Carência de mão de obra impulsiona mecanização da indústria nacional

Economista Ricardo Amorim faz palestra de abertura na 20ª edição da Mercopar

Uma indústria que dobrou sua participação global na última década, de 2 para 3% da participação global, período em que o PIB brasileiro cresceu uma média de 4,5% ao ano. Foi com dados otimistas e com a certeza de que o País está "condenado a crescer", que o economista Ricardo Amorim iniciou sua palestra na abertura da 20ª Mercopar. Outro dado em destaque é a taxa de desemprego, em 4%, no Brasil é a menor registrada.  Amorim não está preocupado com a desindustrialização brasileira, pelo contrário, acredita que a ausência de mão de obra qualificada no Brasil será um motivo para a grande mecanização do país, uma vez que a mão de obra encareceu e passou a ser mais vantajoso o investimento em maquinário. "Não podemos dizer que o risco da desindutrialização não exista, mas é algo, que caso ocorra, será daqui alguns anos", disse.

Um dos motivos da aposta no grande crescimento brasileiro é a crise pela qual passam Europa e Estados Unidos. Com a ausência de oportunidades nestes países,ainda que o crédito continue barato, se torna mais vantajoso o investimento em países emergentes. Um levantamento realizado pela ONU, revela que o Brasil é o segundo principal destino de investimentos, perdendo apenas para a China. Isso não significa que não haverá problemas. "A crise provocada pela bolha de crédito na Europa e Estados Unidos começou há 30 anos e, de tempos em tempos, teremos choques com novos reflexos desse problema que está sendo empurrado com a barriga".

Para o próximo ano o clima deverá ser de cautela. O economista calcula que o crescimento brasileiro não deve ser maior do que 1% por conta da incerteza de pagamentos europeus, o freio nos gastos e empréstimos por parte destes países. "O importante é ficar com dinheiro em caixa, porque em 2013 teremos um novo salto e arrisco dizer que o crescimento do PIB brasileiro será maior do que os 7,5% registrados em 2010". O novo susto virá quando o governo americano cortar o repasse aos municípios que perderam muito na crise da arredação do seu principal imposto, o equivalente ao IPTU brasileiro.

O investimento não é apenas do exterior. A expansão do crédito no Brasil, especialmente para pequenas e médias empresas é outro motivo para acreditar na grande expansão brasileira. "Estas empresas crescerão mais que as outras, assim como aqueles que estão no interior ligados ao agronegócio". Apesar  de ter lembrado as consequências de bolha de crédito provocada nos países do Norte, Amorim não vê os mesmos riscos no Brasil, porque as proporções são muito menores.

A reversão da fuga de cérebros e a entrada de muitos estrangeiros especializados sem perspectiva em seus países é outro sintoma da grande atração que o Brasil desperta no mundo, inclusive dele, que retornou ao país em setembro do ano passado, depois de nove anos morando nos Estados Unidos. Para o apresentador do programa Manhattan Connection e colunista da revista Isto É, o crescimento brasileiro estará baseado principalmente em commodities para alimentar a gigantesca população de China e Índia. "A economia chinesa continuará sendo o grande comprador de commodities brasileiras por mais 10 ou 15 anos e, quando a população urbana for maior que a rural, esse posto será ocupado pela Índia".

Amorim também reforçou a mudança no panorama das forças políticas globais, em que os emergentes estão com uma força cada vez maior. "Se antes éramos vistos como um problema, agora somos apontados como a solução". A crise europeia, por exemplo, com empréstimos bilionários feitos para Irlanda, Grécia, Portugal e provavelmente Espanha e Itália, poderiam ser resolvidos com o empréstimo de dinheiro emergente. "Estes países possuem um fundo de 6 trilhões de dólares, o que seria suficiente para bancar a dívida de países europeus, mas este é um ônus político que Europa e Estados Unidos ainda não estão dispostos a enfrentar".


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