Quando lixo é sinônimo de lucro

Laboratório da UFPR transforma resíduos industriais em materiais lucrativos e amigos do meio ambiente

Para o professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o russo Vsévolod Mymrine, "resíduos e rejeitos [industriais] não são considerados lixo ou materiais descartáveis, mas sim matérias-primas de alto valor".

Desde que chegou em Curitiba, em 2002, o professor Mymrine trabalha para transformar o que seria lixo e poluentes em produtos de valor comercial. Entretanto, já faz 40 anos que estuda formas de reaproveitamento, antes em seu laboratório na Rússia. "Já foi construido cerca de mil quilômetros de estradas [utilizando resíduos como matéria-prima], com propriedades mecânicas muito melhores e custos de 5 até 25 vezes menor do que as formas convencionais, e um aeroporto militar. Tudo isso na antiga URSS", explica.

Atualmente, no Laboratório de Tecnologia Ambiental (LTA), a Renault é a única empresa do setor privado que tem investido no projeto. Os estudos podem ajudar os estabelecimentos que estão enfrentando problemas ambientais a se tornarem mais ecológicos, sem abrir mão do lucro. Um dos objetivos dos estudos é o desenvolvimento de tecnologias e métodos capazes de produzir novos materiais favoráveis ao meio ambiente e economicamente viável.

Alguns dos materiais estudados pelo LTA para ser roduzido a partir de resíduos industriais são cerâmicas, refratários, concretos, argamassa, isolantes térmicos e acústicos, bases de estradas, aeroportos, bases de aterros de lixo municipal e industrial, núcleo de represa e novas variedades de combustíveis com alto poder calorífico.

Os produtos resultantes de reutilização possuem lixiviação de metais pesados abaixo das exigências legais definidas nas normas brasileiras e internacionais. Praticamente todos os dejetos podem ser reutilizados, passando por resíduos siderúrgicos, de construção de máquinas, rejeitos municipais, da construção e demolição, de produção e reaproveitamento de papel, papelão e celulose, de mineração e elaboração, petroquímica, rejeitos químicos e rejeitos agrícolas.

A siderurgia, por exemplo, produz 12 milhões de toneladas de escória por ano, só no Brasil. Muito desse material poderia ser reutilizado para construção de bases de estradas, aeroportos, núcleos de represas, entre outros fins mais lucrativos que o lixo.

Entre as vantagens da utilização destes métodos estão a redução dos aterros industriais, a diminuição das multas ambientais e o uso de matéria-prima de baixo custo. O que, consequentemente, gera lucro para as empresas, diminui o preço final para o consumidor, conscientiza a população sobre os problemas do lixo para o meio ambiente, ajuda na limpeza de aterros e cidades, entre outras vantagens que englobam questões ambientais, econômicas, sociais e educativas.

Para o professor "infelizmente poucos empresários entendem que o segundo produto de suas empresas - os resíduos industriais - é um material de muito valor, possível de se usar com alta eficiência econômica". Mas o problema, ainda vai além, passando pela legislação e pela falta de incentivo para este tipo de uso dos rejeitos. "A legislação atual do Brasil também não cria a motivação para o aproveitamento destes produtos. Por isso a natureza já sofre demais por causa das bilhões toneladas de contaminantes produzidas pelas empresas do país. A quantidade destes resíduos cresce muito rápido e um futuro próximo é muito triste" completa.


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