por Emanuel Pessoa    |   08/05/2020

Como o Brasil pode atrair investimentos em meio à retração mundial?

Especialista aponta setores brasileiros que podem se sobressair no pós-crise e países que devem voltar os olhos para cá

Segundo a projeção mais recente do Fundo Monetário Internacional, a economia mundial terá a maior retração desde a crise de 1929. Isso em um ano em que a expectativa era de crescimento. Reflexo do novo coronavírus e seus desdobramentos na saúde, na política e na rotina das empresas. Mas o Brasil tem alternativas de recuperação e de captação de recursos estrangeiros no pós-crise. É o que garante Emanuel Pessoa, Consultor em Política Econômica Internacional e Advogado especialista em Negociação, Contratos, Inovação e Internacionalização de Empresas.

De acordo com o profissional, um horizonte razoável para a retomada significativa de investimentos no país quando acabar o período de isolamento social é de pelo menos 90 dias. "O tempo vai depender de como a crise vai se encerrar. Se ela acabar porque descobriram um remédio eficaz ou uma vacina, os investimentos voltarão rapidamente. Mas se ela chegar ao fim por conta do achatamento da curva, investir em mercados externos vai seguir sendo um risco maior do que normalmente seria", explica. "Na economia, as pessoas reagem fortemente às expectativas e, sem um remédio ou vacina, vai permanecer o temor de se perder investimentos ou de mais desvalorização cambial", acrescenta.

Definir o montante que o Brasil precisará para se reestabelecer no pós-crise é difícil. Mas para se ter uma ideia, segundo o consultor, apenas em infraestrutura, o país precisaria de cerca de R$ 350 bilhões por ano, para atingir a média mundial de 5% do PIB em investimentos nessa área. Hoje, isso varia em torno de 1,5% do PIB. E quem pode ajudar o Brasil com isso? "Sem dúvidas, a China e os Estados Unidos. Tudo indica que pós-coronavírus esses dois países entrarão em uma competição acirrada por áreas de influência, acelerando os investimentos externos pelo mundo. O Brasil, particularmente, vai seguir sendo um forte destinatário desses recursos", afirma Emanuel. Ele explica que Alemanha e França deverão focar na União Europeia e o Reino Unido na situação interna já que se vê em meio ao Brexit. 


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De acordo com o especialista, o câmbio brasileiro desvalorizado e as oportunidades que o estrangeiro pode encontrar aqui estimulam o investimento externo. Ele cita 5 áreas que podem atrair o capital de fora:

Farmacêutica

"O Brasil tem a vantagem de ter matéria-prima para o desenvolvimento de remédios. O nosso clima é favorável a uma variedade incrível de insumos e isso atrai o olhar das indústrias do mundo todo. Principalmente depois de uma pandemia como a que vivemos com o novo coronavírus, os países devem investir ainda mais na área da saúde e na pesquisa de medicamentos. Já temos laboratórios de referência e uma indústria instalada. Com a maior atenção à necessidade de se fazerem pesquisas sobre princípios ativos e remédios, o Brasil tem uma imensa vantagem competitiva".  

Saúde

"Os dados do SUS, o Sistema Único de Saúde, são valiosos. Com exceção daqueles que revelam informações pessoais dos pacientes ou sua intimidade, eles são públicos e disponibilizados pelo Governo Federal. Isso significa que é possível saber quantos exames de cada tipo foram feitos em cada hospital, quantos e quais remédios foram consumidos, quantos casos de cada doença foram registrados, etc. Ao cruzar esses dados com os levantamentos do IBGE sobre a população brasileira, tem-se em mãos informações importantes para estudos de inteligência de mercado. Isso deve atrair muitos investimentos em breve ao setor de prestação de serviços de saúde no Brasil. 

Alguns setores estratégicos da indústria deverão ser estimulados por diversos países, especialmente aqueles ligados a suprimentos e equipamentos médicos. O nosso país já esteve entre um dos maiores parques industriais do mundo. Embora tenha se desindustrializado fortemente nos anos 90 e 2000, por conta de sucessivas ondas de sobrevalorização do Real, a existência passada de um parque industrial forte, ainda que agora defasado, implica na existência de capacidade instalada, em uma vocação industrial subutilizada e, em diversos setores, um acúmulo de capital intelectual ainda disponível”. 

Alimentos e matérias-primas

"A crise tornou ainda mais evidente a necessidade de os países terem capacidade de alimentar a população em situação de crise e de ter acesso às matérias-primas para a sua produção doméstica, sendo mesmo uma questão de segurança nacional. Todavia, os países importadores líquidos de comida não têm condições de desviar sua produção doméstica para a produção agrícola, seja porque não dispõem de condições naturais ou porque representaria uma forte perda para a atual organização de suas economias. Assim, os investimentos devem se intensificar para garantir a segurança alimentar dos países investidores, principalmente por conta da China, sendo facilitados pela mudança na legislação sobre aquisição de terras por estrangeiros, além de aumentar seus estoques de matérias-primas. O escoamento desses produtos vai demandar fortes investimentos em infraestrutura e logística, barateando o seu custo de aquisição". 

Telecomunicações

“A disputa sobre a rede de 5G a ser instalada (com a Huwaei do lado chinês) deve promover uma corrida de investimentos nos mercados mais populosos do mundo. Isso inclui o Brasil”. 

Startups

"No que diz respeito às startups, aquelas relacionadas a educação (edutechs), logística (logitechs) e saúde vão se destacar, dado que embora muitas experiências com EAD tenham sido frustrantes neste período de isolamento social, especialmente para pais de crianças mais jovens, elas também foram proveitosas para treinamentos e aquisição de competências. Além disso, a crise evidenciou a necessidade de termos uma melhor logística interna, adaptada a suprir necessidades imediatas e geograficamente mais próximas, assim como a importância de se cuidar da saúde passou a ser ainda mais prioritária para todos".

O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.

Emanuel Pessoa

Mestre em Direito pela Universidade de Harvard, Doutor em Direito Econômico pela Universidade de São Paulo e Certificado em Negócios de Inovação pela Stanford Graduate School of Business. É vice-presidente do Harvard Club of Brazil e advoga em sua escritório com sede em São Paulo, atendendo tanto no Brasil quanto no exterior. Com seu trabalho, Emanuel Pessoa ajuda profissionais liberais e empresários a negociarem contratos e a vencerem disputas comerciais. O advogado já obteve ganhos superiores a R$1 bilhão para os clientes, direta ou indiretamente, em negociações empresariais e brigas legais.