por Carlos A Dariani    |   10/08/2021

ESG: O que você precisa saber

Os investimentos que são acompanhados com a sigla “ESG” são o hit do momento, neste artigo vamos explorar como ele afeta as empresas, o mercado e as pessoas físicas e como ele funciona.

Os investimentos que são acompanhados com a sigla “ESG” são o hit do momento, desde que Larry Fink o CEO da Blackrock, uma das maiores gestoras de ativos do mundo, comunicou no início de 2020, aos clientes e aos CEOs de suas empresas que o futuro estaria atrelado a um novo padrão de investimento, que tivesse compromisso com sustentabilidade.

Além de provocar seus concorrentes, outras gestoras gigantes, teve o poder de influenciar o mercado global e o conceito, que já existia, se espalhou com uma velocidade incrível.

O ESG - Enviromenmtal, Social and Governance na sigla em inglês - dispensa maiores explicações, pois essas três letras já são muito fortes, meio-ambiente, social e governança, na tradução livre.

Todas as pessoas gostariam de viver em um mundo em que as empresas tivessem respeito e cuidassem do meio ambiente, fazendo uma exploração sustentável e adequada dos recursos naturais. Igualmente, todos apoiariam empresas que pensam e agem para modificar socialmente seu entorno, que façam a adesão de políticas que atinjam seus colaboradores, promovendo igualdade e oferecendo condições dignas de trabalho e renda. Por fim, seria um sonho viver nesse mundo em que as empresas e governos tenham claro e definido um sistema de governança, que ofereça regras e normas de condutas que conduzam a tudo que dissemos anteriormente e a produtividade e lucratividade.

No entanto, precisamos lidar com a realidade, entender que não se trata de um posicionamento ideológico e puro, onde as adesões a estes padrões se dariam a qualquer custo.

Esse conceito de ESG é um upgrade do “Balanço Social” nascido no final dos anos 90 e que, de fato, não foi para frente, poderíamos dizer que “não pegou”, pois não estava claro qual o prêmio.

É verdade que alguns empresários e organizações se dedicam a estas causas de forma bastante sincera, chegando a entregar parte de seus resultados, no curto prazo para isso acontecer, mas não é assim com a maior parte delas.


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É importante entender o atrativo do ESG e, desde já, não há nenhum julgamento de valor, precisamos entender e conhecer como tudo isso funciona.

Para determinar quais são os padrões ESG e quais empresas os atende, foram criados alguns índices por bancos e corretoras de renome, da mesma forma algumas agencias de certificação criaram suas fórmulas e metodologias que classificam as empresas em um ranking ESG.

No Brasil a B3 (Bolsa de Valores) utiliza o índice da S&P (Stand & Poor) que, de saída, exclui algumas empresas por não atender a padrões de sustentabilidade, como indústria de armas e tabaco.

As empresas que acessam e se candidatam a esse padrão ESG são, principalmente as S.A, pois seus dados são abertos, elas dão publicidade a tudo que fazem e é possível acompanhar de forma objetiva as suas realizações.

As vantagens de constar em boa posição em uma classificação ESG são várias, há um reconhecimento pelo mercado, há propaganda positiva, pode ser utilizado como instrumento de captação e retenção de talentos, principalmente das novas gerações e o mercado está disposto a pagar um prêmio para essas corporações.

Os investimentos e novos projetos nas grandes empresas são constantes e, portanto, a necessidade de recursos e o mercado de capitais oferece condições de captação de recursos a um preço melhor que o mercado.

Com o critério ESG, essas empresas com capital aberto e que já vem agindo com padrões de sustentabilidade reconhecidos, podem obter recursos com uma redução de custos, é esse prêmio que agora fica claro e que deve levar a adesão de muitas empresas.

Para obter recursos a um custo mais baixo, a empresa deve ter um histórico de atuação e resultados com o tema e se comprometer a alcançar determinadas metas do ESG no médio prazo.

A Suzano Papel e Celulose emitiu bônus de US$1 bilhão, as “sustainability-linked notes” se comprometendo com redução no consumo de água na produção de papel e aumentar a participação de mulheres nas funções de chefia e gerência. Esses títulos que vencerão em 2032, foram captados com um juros anual de 3,28% enquanto os juros regulares seriam, possivelmente, 3,40%.

A produção de papel demanda muita água, que é um recurso escasso e caro.

A empresa ao consumir menos água no processo de produção de papel e celulose, conseguirá ter um custo menor, além de estabelecer padrão de produção superior o que poderá aumentar o valor percebido pelo seu produto e deve gerar resultados melhores aos acionistas.

A lógica subjacente do ESG é simples assim, incorporar novas e modernas tecnologias que permita o menor consumo de matérias primas, ou um consumo sustentável, no processo produtivo e ainda assim aumente a produção. Aumentar a diversidade nos postos de gestão, faz crescer a forma como os problemas e as soluções, são vistas e deve trazer igualmente vantagens. Ter uma Governança que dê transparência à gestão, atenda aos padrões, legislação e certificações determinados pelo setor são fundamentais.

Não imagine que as empresas e corporações com esse selo tem um compromisso com um mundo sustentável a qualquer custo, os acionistas querem também aumento de lucratividade e não há nada errado nisso.

Outro exemplo é a Raizen, que está fazendo seu IPO nos próximos dias, vem para o mercado com uma classificação de “carbono free” com uma oferta que pode chegar, ou passar, R$ 100 bilhões. Inevitável a pergunta: Como uma empresa que distribui e comercializa combustíveis (postos Shell) pode entrar nesse seleto grupo?

Com um faturamento de R$ 115 bilhões, ela além de produzir álcool é uma das maiores geradoras de energia de bagaço de cana e é a mais adiantada na produção de etanol de 2ª geração, a partir da celulose de cana, tem excelente padrão de governança e neutraliza sua pegada de carbono.

Nem tudo são flores, a sociedade com a Shell não é vista com naturalidade e o preço pode ser um desconto nos valores das ações.

Os padrões de avaliação do ESG adiciona, sem dúvida, fatores muito positivos nas corporações à medida que as estimula a ter um comportamento mais sustentável. No entanto, elas não o fazem pelo amor ao verde ou pela crença na diversidade como instrumento de mudança, ou pela adoção de padrões de Governança que respeitem todos os stakeholders somente.

A adoção de novas tecnologias que demandem menos insumos, gerem menos rejeitos, ou o tratamento desses rejeitos, são a chave para que a empresa, dependa menos de commodities e seja mais lucrativa.

Em relação à diversidade dos colaboradores estão criando uma cultura empresarial forte com apelo ao pertencimento e dessa forma receber em troca de boas políticas, maior grau de engajamento, o que faz uma tremenda diferença. Ações de atenção a comunidades do entorno, reforçam essa política, emprestam respeito e geram uma tremenda e positiva propaganda.

A Governança deve receber o cuidado que vai desde a composição do Conselhos e dos Comitês com diversidade na participação de membros, até o respeito aos pequenos acionistas, também é premiado na hora de obter recursos.

No entanto, essa classificação tem algumas flexibilidades que não estão muito claras, a Barry-Callebaut é uma grande indústria de chocolates Belga com mais de EUR 2 bilhões de faturamento que se empenha em ações de sustentabilidade e está muito bem classificada no ranking ESG, como baixo risco. No entanto o cacau que ela utiliza tem origem na África, mais especificamente na Costa do Marfim e Ghana onde se estima que haja mais de 2 milhões de crianças trabalhando nesta indústria. A empresa reconhece isso e se comprometeu a eliminar o trabalho infantil até 2025, alega que a pobreza e fatores culturais atraem as crianças para esse trabalho, mas que está trabalhando com os Governos, comunidade e líderes locais para erradicar o trabalho infantil e não há razão para acreditar no contrário.

Será que essa mesma flexibilidade seria dada a todas as indústrias que têm na sua cadeia trabalho infantil?

Outra curiosidade é a classificação de bancos, vários deles tem classificação média, como o Banco do Brasil, por exemplo. No entanto, os grandes bancos globais financiam empresas de armamento, financiam empresas de tabaco, tem papéis de Governos não democráticos, ou que não protege a integridade e igualdade de mulheres e outras minorias, não respeita direitos humanos. Alguns até estão sob investigação sobre lavagem de dinheiro, mas criam carteiras ESG e tem classificação média.    

O conceito é bom, mas não é linear nem simples, imagine se alguns bancos fossem seguir 100% os conceitos de ESG e outros não, os primeiros iriam fazer transações exclusivamente com empresas com boa classificação ESG a um custo menor e supostamente teriam uma lucratividade menor, embora, também supostamente, os indivíduos adorassem investir nestes bancos.

Os bancos que não seguissem 100% dos conceitos de ESG seriam os fornecedores de recursos para as empresas igualmente fora desta classificação e, portanto, a oferta seria mais onerosa, pois haveria menos concorrentes a oferecer crédito a essas empresas. Ao final, esses bancos teriam uma rentabilidade maior, supondo que a qualidade de gestão e disponibilidade de recursos fosse equivalente.

Certamente, veremos que algumas empresas aqui e no exterior, não cumprirão suas metas, haverá alguns escândalos, alguns interesses inconfessáveis serão descobertos, mas é um bom começo e é bom que as empresas médias e grandes que ainda não estão classificadas comecem a pensar nisso, com calma, planejamento e dentro de suas possibilidades.

Para as pessoas físicas, que querem investir em fundos e empresas que contribuam para um mundo melhor, selecionem bem e se preparem para alguma decepção, mas não desistam, são essas pequenas ações que ajudam a mudar o mundo.

O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.

Carlos A Dariani

Perfil do autor

Economista, Diretor Executivo da Moneyus Consultoria que atua na área financeira, governança e planejamento para empresas.