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Manufatura 4.0 x Processo 4.0

Por: Márcio Venturelli      12/08/2019

A Indústria 4.0 nasce nos modelos de produção de manufatura, porém o conceito tecnológico está em todos os tipos de indústria. A rigor, a Indústria 4.0 independe do modelo produtivo, uma vez que o conceito de produção industrial é a transformação de matérias primas em produtos consumíveis ou utilizáveis.

Todavia, existe uma diferença entre o foco na Digitalização na Manufatura e nos Processos Contínuos.

Neste contexto, vamos entender as diferenças que existem nestes dois tipos de indústria, uma vez que podemos dividir o setor industrial nestes dois grandes grupos, mas não vamos esquecer da produção em Lote, ou Batelada.

Veremos que o foco de projetos e resultados da Digitalização e Indústria 4.0 nestes segmentos são diferentes. Lembrando que um não exclui o outro, mas tem pesos e impactos diferenciados que devem ser observados. Quanto ao impacto nas Pessoas e Processos, vamos descrever também suas diferenças, pontos importantes a observar na implantação e projetos.

A Transformação Digital na indústria é a aplicação das tecnologias da Digitalização, de forma a impactar toda a cadeia de valor, nas dimensões Tecnologia, Processos e Pessoas, orientado pelos seguintes itens de uso:

  • Digitalização de Ativos e Operações (IoT)
  • Conexão da Cadeia de Valor (IIoT)
  • Uso de Recursos de Cloud Computing
  • Utilização de I.A. para Tomada de Decisões
  • Uso de Tecnologias Habilitadoras

O conceito e Indústria 4.0 é a interconexão de toda a cadeia de valor (Informações + Pessoas + Equipamentos) conectados em rede, utilizando Inteligência Artificial para a TOMADA DE DECISÕES na Indústria.

Quanto as tecnologias da Indústria 4.0, há diversas e não queremos limitar o assunto. Todavia, para fins de estudo, precisamos entender que há um pré-requisito para implantação da Indústria 4.0, que passa pela Automação, Otimização e Convergência.


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A Digitalização Básica, é o próximo passo. Isto é: tecnologias que estão dentro de qualquer contexto de digitalização, que são Internet das Coisas (IoT), Cibersegurança, Computação em Nuvem e Big Data.

E finalizando, podemos utilizar a terminologia das Tecnologias Habilitadoras (é uma proposta de estudo), que na prática, viabilizam e aceleram o processo de Digitalização, tais como: Drones, Cobos, Aprendizado de Máquina, Impressão 3D, AGV, Realidade Aumentada, Realidade Virtual, Gêmeos Digitais, entre outras.

Lembrando que esta tecnologias são dinâmicas e estão em constante evolução e mudança.

O que é a Indústria da Transformação ou Manufatura:

  • Transforma e agrega materiais
  • Fabrica componentes ou conjuntos
  • Constrói um produto final ou subproduto
  • É baseado em produção puxada
  • É sensível ao fornecimento externo
  • Produz lotes para um nicho de cliente
  • Produção baseada em tempos e movimentos
  • Produtos especiais são caros ou inviáveis

O que é a Industria de Processos Contínuos:

  • Transforma produtos primários
  • Fabrica produtos processados
  • Fornece produtos final ou subproduto
  • É baseado em produção por safra ou lote
  • É sensível ao fornecimento de matéria prima
  • Produz grandes lotes (commodities)
  • Produção baseada em transformação fisioquímica/biológica
  • Somente escala de produção viabiliza custo

 

Principais Desafios

Entendendo os contextos acima apresentados, vamos entender alguns principais desafios destes tipos de indústria:

Manufatura

  • Produzir em baixa escala com custo competitivo produtos especiais;
  • Produzir produtos especiais em grande escala sob medida;
  • Eliminar o Lead Time da Cadeia de Fornecimento (do P&D a Logística).

Processos contínuos

  • Variabilidade de carga influencia no custo de produção
  • Identificar Lacunas de oportunidade de elevação de produção
  • Antecipação de eventos de Operação e Manutenção

 

Soluções e Foco de Projeto

MANUFATURA

Como produzir em baixa escala com custo competitivo produtos especiais?

Projetar e implantar a Fábrica Flexível, que permita a Massificação da Personalização.

Como produzir produtos especiais em grande escala sob medida?

Projetar e implantar a Fábrica Descentralizada, que permita a Customização em Massa.

Como eliminar o Lead Time da Cadeia de Fornecimento (do P&D a Logística)?

Projetar e implantar a Fábrica Interoperável, que permita a Interoperabilidade da Cadeia de Valor.

 

PROCESSOS CONTÍNUOS

Como diminuir a variabilidade de carga influencia no custo de produção?

Implantar Controle Avançados APC com Inteligência Artificial para eliminar a variabilidade.

Como identificar Lacunas de oportunidade de elevação de produção?

Implantar Otimização em Tempo Real RTO com Inteligência Artificial para elevação de ponto ótimo de operação.

Antecipação de eventos de Operação e Manutenção?

Implantação de Gestão de Ativos com Inteligência Artificial para focar Manutenção com Prognóstico.

Como são os Processos de Batelada ou em Lote:

  • Preparação de carga de matéria prima ou produto final
  • Processo que depende de TEMPO de REAÇÃO (física, química ou biológica)
  • A operação e qualidade se torna crítica se houver dependência de expertise operacional
  • Repetibilidade é o que produz estabilidade na produção
  • Em processos alimentícios o CIP Limpeza, faz parte do tempo de produção
  • Capacidade de troca de receitas, diminui Lead Time na produção

Na Digitalização de Processos de Batelada ou em Lote, é importante observar os principais pontos desafiadores neste tipo de fabricação:

  • Digitalizar o processo de modo a diminuir a Expertise de operação, isto é, o conhecimento do processo está na nuvem (Cloud)
  • A partir da digitalização, é possível analisar padrões produtivos, de forma a otimizar a produção pelo comportamento a cada lote processado
  • A Inteligência Artificial (A.I.) apoiar a tomada de decisões na Receitas produtivas, servido de apoia a tomada de decisões junto aos gestores

 

Em relação as Pessoas e Processo, podemos analisar seus principais impactos, fazendo uma relação antes (como é), e depois (como será):

Como normalmente é na Indústria:

  • Planejamento não acompanha produção – produção é puxada não conecta na cadeia de valor
  • Operação toma ações locais e gestores tem expertise para tomada de decisões de produção para meta
  • Manutenção analisa comportamento de ativos, usa preventiva e para processos para correções

Como será esperado após a digitalização:

  • Planejamento e produção conectados em tempo real sob demanda – conectados na cadeia
  • Operação supervisiona, máquina opera, gestor toma decisões baseado em Big Data e puxa otimização
  • Manutenção trabalha com gestão de ativos baseado em condições, foco em prognóstico futuro – condições

Para apoiar nos projetos propostos, nas dimensões Manufatura, Processos Contínuos e Batelada, sugerimos uma pesquisa nas Normas da Sociedade Internacional de Automação (ISA), nos seguintes títulos:

  1. ISA-106 – Processos Contínuos – Procedure Automation for Continuous Process Operations
  2. ISA-88 – Controle de Batelada – Batch Control
  3. ISA-95 – Integração de Fábrica – Enterprise-Control System Integration

Para complementar o foco de projetos nos dois tipos de produção industrial, podemos apontar algumas tendências tecnológicas, também nestas divisões:

Manufatura:

  • PROCESSOS: Fábricas mais perto dos consumidores
  • TECNOLOGIA: Movimento entre máquinas com AGV
  • PESSOAS: Muita personalização e customização de produto

Processos Contínuos:

  • PROCESSOS: Uso de Nanotecnologia para sensores
  • TECNOLOGIA: Uso de DRONES para manutenção
  • PESSOAS: Tomada de decisões baseado em I.A

Conclusão

Concluímos que diversos são os impactos nas indústrias com a Digitalização, cada modelo produtivo tem um enfoque, tanto em tecnologia, processos ou pessoas. O importante é melhorar a qualidade e produtividade, de forma a extrair o que há de melhor neste momento da Indústria 4.0.

 

Artigo original em: www.automacaoindustrial.info/manufatura-4-0-x-processo-4-0

*O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.

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Márcio Venturelli

Márcio Venturelli trabalha há 25 anos no mercado de Automação Industrial, desenvolveu sua carreira ao longo do tempo com foco em Inovação e Novas Tecnologias, especializou-se em Digitalização e Indústria 4.0, atualmente é Professor e Consultor de Automação Industrial, como foco em Transformação Digital. Trabalhou em diversos projetos e implantação de sistemas de controle e automação industrial, no Brasil e no exterior, além de ser professor de graduação e pós-graduação nas áreas de automação e gestão industrial e desenvolver pesquisa aplicada nas áreas da Indústria 4.0. Graduado em Ciência da Computação com especialização em Controle e Automação Industrial, possui pós-graduação em Gestão Industrial e Tecnologia do Petróleo e Gás e MBA em Estratégica de Negócios, é membro Sênior da ISA Sociedade Internacional de Automação.