Fabricante de turbinas Impsa negocia com interessados em ativos para pagar dívida

A fabricante de turbinas eólicas e hídricas Impsa já tem interessados em assumir o controle de seu negócio industrial no Brasil e na compra de sua fatia na empresa de usinas eólicas Energimp, visando quitar ao menos parcialmente dívidas de cerca de 4 bilhões de reais, informou à Reuters uma assessoria financeira contratada pela companhia.

A argentina Impsa se instalou no Brasil em 2006 por meio da subsidiária Wind Power Energia (WPE), que chegou a ser uma das líderes do pujante mercado local de turbinas eólicas, mas começou a enfrentar dificuldades financeiras em 2014, ano em que entrou com pedido de recuperação judicial e paralisou as atividades.

A negociação dos ativos, com a qual a Impsa poderia reduzir em mais de 1 bilhão de reais as suas dívidas, depende da aprovação do plano de recuperação, prevista para este mês. A solução para o caso pode evitar maiores problemas na entrega de equipamentos para o setor eólico no país.

"A aprovação será um sinal para que possamos sentar de maneira mais tranquila com os interessados... é um respaldo legal, estamos combinando a regra do jogo", afirmou a sócia da consultoria financeira G5 Evercore, Graciema Bertoletti.

Segundo ela, a empresa tem conversado com interessados nos ativos em nome da Impsa.

"Tem gente de fora e tem gente de dentro (do Brasil)... é uma situação complexa, uma dívida alta, mas tem interesse", acrescentou Graciema. Ela disse não poder abrir informações sobre os interessados por cláusulas de confidencialidade.

Segundo a consultora, somente após a aprovação de um plano de recuperação junto aos credores será possível tentar fechar negócio pelos ativos da empresa no Brasil e começar a pagar os débitos.

Entre os principais credores da companhia estão Deutsche Bank, com 417,5 milhões de dólares, Caixa Econômica Federal, com 271,2 milhões de reais, e a estatal de fomento à inovação Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), com 187,35 milhões de reais.


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Graciema destacou que as fábricas de equipamentos da WPE em Pernambuco foram bem avaliadas por investidores e o setor eólico tem mostrado força no Brasil, o que favoreceria uma solução para a situação da companhia.

Plano de reestruturação

A assembleia de credores da Impsa, que seria realizada em outubro de 2015, foi suspensa diversas vezes e agora está prevista para 23 de fevereiro.

No plano que será apresentado, a companhia propõe a entrada de novos sócios para tocar as fábricas de turbinas, com injeção de dinheiro novo, a venda da fatia na Energimp - uma parceria com o FI-FGTS - e uma reestruturação das dívidas que inclui descontos de até 85 por cento do valor nominal dos débitos.

A empresa também quer evitar o cancelamento de contratos de fornecimento de turbinas que já havia assinado para garantir a entrada de caixa.

"A WPE está buscando um novo operador com capacidade para reativar os contratos e gerar fluxo de caixa para pagar os credores... com um novo operador que tenha capacidade técnica, achamos que o plano faz sentido. Mas pegamos um cenário político e econômico turbulento... sem dúvida o contexto não ajuda", apontou Graciema.

Valores

Um laudo assinado pela consultoria Setape avaliou o patrimônio liquido da Energimp em 1,1 bilhão de reais.

No final de 2015, o FI-FGTS avaliou a fatia que possuía na geradora em 513,4 milhões de reais.

A Energimp detém 434 megawatts em eólicas em operação e mais de 200 megawatts a serem implementados.

Em seu plano de recuperação, a Impsa diz que aceitaria vender sua fatia no negócio por um mínimo de 270 milhões de reais à vista e mais 1,1 bilhão de reais em dívidas.

Já as fábricas da WPE foram avaliadas em 96 milhões de reais, mas o plano não estabeleceu um valor para o negócio, apenas a necessidade de um sócio que injete recursos.

Segundo Graciema, da G5 Evercore, o objetivo agora é acelerar as negociações com os credores e aprovar o plano, uma vez que a situação da companhia se deteriora cada vez mais com o passar do tempo.

Isso porque as empresas que haviam comprado máquinas da companhia estão fechando contratos com novos fornecedores ou desistindo dos projetos.

A própria Energimp tem usinas atrasadas à espera de turbinas da Impsa, e conforme o tempo passa fica sujeita a mais penalidades pelo descumprimento do cronograma.