Governo destina R$ 300 bi para modernização e digitalização da indústria

Nova política industrial busca modernização fabril com ênfase na Indústria 4.0, elevando digitalização de 23,5% para 90%; Saiba o posicionamento da Abimaq e da CNI

O governo brasileiro apresentou nesta segunda-feira (22) o "Nova Indústria Brasil (NIB)", um ambicioso plano de R$ 300 bilhões destinado a revolucionar o setor industrial até 2026. Proposto pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), a iniciativa busca fortalecer a parceria entre o governo e o setor produtivo através de metas e ações até 2033, visando impulsionar o desenvolvimento nacional através de incentivos à inovação e sustentabilidade em setores estratégicos. A nova política industrial destaca o papel crucial da modernização do chão de fábrica, com subsídio para novas máquinas e equipamentos e soluções da Indústria 4.0.

O plano delineia eixos de ação, como "Mais Inovação e Digitalização" para projetos de pesquisa e desenvolvimento, "Mais Verde" para iniciativas sustentáveis e "Mais Exportação" para incentivar a entrada no mercado internacional. Além do eixo “Mais Produtividade”, que destaca a aquisição de máquinas e equipamentos como forma de ampliar a capacidade industrial do país. O presidente do BNDES, Aloízio Mercadante, enfatizou que essas medidas e parcerias ajudarão o país a avançar economicamente, colocando a indústria no centro da estratégia para um Brasil menos desigual, mais moderno e dinâmico.

Durante o anúncio do plano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ressaltou a importância das parcerias público-privadas para impulsionar a competitividade e financiar exportações. “Para se tornar mais competitivo, o Brasil tem de financiar algumas das coisas que ele quer exportar. Essa reunião mostra que finalmente o Brasil juntou um grupo de pessoas que vai fazer com que aconteça uma política industrial. E que muito dela virá por meio de parcerias entre a iniciativa privada e o poder público”, acrescentou.


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De olho na neoindustrialização, o plano foca na transformação digital da indústria, alocando R$ 300 bilhões até 2026 para estimular investimentos no setor. O plano visa atingir 90% de digitalização nas empresas industriais e triplicar a participação da produção nacional em novas tecnologias, especialmente na Indústria 4.0, incluindo inteligência artificial, robótica, internet das coisas e computação em nuvem.

A gestão dos R$ 300 bilhões ficará a cargo do BNDES, Finep e Embrapii, com linhas específicas, tanto reembolsáveis quanto não reembolsáveis. Recursos provenientes do mercado de capitais serão alinhados aos objetivos e prioridades das missões, promovendo a neoindustrialização nacional.

Dentro do montante total, R$ 20 bilhões serão destinados a iniciativas não reembolsáveis, compartilhando custos e riscos de pesquisa, desenvolvimento e inovação com as empresas. A Finep lançará 11 chamadas públicas, incluindo um edital específico para Saúde em Institutos de Ciência e Tecnologia, totalizando R$ 2,1 bilhões. Essas medidas visam impulsionar diversos setores, estimulando o desenvolvimento industrial e tecnológico do país.

Grupos setoriais

O NIB abrange diversas missões, desde cadeias agroindustriais até a transformação digital. O plano destaca metas como garantir segurança alimentar, fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS), reduzir o tempo de deslocamento nas cidades e promover a transformação digital e a bioeconomia. Além disso, busca alcançar autonomia na produção de tecnologias críticas na área de defesa.

  1. Cadeias Agroindustriais: Foca na segurança alimentar e nutricional da população brasileira. As metas incluem garantir que 70% dos estabelecimentos de agricultura familiar estejam mecanizados até a próxima década, com 95% dessas máquinas sendo produzidas nacionalmente.
  2. Saúde: Tem como objetivo aumentar a participação da produção nacional nas aquisições de medicamentos, vacinas, equipamentos médicos, entre outros, de 42% para 70%.
  3. Bem-estar nas Cidades: Envolvendo infraestrutura, saneamento, moradia e mobilidade sustentáveis, busca reduzir em 20% o tempo de deslocamento das pessoas de casa para o trabalho e ampliar em 25 pontos percentuais a participação da produção brasileira na cadeia da indústria do transporte público sustentável.
  4. Transformação Digital: Visa tornar a indústria mais moderna e disruptiva, com foco em investimentos na Indústria 4.0, aumentando a digitalização das empresas industriais de 23,5% para 90%.
  5. Bioeconomia, Descarbonização e Transição Energética: Pretende ampliar em 50% a participação dos biocombustíveis na matriz energética de transportes e reduzir em 30% a emissão de carbono da indústria nacional.
  6. Defesa: Busca alcançar autonomia na produção de 50% das tecnologias críticas para fortalecer a soberania nacional, com foco em energia nuclear, sistemas de comunicação e sensoriamento, propulsão, veículos autônomos e remotamente controlados.

Posicionamento do setor

Em nota à imprensa, instituições se pronunciaram sobre o anúncio do governo federal. A  Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ) destacou a relevância da indústria de transformação para o crescimento sustentável e a competitividade. Apoiando a implementação da Nova Política Industrial, a ABIMAQ enfatizou a importância da transformação estrutural, promovendo a melhoria na produtividade e avanços na digitalização. 

A associação expressou suporte às medidas propostas pelo governo, incluindo a criação de instrumentos como a "Depreciação Acelerada" e a "LCD - Letra de Crédito do Desenvolvimento", bem como políticas de financiamento para a indústria exportadora, visando uma nova estrutura produtiva para enfrentar desafios econômicos e sociais.

Leia também: "Ser contra uma política industrial moderna é ser contra o desenvolvimento do Brasil", diz presidente da CNI

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) elogiou a iniciativa do governo brasileiro ao lançar a Nova Indústria Brasil, considerando-a um passo positivo para os próximos 10 anos. O vice-presidente da CNI, Leonardo de Castro, destacou a importância da participação do setor público na retomada da indústria, enfatizando o compromisso da CNI com a agenda. A nova política é reconhecida como moderna, priorizando desenvolvimento sustentável, investimento em produtividade, exportação, inovação e empregos por meio da neoindustrialização.

Rafael Lucchesi, diretor de desenvolvimento industrial e economia da CNI, avaliou a política como muito positiva, destacando o potencial para aproveitar as oportunidades da descarbonização da economia. Ele enxerga a possibilidade de liderança do setor industrial brasileiro no desenvolvimento sustentável, incluindo a redução das desigualdades sociais. A CNI vê uma oportunidade significativa para a descarbonização das cadeias produtivas, especialmente na indústria verde, onde o Brasil possui vantagens para avançar.

O governo federal destinou R$ 300 bilhões para financiar o plano até 2026, incorporando R$ 194 bilhões adicionais de diversas fontes de recursos. A Nova Indústria Brasil segue as metas estabelecidas pelo Plano de Retomada da Indústria, entregue pela CNI ao governo no ano passado. 

*Imagem de capa: Depositphotos