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Indústria 4.0 eleva produtividade e já afeta emprego

Por: Sistema Ocepar / Valor Econômico      15/07/2019 

A Romi, indústria brasileira de bens de capitais, tinha pouco mais de 3 mil funcionários no país no início de 2014. Hoje são 1,5 mil funcionários, diz Luiz Cassiano Rosolen, diretor-presidente da companhia. A produção ainda não chegou aos níveis altos de 2010 e 2011, mas está muito próxima, em cerca de 80%. Mesmo percorrendo os 20% restantes, a empresa não demandará o mesmo quadro de funcionários, explica ele. Porque houve mudança não só nos equipamentos oferecidos como também elevação de produtividade.

Reinvenção - "Tivemos de nos reinventar." Parte do ganho de produtividade é creditada à implantação de elementos da indústria 4.0. Um dos avanços tecnológicos implementados, conta Rosolen, foi o chamado "mini load", processo automotizado para estocagem e separação de material. Aplicado a componentes abaixo de 50 quilos, o sistema, explica ele, entende a demanda por cada tipo de peça e faz a separação e organização do estoque durante a noite. Suas operações, explica, estão ligadas a um planejamento de manufatura que considera as diversas fases de produção das várias linhas existentes.

Maior eficiência - Essa mudança, implantada em 2016, trouxe maior eficiência no processo, o que reduziu em R$ 2,5 milhões a demanda da empresa por capital de giro. A companhia também implementou outras tecnologias que são pilares da indústria 4.0, como a manufatura aditiva e o uso de robô autônomo dentro de um sistema de manufatura flexível com três máquinas conectadas entre si e capazes de operar 24 horas tomando decisões para otimizar o fluxo do processo produtivo.

Prioridade - A Romi não está sozinha na onda da indústria 4.0. Segundo pesquisa realizada pela consultoria McKinsey no ano passado com cem empresas brasileiras, 73% dos entrevistados confirmaram que a indústria 4.0 está entre as prioridades da agenda.


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Modelos-piloto - A pesquisa mostra ainda que as empresas brasileiras administram 8,9 modelos-piloto da indústria 4.0 contra uma média de 8 projetos quando se leva em consideração indústrias entrevistadas num conjunto de mais seis países: China, França, Alemanha, Índia, Japão e EUA.

Oportunidade de negócios - Carlos José Bastos Grillo, diretor da Weg, vê a indústria 4.0 como uma via de elevação de produtividade nas operações da empresa e também como oportunidade de negócio, já que a atividade da companhia está ligada à automação. "A indústria 4.0 não é uma revolução, mas uma evolução natural" de processos tecnológicos, defende.

Sistemas de monitoramento - Na Weg, diz ele, um dos elementos da indústria 4.0 aplicados envolveu o desenvolvimento de sistemas de monitoramento de motores elétricos da área de esmaltação da produção de fios para motores, transformadores e geradores na fábrica em Jaraguá do Sul (SC). Implantado há um ano e meio, o monitoramento, explica Grillo, permitiu reunir rapidamente diversos dados sobre temperatura, vibração e consumo de energia dos motores. Disponibilizados por meio de um portal a profissionais que lidam com a produção, os dados permitiram planejar processos com otimização do maquinário e realocações para manutenção dos equipamentos de forma a causar o menor impacto na produção.

Ganho - O sistema, diz Grillo, trouxe ganho de produtividade de 18% a 20% nos primeiros meses de implantação, além de ganho adicional de 10% no ano seguinte. O processo foi depois replicado para outras fábricas e linhas da empresa.

Investimento - O executivo da Weg destaca que o investimento para mudança foi relativamente baixo dentro do plano de investimentos da empresa. Ele ressalta que a indústria 4.0 oferece muitas oportunidades de ganhos de produtividade que não necessariamente demandam grandes investimentos.

Concordância - Rosolen, da Romi, concorda com isso. Ele diz que os elementos da indústria 4.0 devem ser analisados como qualquer outro investimento. Ou seja, de acordo com seu retorno. No caso da Romi, diz ele, a indústria 4.0 entrou dentro do banco de investimentos existente.

Desafios - Há, porém, desafios, diz Rosolen. A preocupação da empresa, explica, é com o desenvolvimento de uma infraestrutura adequada de telecomunicações e segurança de dados. A Romi, diz ele, lançou produtos que permitem a interação de máquinas localizadas em diversos clientes, criando uma rede de dados conectados que podem melhorar a capacidade de análise dos equipamentos e possibilitar um melhor planejamento da produção. Para que isso funcione, ressalta ele, é preciso que haja conexão com transmissão rápida de dados e segurança para que as empresas saibam que não haverá vazamento de dados que querem resguardar.

Além das grandes - Paulo Tonicelli, diretor-presidente da Prensas Schuler, chama a atenção para o desafio de levar a indústria 4.0 para além das grandes empresas que possuem mais recursos para desenvolver e implementar as novas tecnologias. Para ele, é preciso que a mudança aconteça na cadeia produtiva, o que envolve também fornecedores. A maior produtividade dos fornecedores, diz ele, significa maior competitividade para a indústria.

Porte menor - A Schuler, conta o executivo, tem cerca de 250 fornecedores, sendo que 85% deles são empresas de porte menor, com menos de cem funcionários. Tonicelli diz que a empresa deve implantar até o fim do ano um sistema que permite acompanhamento de qualidade e prazos de produção em parte dos fornecedores de matérias-primas e componentes. Isso possibilitará, diz ele, ganhar tempo na organização da produção, evitando erros e garantindo maior qualidade.

Situação conjuntural - Um dos desafios atuais, diz ele, é a situação conjuntural que atinge os fornecedores, o que dificulta o investimento na implantação da indústria 4.0. Ele lembra que muitas empresas fecharam durante a crise que se estendeu de 2015 a 2017 e há por isso um trabalho de desenvolvimento de fornecedores.

Incentivo à exportação - Para Tonicelli, um caminho para incentivar as empresas é uma política pública de incentivo à exportação, já que o mercado internacional demanda um padrão maior de qualidade e competitividade, o que reforça a necessidade de melhoria e eficiência. A Schuler, diz ele, aumentou o foco na exportação como estratégia de negócios e também em razão da baixa demanda doméstico no período de crise. Segundo ele, a parcela de produção voltada ao mercado externo chegou a 70% no período de 2016 a 2018. Pouco antes disso, diz, oscilava entre 40% a 60%.

Combinação - Para Rafael Oliveira, sócio da McKinsey que lidera a área de manufatura no Brasil, o desenvolvimento da indústria 4.0 demanda uma combinação entre políticas públicas e iniciativa das empresas. Essa atuação conjunta pode permitir que as novas tecnologias sejam aproveitadas como oportunidade para que o Brasil avance em produtividade, indicador no qual o país está muito atrás. Nos últimos 20 anos, diz ele, a produtividade do trabalhador brasileiro cresceu em média 1,3%, enquanto a do chinês avançou 8,8%, e a do indiano, 5%.

Isolamento - O desafio, diz Oliveira, é que a indústria nacional vença o "purgatório-piloto", no qual fábricas implantam sistemas da indústria 4.0, mas de forma isolada. Entre 70% a 80% das empresas, diz ele, essas tecnologias de forma pontual e não integradas a um plano estratégico de médio prazo, num alcance de três a cinco anos, deixando de ter ganhos potenciais mais expressivos de produtividade.

PIB - E há muito a perder, destaca Oliveira. Pesquisas da McKinsey apontam que a indústria 4.0 traz oportunidade de aumentar o PIB em até 6% nos próximos dez anos se as soluções tecnológicas forem amplamente utilizadas.

Políticas públicas - Cristina Helena Pinto de Mello, economista da ESPM, defende que políticas públicas são necessárias para o maior desenvolvimento da indústria 4.0. Além de uma política macroeconômica com câmbio e preços que criem condições de competitividade para as empresas, diz Cristina, é preciso um marco legal que facilite às empresas a criação de tecnologias, com menor burocracia para redesenhar a forma de atuação. Outra medida necessária, defende, é a qualificação de mão de obra, que, em sua maioria, não está preparada para as novas formas de trabalho. 

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