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O novo networking e a Indústria 4.0

Por: Ricardo Jose Rabelo      04/05/2020

O Mundo não vai voltar ao estado que estava pré-Covid. O Mundo, mesmo “confinado”, já mudou. Apenas os que estão na sua zona de conforto acham que conseguirão se recolocar no mundo dos negócios na realidade pós-Covid exatamente onde estavam antes, como se o mundo tivesse feito apenas um pause.

O fato concreto é que muitos aproveitaram a crise para observar, aprender e mudar. Tornaram-na uma oportunidade. E quando as coisas voltarem ao “normal”, já estarão lá na frente, num Mundo onde a velocidade da inovação faz toda diferença.

A Covid mostrou que o se tornar “essencial” é o que faz a diferença. Mas o que leva o seu produto, serviço, você mesmo, ser de fato essencial para seus clientes ou usuários, ou até mesmo para a sociedade ?

A concorrência é tão grande mundo afora que não se consegue mais ser “essencial”, mesmo que num mercado regional, sem uma nova visão e sem que o cliente perceba os benefícios dela, sem que ele sinta prazer com ela. Então você precisa buscar alguma disrupção. De negócio, de processo, de marketing, de produto, de decisão, de tecnologia, de inovação, de automação, de conhecimento, etc.

Quanto mais eu estudo e trabalho com Indústria 4.0, com inovação, com automação, com redes colaborativas, com pequenas e médias empresas, mais eu percebo que as pessoas são o principal elemento de transformação digital e de disrupção.

Indústria 4.0 tem três grandes objetivos balizares: tornar a empresa mais ágil e resiliente para introduzir e absorver novos modelos de negócios; ser mais eficaz na criação e no lançamento de novos e inovadores produtos e serviços; e ser mais eficiente e sustentável na operação do negócio.

O colocar isso em prática é um tremendo desafio, leva tempo, é um processo em si, repleto de tentativas-e-erros. É uma mudança de mentalidade acima de tudo, de como enxergar o que é uma empresa, o que é um negócio nesta primeira parte do século XXI, e de como gerenciá-lo. Não existe uma “bala de prata” para isso. Mas elementos essenciais. Na minha opinião, o mais essencial deles são as pessoas.


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Sim, este texto pode ser visto como um de “auto-ajuda”. Mas não no sentido “esotérico”. Mas muito a ver, acredito eu, com a realidade concreta da sua empresa, com onde você quer chegar com ela, com as transformações que você quer realizar com ela. Afinal, por trás da marca, da fachada dos processos, computadores e tecnologias da sua empresa, estão as pessoas.

Mas como ter isso ? Networking. Mas não o networking usual, que muitas vezes visa basicamente vender para o outro, criar clientes, que tem por vezes muitas segundas intenções disfarçadas de bajulações e relações humanas superficiais. Não. Um networking diferente, no qual as pessoas sejam parceiras da sua caminhada rumo ao cume da montanha, onde uma agrega valor à outra, aquelas que genuinamente lhe fazem ser melhor.

Aí fiquei pensando num termo para tentar expressar isso, e me surgiu “networking 4.0”. Fui ver na Internet e vi que, conceitualmente, networking significa “construir uma rede de contatos profissional para trocar experiências e informações e potencializar oportunidades através de relacionamentos”. Não satisfeito com essa definição para o que eu queria dizer, busquei uma associação com Indústria 4.0. Aí descobri que já existe o termo networking 4.0, aparentemente cunhado pelo empreendedor e colunista brasileiro Marc Tawil. Ele associa isso a um “networking mais humanizado, mais genuíno, mais durável, mais escalável e mais eficaz1. Embora eu concorde com ele, o foco que eu queria dar com isso é um pouco diferente.

As soluções necessárias, inovadoras e disruptivas para o mundo atual são cada vez mais multidisciplinares, complexas, requerem lidar com diferentes pontos de vista, mil questionamentos, enfrentar várias coisas desconhecidas, etc. Praticamente impossível uma pessoa/empresa sozinha conseguir ter isso. Colaboração e Troca, Compartilhamento, de forma sistêmica, “endêmica”, como parte do processo normal da empresa, e não apenas em casos excepcionais. Esta é a essência do networking 4.0. O mundo das pessoas e das empresas cada vez mais funcionando em e como Rede, quântico, e não como uma mera somatória cartesiana de individualidades.

Isso porque até então bastava você sozinho tentar subir uma montanha com uma boa bota e um GPS. Você chegava apenas na metade da montanha e sua visão (de negócios) era suficiente. Ou só conseguia subir montanhas baixas. O problema é que isso não é mais suficiente ! Disrupção exige como que escalar montanhas mais altas para abstrair, ter novas visões, enxergar por cima da nuvem de conceitos, modelos e coisas que já existem e que adotamos quase sem perceber ou questionar, como que zumbis digitais. Somente essa abstração lhe permite ver além da complexidade das coisas e ter a visão simples necessária que uma disrupção requer

Então qual deve ser o “upgrade” para se fazer um networking 4.0 ? Os seus parceiros de expedição dessa escalada. Cada um com suas habilidades, e que apenas juntos conseguem superar suas limitações individuais. E só juntos conseguem chegar no topo da montanha. E ao chegar no topo, cada um com sua visão (dos seus negócios mesclado com a sua experiência profissional e de vida) poderá inspirar o ar que somente quem experimenta, erra, tenta de novo, se arranha, etc., consegue sentir, aprender, e ter aquela sensação indelével, que crava na alma. E é o oxigênio desse ar que transforma sua mente, o tal do mindset, que lhe potencializa perceber o que é ser ou gerar algo essencial (para o mercado, para a sociedade, para sua família, para você mesmo). E dessa descoberta da essencialidade, pela busca então da nova visão (disruptiva), que emerge o seu real propósito ou o da sua empresa. E aquilo que possivelmente a fará ter sucesso e lhe trazer realização.

Esses parceiros não precisam ser famosos “gurus”, donos de outras empresas de sucesso, etc. Até podem ser e, se der, ótimo ! Mas lembre-se que você tem grandes parceiros bem ao seu lado: seus colaboradores, algumas parcerias de negócios legais, e potenciais muito interessantes junto com startups de ecossistemas locais. Aqueles que estão ao seu lado, leais, no dia-a-dia, “na alegria e na tristeza”. Eles são os seus maiores ativos ! É com eles que se constrói diariamente a confiança necessária para um segurar a mão do outro em momentos difíceis na escalada. Mas só se consegue tê-los parceiros se você os trata como tal. Muitos empresários continuam preocupados em controlar a hora que o colaborador chega. Vivem ainda no mundo do controle, taylorista, quantitativo, da eficiência operacional, do zero erro, da pouca diversidade, da hierarquia, do “eu mando e vocês cumprem”, com medo de os ajudar a melhorar por receio de os perder para o concorrente, com insegurança para fomentar a criação de lideranças.

Mas como ter coragem para subir essa montanha tão alta, se desprender para essa aventura, se só se fica no “operacional” ? Tantas contas para pagar, tantas pessoas para controlar, tantos clientes para atender ... É impossível você chegar ao cume da montanha com isso tudo na bagagem. E ser empreendedor passa por isso também: por arriscar, por acreditar num sonho, se desprender, inclusive e principalmente das suas visões antigas, dos seus modelos mentais formatados, e quase imutáveis de tão enferrujados. Até porque muitos ainda acham que mudar pensamentos é uma fraqueza. Vão morrer abraçados ao timão do seu Titanic.

Mas qual sonho ? O seu, oras ! Mesmo que ele tenha sido eventualmente idealizado por outros, mas no qual você acredita ! A questão é que o mundo virou refém dos sonhos e visões dos outros (!), de “meia dúzia” de grandes corporações empresariais. Mas esse não é o seu sonho ! Acabamos por ser papagaios, repetindo supostos mantras, rótulos da moda e um monte de palavras chiques em inglês que sequer acreditamos ! E por que não acreditamos ? Porque simplesmente não ecoam na nossa alma, não fazem o nosso coração bater mais forte, não fazem nossos olhos brilharem. Em suma, não nos trazem felicidade. Só nos movem por obrigação. Quem pode ser feliz se o seu dia-a-dia é viver o sonho dos outros ou as realidades forjadas pelos outros ? Será que não passa também por aí a epidemia mundial de depressão, de desalento, de infelicidade generalizada com o “sistema”, que vem assolando o “mundo moderno”, e que é “mil vezes” mais grave que a Covid-19 ? Será que nós e nossas empresas não podem sim ajudar a criar novas realidades para o mundo atual (que se convencionou chamar de 4ª. Revolução Industrial), mais saudáveis à vida, às relações humanas e ao planeta?

Olhem o que era a Google há 30 anos, como mero exemplo. Olhem quais das 100 maiores empresas do mundo de 50 anos atrás existem ainda hoje. Por que as maiores empresas atuais se tornaram o que são hoje ? Porque acreditaram num sonho, ouviram seus corações, imaginaram novas realidades, tiveram a coragem de escalar a montanha, e a ter a constante ousadia de se perguntarem “e se” ou “por que não” ?

Mas quais são então os “equipamentos” que se deve levar nessa expedição do networking 4.0? O espírito empreendedor e o conhecimento. 

Três tipos de conhecimento. As escolas clássicas de pensamento ocidental estimulam basicamente apenas dois: 1) as hard skills, que é o conhecimento formal (saber e saber fazer) e que pode ter a apoio de ferramentas ou plataformas tecnológicas de social networks 4.02; 2), e mais recentemente as soft skills (saber ser). 
Importantes ? Sim, super ! Suficientes ? Não mais. Pois são essencialmente yang, de fora para dentro; 3) Falta a pitada tão valorizada milenarmente na cultura hindu/oriental, e no ocidente quase que depreciada: o que chamo de intra skills (o ter a consciência do seu ser), essencialmente yin, de dentro para fora. É essa pitada, complementar, única (!), que faz a conexão “IoT”, “tempo-real”, a “liga” com o seu coração. Que o faz levantar com energia vital todos os dias, com desejo de cada vez mais escalar montanhas, renovar seu propósito, e fazer novos parceiros de expedição.
É como se conseguíssemos juntar a ideia da mente, corpo e espírito sãos. Leonardo da Vinci, por muitos considerado o mais disruptivo dos engenheiros da História, já falava sobre isso.

Particularmente, eu considero que um tipo adicional de conhecimento tem um potencial incrível de melhor preparar sua mente para ter visões disruptivas: as artes. Pintura, teatro, música, etc. Coisas que fazem você descobrir, resgatar ou exercitar outras capacidades suas, que propiciam experimentações e novas percepções da realidade que podem fazer a diferença, mesmo que de forma tácita, no olhar disruptivo sobre o mundo quando você estiver no cume da montanha.

Todos que já tentaram subir uma montanha sabem que têm que se preparar. Quem já fez musculação, por exemplo, sabe que a cada variação de série se “descobre” que tinha músculos “novos”. Quero dizer com isso que o fazer networking 4.0 e chegar ao cume da montanha não ocorre de um dia para o outro e não em uma primeira tentativa. É um processo, que se exercita diariamente para adquirir “preparo físico”. O risco é sempre aquele de deixar para começar a academia na “próxima segunda-feira”. Você pode ter todas as razões para eventualmente não começar, mas tenha a certeza de que muitos empresários estão já se exercitando e muito ! E aí talvez você perca o timing da sua inovação.

Boas escaladas disruptivas ! Bom networking 4.0 !

 

1 Blog Next: Networking 4.0: conheça esse novo modelo
2 Fidis.net: Social Networking 4.0: Identity in the future of the digital social landscape

*O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.

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Ricardo Jose Rabelo

Ricardo Jose Rabelo

Full professor at UFSC (Federal University of Santa Catarina), with a permanent position in the Department of Systems and Automation Engineering since 2000.
Senior manager of applied R&D projects.
Consultant.