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Samanta Luchini    |   17/11/2020   |   Desenvolvimento Humano   |  

Pensamento Crítico: você pensa sobre a sua forma de pensar?

O pensamento crítico consiste em analisar e avaliar a consistência do próprio raciocínio, em especial as afirmações que nos são apresentadas como verdadeiras.

Uma das coisas que faço com frequência é analisar o perfil de competências que assegura a empregabilidade e a relevância profissional. Considero essa análise muito importante pois com a velocidade com que as mudanças acontecem, ter consciência sobre as capacidades necessárias para o seu futuro profissional é um passo fundamental para poder traçar metas de crescimento e desenvolvimento.

Antes mesmo do chacoalhão que a pandemia do Corona Vírus deu no planeta, nós já estávamos vivenciando um período de intensas transformações. A chamada 4ª Revolução Industrial, trouxe processos complexos e crescentes de automação e digitalização nas empresas, impondo uma necessidade de mudança de comportamento e a conquista de novas habilidades. Isso tudo para que possamos ser capazes de manter nossas atividades, nossos negócios e de projetarmos um futuro de perspectivas positivas, mesmo diante de um cenário de grande incerteza e pouca previsibilidade.

Todos os anos, o Fórum Econômico Mundial publica o relatório The Future of Jobs, que traz as tendências do mercado de trabalho em nível global. De acordo com essas tendências, estima-se até 2025, a automação e o compartilhamento do trabalho entre humanos e máquinas cancelarão 85 milhões de empregos no mundo. Mas como para tudo na vida existe um lado bom, estima-se também que 97 milhões de novos empregos surgirão em áreas como saúde, tecnologia e criação de conteúdo.

Este relatório publica também uma lista com as 10 competências consideradas imprescindíveis, para que estejamos à altura desse futuro, que está chegando de forma mais acelerada do que imaginávamos. As competências tidas como valiosas até o ano 2022 são: 1) Pensamento analítico e inovação. 2) Aprendizagem ativa e estratégias de aprendizagem. 3) Criatividade, originalidade e iniciativa. 4) Design e programação de tecnologia. 5) Pensamento crítico e analítico. 6) Solução de problemas complexos. 7) Liderança e influência social. 8) Inteligência emocional. 9) Raciocínio, resolução de problemas e ideação. 10) Análise e avaliação de sistemas.


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Na conversa de hoje, quero te convidar para uma reflexão sobre a competência que aparece em 5º lugar, e que nas versões anteriores desta publicação sempre se manteve entre as primeiras posições: o pensamento crítico e analítico.

E faço esse convite não apenas pensando no futuro do trabalho ou na sustentabilidade do seu perfil profissional. Faço isso pensando no presente mesmo, tendo em vista a necessidade urgente de sabermos filtrar e fazer um uso consciente e discernido da quantidade avassaladora de informação nos aborda todos os dias.

Com certeza você já observou que, basta mencionar uma palavra na internet ou curtir uma publicação que seja convergente ao seu modo de pensar e pronto! A “informágica” está feita! Os algoritmos são ativados e você passa a ser alimentado regularmente por conteúdos correlatos a essa informação, que validam sua forma de pensar e de ver o mundo e podem influenciar a construção das suas opiniões, argumentos e decisões.

É como se os algoritmos criassem uma espécie "bolha informacional” a partir do que você faz quando está on-line. Um exemplo real da potencialização daquilo que chamamos de viés de confirmação. Já ouviu falar?

O viés de confirmação se manifesta quando uma pessoa procura, seleciona e utiliza informações para confirmar suas próprias ideias, verdades ou crenças, desconsiderando todas as demais informações que se mostrarem contrárias. Esse viés faz com que as pessoas parem de coletar informações quando as evidências encontradas confirmam seus próprios pontos de vista, o que pode levar a ideias preconcebidas que não são baseadas na razão, na realidade ou no conhecimento real.

Além disso, a neurociência já comprovou que existe uma circuitaria (caminho neural, sequência sináptica) no cérebro que nos faz evitar as coisas que consideramos perigosas ou que, de alguma forma nos causam desconforto. Ela funciona de modo a manter ativo nosso instinto de preservação e assim sendo, “nos fecha” para aquilo que julgamos perigoso ou desagradável.

Por isso desenvolver e aprimorar o pensamento crítico é tão importante. Só assim podemos analisar de maneira consciente e realista tudo aquilo que lemos, escutamos ou vemos. E quanto antes isso acontecer, melhor.

O pensamento crítico consiste em analisar e avaliar a consistência do próprio raciocínio, em especial as afirmações que nos são apresentadas como verdadeiras, mantendo a consciência de que nosso raciocínio é falho, limitado e enviesado. Conseguir fazer uma pausa e reavaliar aquelas suposições que fazemos rápida e implicitamente diante de uma determinada informação ou situação.

Envolve a habilidade de pensar sobre o próprio pensamento, coletar e avaliar evidências, avaliar a lógica dos próprios argumentos e das próprias referências, fazer as perguntas certas, abordar um problema através de diversos ângulos para tomar uma decisão coerente.

Trata-se de uma forma de pensar que nos remete à abordagem dos grandes filósofos, como Sócrates (469 a.C. – 399 a.C.) por exemplo, que valorizava o não saber e estimulava as pessoas a chegarem ao conhecimento por meio do questionamento.

O pensamento crítico ajuda a formar pessoas mais conscientes de sua realidade e mais capacitadas a atuarem como agentes de mudança; estimula uma postura curiosa e investigativa, que é fundamental para o aprendizado; cria ambientes favoráveis à pesquisa e à inovação; ensina as pessoas a estruturarem suas próprias opiniões, tornando-as menos suscetíveis à manipulação e às fake news.

Para avançar na direção dessa competência existem muitas estratégias e até mesmo ferramentas específicas, mas a principal delas é o hábito de obter informações a partir de diferentes fontes.

Pense por um minuto nas suas fontes de informação. Todas elas: livros, revistas, artigos, sites, blogs, filmes, séries, redes sociais, pessoas, etc.

Elas são diversificadas? Elas contestam ou validam a sua forma de pensar? Elas te trazem dúvidas ou certezas? Permitem que você faça novas perguntas e conexões? Estimulam a sua curiosidade para descobrir outras coisas?

Estar exposto a essa bolha informacional nos faz consumir sempre mais do mesmo e com isso, nossa forma de pensar acaba ficando viciada.

Por isso, convido você a quebrar esse padrão e fazer disso um hábito.

Leia livros de áreas diferentes da sua ou busque outros autores falando de um assunto que você já conhece ou domina, a partir de um ponto de vista diferente. Faça um curso rápido ou introdutório em qualquer tema diferente da sua formação original e depois registre seus insights.

Converse com uma pessoa cuja cultura traga premissas diferentes daquelas em que você acredita e depois faça uma análise dessas duas vertentes.

Analise a plataforma de governo de um partido que faz oposição ao seu partido político preferencial. Ou procure conhecer a doutrina de uma religião diferente da sua.

Assista a um filme ou a uma série cuja trama seja oposta à sua preferência.

Siga o perfil daquelas pessoas que contestam diretamente as suas convicções e que, geralmente, te fazem sentir um pouco incomodado.

Busque notícias em outros lugares, pesquise coisas diferentes, visite outros sites, faça novas conexões. Alimente sua mente de forma diversificada e também divergente.

Como brilhantemente colocou F. Scott Fitzgerald, considerado um dos maiores escritores americanos do século XX, “o teste para uma inteligência excelente é a capacidade de manter duas ideias opostas na mente ao mesmo tempo e ainda preservar a capacidade de agir.”

Um grande abraço e até breve...

O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.
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Samanta Luchini

Mestre em Administração com Foco em Gestão e Inovação Organizacional, Especialista em Gestão de Pessoas pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS e em Neurociência pela Unifesp.
Psicóloga pela Universidade Metodista de São Paulo.
Executive & Life Coach em nível Sênior, com formação internacional pelo ICI (Integrated Coaching Institute) em curso credenciado pela ICF (International Coach Federation).
Professora convidada dos programas de pós-graduação da FGV/Strong, Universidade Metodista e Senac, dos programas de MBA da Universidade São Marcos e Unimonte, e dos cursos FGV/Cademp, para a área de Gestão de Pessoas.
Professora conteudista do Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos – UNIFEOB.
Formadora de consultores e treinadores comportamentais.
Atua há mais de 23 anos com Gestão de Pessoas em diversas empresas e segmentos, dentre elas Wickbold, Bridgestone, Bombril, Solar Coca-Cola, Porto Seguro, Grupo M. Dias Branco, Prensas Schuler, Arteb, Grupo Mardel, Tegma, Pertech, Sherwin-Williams, Grupo Sigla, Unilever, Engecorps, Nitro Química, Grupo Byogene, Netfarma, NTN do Brasil, TW Espumas, Ambev, Takeda, Pöyry Tecnologia,
Neogrid, Scania, Kemp, Ceva Saúde Animal, Embalagens Flexíveis Diadema, Sem Parar, CMOC, Camil e Toyota.
Em sua trajetória profissional e acadêmica, já desenvolveu mais de 27.000 pessoas, com uma média de avaliação superior a nota 9,0 em todos seus treinamentos.
Palestrante, consultora de empresas e autora de diversos artigos acadêmicos publicados em congressos e revistas.
Colunista da revista Manufatura em Foco – www.manufaturaemfoco.com.br


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