Indústria avança na segurança de carrocerias

Em São Paulo, 5º Simpósio SAE BRASIL CarBody mostrou rotas para o desenvolvimento de estruturas veiculares mais leves e resistentes

Para a fabricação de estruturas veiculares mais seguras, a indústria brasileira avança na adoção de materiais nobres e processos de última geração, capazes de conferir propriedades mecânicas específicas para cada região da carroceria, segundo os especialistas que participaram do 5º Simpósio SAE BRASIL CarBody, dias 2 e 3 de maio, em São Paulo (SP). Sob a direção de Ed Taiss, consultor de Tecnologia da CBMM, o encontro contou com apresentações e mostra de engenharia, na qual cinco montadoras – FCA, Ford, General Motors, Mercedes-Benz e PSA – mostraram as novas tecnologias utilizadas em carrocerias para ampliar a proteção dos ocupantes. Na abertura, Renato Mastrobuono, conselheiro da SAE BRASIL, falou sobre o Maio Amarelo, movimento internacional de conscientização sobre a segurança no trânsito. “É um orgulho abrir o mês com um evento que contribui para essa discussão”, afirmou.

AUTOPEÇAS – No primeiro painel, Andreas Muellegger, gerente de Indústria Automotiva da Trumpf, apresentou novas ferramentas de soldagem a laser, que garantem alta precisão e velocidade de processo (até 10m/min) para aplicação em projetos de estruturas veiculares. Os aços de ultra-alta resistência (UHSS) foram o foco de Ramon Ocampa, gerente de Negócios da Magna Cosma, que abordou a família Gen3 da empresa. “Permitem aumentar a resistência e reduzir o peso de elementos estruturais por meio de processos termomecânicos”, afirmou. Mauricio Lobão, gerente de CAE da Vesta Engenharia, Grupo Aethra, falou sobre o desenvolvimento de chashbox com geometria de oito lados, capaz de absorver 18% mais energia do que o componente convencional, com quatro cantos, e explicou que a tecnologia oferece melhor controle porque faz a distribuição das deformações nos oito lados durante uma colisão.

Tiago Pinheiro, gerente da Benteler, expôs a ferramenta Multizone, que permite manipular a metalurgia da peça final, com o aquecimento de determinadas regiões para conferir propriedades mecânicas específicas. “Há maior absorção de energia em peças de mesma espessura, o que resulta em maior espaço de sobrevivência para o ocupante”, concluiu. Xavier Herrera, gerente de P&D da Gestamp, abordou novos processos para fabricação de carrocerias, como tratamento térmico a laser (BKT Laser), que permite mudar as propriedades mecânicas de diferentes regiões de uma peça para definir as respectivas absorções de energia para evento de crash. “É possível definir de quatro a cinco propriedades mecânicas dentro da mesma peça”, contou.


Continua depois da publicidade


MOTORSPORT – A evolução da segurança na Stock Car foi abordada por Gustavo Lehto, consultor de Engenharia para Desenvolvimento de Carros de Corrida da Vauraus. Para 2020, os carros de corrida passarão a receber aplicações de aço com nióbio para melhorias de segurança. “Nós nos defrontamos com situações realmente críticas em velocidade média de 150 km/h, então precisamos nos preocupar proporcionalmente a essa velocidade”, afirmou.

A primeira montadora a compartilhar experiências foi a Ford, com apresentação de Luiz Gustavo Zamorano, gerente de Carroceria, sobre o desenvolvimento global da picape Ford Ranger. “A utilização de aços nobres em regiões estratégicas da carroceria possibilitou o projeto de um carro leve, seguro e confortável”, contou o engenheiro, que mostrou a carroceria na área de exposição. Depois, Thomas Beaugrand, coordenador de Produto da PSA, falou sobre a SUV Citroen C4 Cactus, que foi inicialmente projetada para a Europa, mas recebeu em 2018 uma versão brasileira, fabricada na planta de Porto Real, Rio de Janeiro. “A carroceria pesa 338 kg, com uso de aços clássicos (45% de LSS) e aços de alta resistência (18% de AHSS, 34% de HSS e 3% de PHS)”, contou.

Para encerrar o primeiro dia, o comentarista esportivo Reginaldo Leme falou sobre a história da Fórmula 1 no Brasil e no mundo e destacou o avanço das tecnologias nos veículos de corrida ao comparar um volante de 1987, utilizado por Nelson Piquet, que possuía somente dois botões (rádio e booster), e um volante atual, com 25 botões. “O avanço tecnológico tirou um pouco o brilho do piloto, mas na verdade exige muito mais talento dele”, comentou. 

SEGURANÇA – No dia 3/5, Dino Altmann, presidente da Comissão Médica da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) e vice-presidente da Comissão Médica da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), abriu o painel sobre segurança veicular e destacou a necessidade de interação entre médicos e engenheiros no automobilismo para o avanço da segurança em carros de corrida, circuitos e equipamentos pessoais. André Gregori, CEO do Grupo Thinkseg, apresentou uma plataforma de seguros que conecta clientes, seguradoras e corretores, com o foco de oferecer experiências totalmente digitais aos consumidores. “Além de usar as premissas dos seguros, utilizamos inteligência artificial para perceber os padrões de comportamento do usuário. Isto se traduz em preço mais justo e individualizado”, explicou Gregori.

Rodrigo Amado, gerente geral da Divisão de Mobilidade da CBMM, avaliou que as estratégias na escolha de materiais e geometrias impactam fortemente a segurança veicular e apontou que o nióbio pode ajudar na absorção de impacto. “Aços automotivos combinados ao nióbio evitam trincas em peças de segurança”, afirmou. Eduardo Biavati, presidente da Em Trânsito Consultoria, afirmou que a melhoria da segurança viária exige um esforço multisetorial, que envolve legislação, educação, infraestrutura e proteção veicular. “Para cada morte no trânsito, há 20 pessoas que sobrevivem, destas seis apresentam sequelas incapacitantes”, completou.

A Mercedes-Benz foi a terceira montadora a compartilhar as experiências no desenvolvimento de carroceria. Mauro Moraes, gerente de Materiais Metálicos da Mercedes-Benz, falou sobre o caminhão Accelo, com destaque para o desenvolvimento da cabine estendida, com adição de 18 cm, para aplicação estradeira. Em seguida, a FCA fez a apresentação do SUV Jeep Campass, projetada para absorver energia, mas manter o cockpit íntegro, com 82% de aços de alta e ultra-alta resistência. “Análises estruturais foram fundamentais para definir as deformações dos materiais em cada região e garantir a melhor integridade”, contou Celso Carvalho Jr, supervisor de Engenharia de Estruturas da LATAM FCA.

Antoine Chatelain, consultor da A2MAC1, mostrou plataforma de benchmarking desenvolvida pela empresa, que permite rever soluções de mercado e identificar inovações de segurança, a partir da análise de diversos veículos em diferentes mercados. No encerramento, a General Motors apresentou a nova Spin, projetada para oferecer espaço interno, com possibilidade de cinco ou sete lugares no mesmo modelo. Com 271kg, a carroceria recebeu materiais nobres, sendo 54% aços de alta resistência (AHSS). “Procuramos ao máximo trabalhar com materiais em espessuras mais finas para obter redução de peso e absorção de energia”, contou Fabio Baccan, gerente de Engenharia de Estruturas da GM.

Organizado pela SAE BRASIL – Seção São Paulo, o 5º Simpósio SAE BRASIL CarBody contou com o apoio e o patrocínio das organizações: Aethra, Aperam, ArcelorMittal, Benteler, Brasmetal, CBA, CBMM, ESI, Gestamp, IQA, Magna, Mitutoyo, Saint-Gobain e Trumpf.