O setor automotivo brasileiro
Texto é de profissionais da Faculdade de Engenharia da Unesp de Guaratinguetá
Durante os anos iniciais da famigerada crise econômica mundial de 2007, enquanto nos mercados Norte Americano e Europeu as montadoras amargavam prejuízos e demandavam, em alguns casos, intervenções estatais diretas (casos da GM e da Chrysler), na terra de Suassuna, o Governo Federal abria mão de sua fatia do bolo (uma isenção generosa do IPI sobre automóveis, entre outras benesses) em nome da manutenção dos empregos e da economia. Tal pacote de generosidade garantiu às montadoras a manutenção de seus volumes de vendas, assim como os resultados nos anos subsequentes, e os consumidores (os contribuintes), foram beneficiados por uma “Black Friday” à brasileira, ou seja, tudo pela metade do dobro. Neste caso o consumidor comprou, em inúmeras ocasiões, veículos com isenção total de IPI pelo preço original, ou seja, sem isenção de IPI.
Ocorre que não é possível conceder isenções ad Eternum, assim se fez necessário pensar, planejar, desenhar e operacionalizar algo mais duradouro, norteado por pensamento de longo prazo, uma Política Industrial. Dessa forma surgiu em 2011 o Plano Brasil Maior (PBM), a política industrial, tecnológica, de serviços e de comércio exterior para o quadriênio 2011-2014, com o slogan “Inovar para Competir, Competir para Crescer”.
Ocorre que as montadoras vivem de vender produtos, e esses por sua vez precisam ser atualizados constantemente para atender os desejos dos consumidores (que hoje tem a internet para acompanhar os carros lançados mundo a fora), assim, para as montadoras aqui estabelecidas, tanto as atividades fabris, quanto investimento em engenharia ou pesquisa e desenvolvimento são atividades corriqueiras, mantidas mesmo em momentos de crise, pois se trata de fazer o mínimo para sobreviver. Logo, a restrição para novos entrantes se tornou uma bela reserva de mercado para quem aqui já estava.
A ideia do Inovar-Auto é muito boa, o que não é bom é criar uma reserva de mercado que não traga nenhum benefício para os consumidores, que não torne o produto globalmente competitivo. Digo isso, pois, um dos grandes limitadores de nossas exportações para União Europeia, Estados Unidos e Canadá é o nível tecnológico dos veículos fabricados no Brasil (entretenimento, conforto, segurança e normas ambientais/emissões).
Há de se ressaltar que não se trata de uma opinião do autor, trata-se de uma constatação norteada por critérios científicos qualitativos e quantitativos. Segundo trinta executivos da indústria automotiva, entrevistados por ocasião de minha pesquisa de Doutorado, as razões listadas acima, além do famoso e duvidoso “custo Brasil” são os fatores que limitam nossas exportações (e competitividade) para os principais mercados globais.
Valter Silva Ferreira Filho, Fernando Augusto Silva Marins, Maurício Cesar Delamaro e Antonio Wagner Forti
Valter Silva Ferreira Filho é Doutorando em Engenharia Mecânica na Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá (FEG); Fernando Augusto Silva Marins e Maurício Cesar Delamaro são professores doutores do Departamento de Produção da FEG; e Antonio Wagner Forti é Professor Assistente Doutor do Departamento de Mecânica da FEG.