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Impressoras 3D já não são só máquinas de protótipos, garantem gestores

Dirigentes associativos e empresários defendem que as novas tecnologias de impressão evidenciam as maiores transformações nos setores metalúrgico e metalomecânico, mas há oportunidades para todas as indústrias.

Por: Jornal Económico (Portugal)      24/01/2020 

1. Como é que os sistemas de impressão 3D podem ajudar ao crescimento das empresas?

2. Que outros setores poderão beneficiar destas tecnologias? Porquê?

 

Rafael Campos Pereira, Vice-presidente da AIMMAP

Eficiência e produtividade

1. Estes sistemas permitem às empresas responderem a alguns desafios relevantes no atual contexto da indústria: produção de protótipos ou pequenas séries, sem necessidade de produzir ferramentas específicas; produção de formas complexas, de forma mais eficaz e eficiente; deslocalização geográfica da produção, nomeadamente para junto dos clientes e/ou consumidores.

2. No contexto do setor metalúrgico e metalomecânico, isso poderá acontecer de forma mais evidente nos subsetores dos moldes e ferramentas e nos ‘clusters’ aeronáutico e automóvel.

 

José Esfola, Diretor-geral da Xerox Portugal

Crescimento a triplicar

1. O investimento em impressão 3D está a crescer ao triplo da velocidade da produção tradicional na indústria. A “revolução” está a chegar, garantem especialistas citados num relatório do banco ING. Estima-se que daqui a menos de 20 anos, um em cada dois produtos industriais será impresso em 3D. Apesar de a tecnologia já existir há várias décadas, nos últimos anos têm-se registado várias inovações técnicas e uma multiplicação do investimento neste segmento, um indicador de que a tecnologia está finalmente a dar “o salto”. A impressão 3D ainda está na infância, pelo que ainda tem um impacto pequeno no comércio internacional, mas isto vai mudar quando a impressão 3D de alta velocidade fizer com que passe a ser viável a produção em grande escala com impressoras 3D.

2. Nesta fase, os setores em que a impressão 3D já é mais usada são a maquinaria industrial, a engenharia aeroespacial (pequenas peças leves e complexas), o automóvel (prototipagem, sobretudo), o setor da saúde (próteses de ossos e dentes) e produtos de eletrónica de consumo. É nestes setores que se concentra 80% do investimento em impressão 3D nos últimos anos, segundo os cálculos do ING, mas “neste momento, porém, a impressão 3D diz respeito, essencialmente, à produção de protótipos ou de algumas unidades, e não produção em massa”. O principal desafio da indústria de impressão 3D é competir com as economias de escala dos métodos tradicionais de produção em massa.


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Júlio Martins, Sócio da Everythink

Além da prototipagem

1. Um novo processo tecnológico, como este, pode abrir diferentes oportunidades e algumas delas ainda nem sequer se vislumbram. Fazer o caminho será necessário para se desbravar o conhecimento, amadurecer a tecnologia, questioná-la, e, com isto, poderão gerar-se novas ideias e oportunidades. Este será um mercado competitivo, onde o preço dos equipamentos e materiais tenderá a descer e onde a evolução será muito grande nos próximos anos. Do que já sabemos atualmente, as tecnologias de impressão 3D, dão-nos a possibilidade de executar peças mais complexas e eficientes do ponto de vista de fabrico pela redução de desperdício e do número de partes de um sistema, permitindo, assim, processos de assemblagem mais rápidos e simplificados. Permitem ainda criar novos mercados e modelos de negócio, quer pela criação de peças únicas, quer de séries virtualmente unitárias ou replicáveis apenas sob pedido ou, por exemplo, de séries de peças com diferenças geradas automaticamente. Isto, para além da aplicação típica do início da era desta tecnologia – a prototipagem – que era a grande aplicação destas tecnologias há uns tempos. Esta transformação levou mesmo à mudança da designação de ‘prototipagem rápida’ para “fabricação aditiva”, tal foi a evolução da tecnologia e a qualidade do resultado final. No entanto, ainda há passos a dar para maior implementação destas tecnologias. Por exemplo, no acabamento superficial possível ou na adequação dos materiais aos requisitos funcionais e estruturais. Há que ter em conta que outras tecnologias de fabrico que se verão em competição irão igualmente evoluir para se manterem como alternativa.

2. Os benefícios podem fazer-se sentir em diferentes setores. Partindo do material como denominador comum de cada setor, a indústria do plástico é a que reúne atualmente mais experiência, logo, todas as indústrias em torno deste material poderão beneficiar, seguidas das indústrias de componentes metálicos e metalomecânica. Depois, podemos ainda pensar em todas as indústrias em que a deposição de materiais em camadas faça sentido, da gastronomia, na confeção de pratos especiais, à construção de edifícios A saúde será outro setor que poderá beneficiar destas tecnologias, em diversas aplicações. Na sua forma mais simples, será na criação de modelos para planeamento pré-cirúrgico de intervenções complexas e de ferramentas especiais para essas intervenções, e, num segundo nível, surgirá no apoio à criação de órgãos internos artificiais, desde os mais comuns na ortopedia até outras especialidades como a cardiologia, quer através de materiais biocompatíveis, quer através de tecidos biológicos. A introdução de materiais compósitos na impressão 3D terá também impacto sobre a forma como se desenham e fabricam componentes com propriedades mecânicas mais exigentes.

 

Eurico Assunção, Deputy Director da EWF

Menor impacto ambiental

1. A impressão 3D é um dos pilares da transformação que está a acontecer na indústria, e que permitirá poupanças significativas de custos, além de criar novas oportunidades para as empresas. Da impressão simples de peças plásticas complexas até à produção de peças metálicas de grande dimensão, a impressão 3D está a evoluir muito rapidamente para endereçar a necessidade de otimizar custos, reduzir o impacto ambiental e ganhar uma enorme flexibilidade na produção. A produção de protótipos é muito facilitada pela possibilidade de produção de peças em impressoras 3D, e a produção de pequenas séries ou de peças únicas é possível sem gerar custos proibitivos. A passagem do design para a produção de forma expedita é também uma das áreas de investigação e desenvolvimento em curso e na qual a Federação se tem empenhado como parte dos diversos projetos. O sucesso na utilização desta tecnologia e a rápida adoção destes sistemas de produção está dependente da existência de equipas capazes de tirar partido da mesma. Fruto da sua já longa experiência, desde 1992, no desenvolvimento de um sistema harmonizado de qualificações em soldadura, o foco do EWF neste âmbito tem estado no desenvolvimento do sistema para Additive Manufacturing que possa ser utilizado por empresas que utilizam esta tecnologia em todos os países.

2. Diria que a grande maioria dos setores industriais tem vindo a apostar na impressão 3D. Desde a área automóvel à aeroespacial, e ao setor da energia, saúde, etc., todos os setores irão beneficiar desta tecnologia. A principal razão deve-se à crescente diversidade de ligas metálicas que já podem ser utilizadas em impressão 3D, à sua certificação para utilizações de grande exigência e complexidade, e ao potencial de vir a ser alargado a áreas ainda hoje em fase inicial de exploração, como a área da Saúde, para a impressão de tecidos e até mesmo de órgãos, no futuro. Na área industrial, a principal preocupação que limita a adoção e crescimento desta tecnologia é a disponibilidade de profissionais capazes de operar estes equipamentos de crescente complexidade e exigência. Os projetos em que a EWF tem participado, na área da impressão 3D, incorporam alguns dos principais ‘players’ da indústria a nível mundial, da Vestas à Rolls Royce, Fiat, para além de diferentes institutos de soldadura da Europa como o IIS – Instituto Italiano della Saldatura (Itália), IS – Institute de Soudure (França), TWI – The Welding Institute (Reino Unido), DVS – DVS PerZert (Alemanha), ISQ – Instituto de Soldadura e Qualidade (Portugal), CESOL – Asociación Española de Soldadura y Tecnologías de Unión, entre muitos outros como, por exemplo, o Fraunhofer Institute.

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