuízo de R$ 5,6 bi no quarto trimestre, a primeira perda desde 2002

 

A mineradora Vale registrou no quarto trimestre do ano passado prejuízo de R$ 5,628 bilhões, o primeiro resultado negativo trimestral desde 2002 e a maior perda da história da empresa. Com isso, o lucro líquido de 2012 foi de R$ 9,734 bilhões, queda de 74,3% em relação a 2011 e o pior resultado anual desde 2004. O prejuízo no último trimestre do ano passado deveu-se basicamente a baixas contábeis e já era esperado pelo mercado.
 
O último resultado no vermelho da mineradora foi registrado no terceiro trimestre de 2002, de US$ 150 milhões. Ao divulgar os dados na noite de ontem (27), a companhia informou que o lucro líquido básico - excluindo o efeito de itens não caixa não recorrentes, como as baixas contábeis - foi de R$ 22,2 bilhões ano passado, ante R$ 39,2 bilhões em 2011, queda de 43,4%. A empresa se disse impactada pelo menor crescimento da economia global. "Uma das consequências do cenário macroeconômico adverso foi a queda generalizada dos preços de minérios e metais", diz a empresa no balanço.
 
O presidente da Vale, Murilo Ferreira, procurou sinalizar para uma melhora de preços neste ano. "Acredito que o mercado será menos volátil e com demanda maior por matéria-prima", afirmou Ferreira, em teleconferência. O executivo reforçou o compromisso da mineradora com corte de custos e eficiência.
 
A estratégia, segundo Ferreira, será a companhia manter uma carteira de projetos menor, mas, com potencial para remunerar de forma "extraordinária" o acionista. Ferreira reiterou o foco no desenvolvimento do projeto Serra Sul, orçado em quase US$ 20 bilhões. Em 2012, os investimentos da Vale foram de US$ 17,7 bilhões, inferior aos US$ 21,4 bilhões previstos inicialmente.
 
As baixas contábeis com ativos somaram R$ 8,211 bilhões. Estão incluídas aí operações de níquel de Onça Puma (R$ 5,770 bilhões), no Pará, e minas de carvão na Austrália (R$ 2,139 bilhões). Outra parte das baixas, de R$ 4,002 bilhões, referem-se a investimentos, incluindo a siderúrgica CSA, no Rio, parceria com a alemã ThyssenKrupp.
 
A CSA custou uma baixa de R$ 1,8 bilhão à Vale. Segundo Ferreira, a baixa não teve relação com o processo de venda da siderúrgica, que está sendo negociada pela Thyssen. O executivo sustentou que, por causa dos problemas ocorridos no início da operação da CSA, a Vale teve de fazer ajustes.
 
O prejuízo da Vale no quarto trimestre estava dado, lembrou o estrategista-chefe da corretora SLW, Pedro Galdi, porque as baixas contábeis já eram esperadas pelo mercado. Todas as projeções levantadas pelo Broad-cast, serviço em tempo real da Agência Estado, indicavam prejuízo, oscilando de US$ 516 milhões a US$ 2,859 bilhões, no padrão contábil americano.
 
Segundo Galdi, seria mesmo melhor para a empresa "limpar" logo o balanço, para poder "fazer bonito" neste ano. "O resultado de 2012 já estava contaminado", disse Galdi, em entrevista antes do anúncio do balanço.
 
A receita operacional nos últimos quatro meses de 2012 totalizou R$ 24,707 bilhões, subindo 11,1% em relação ao trimestre imediatamente anterior. Segundo a Vale, o aumento ocorreu principalmente por causa da elevação de preços na passagem do terceiro para o quarto trimestre.
 
No quarto trimestre, o preço  médio do minério de ferro foi de  US$ 93,66 por tonelada, ante US$ 83,69 no período imediatamente anterior. Na média anual, porém, o preço de 2012 ficou em US$ 96,77 por tonelada, ante US$ 136,07 em 2011.
 
Galdi destacou ainda que as baixas contábeis com desvalorização de ativos estão afetando os resultados de todas as grandes mineradoras globais - BHP, Anglo American e Rio Tinto. As três anunciaram mudanças no comando nos últimos meses. "Quando as empresas compraram ou investiram nesses ativos, eles valiam 100, agora valem 20", disse Galdi, lembrando que as baixas contábeis fazem parte de um processo de adaptação das companhias a um novo cenário internacional após 2008.

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