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Dom Quixote de La Indústria 4.0

Por: Renato Carlo Zacchello Leal      28/04/2019

Em uma das mais aclamadas obras da literatura, Miguel de Cervantes trata de um paradigma atemporal, o qual tem paralelo com diversos conflitos intelectuais da humanidade desde sua escrita no início do século XVII. Trata-se do paradigma de negligenciar a realidade e acreditar naquilo que queremos acreditar.

À época o escritor satirizou os “cansados” mas ainda populares romances de cavalaria que estavam em declínio, dando início a um período de inovação na literatura ficcionista espanhola.

O protagonista desta obra-prima é Dom Quixote de La Mancha, um fidalgo castelhano que perde a razão após ler muitos romances e pretende imitar seus heróis preferidos. O romance narra as suas aventuras em companhia de Sancho Pança, seu fiel companheiro, que tem uma visão mais realista dos fatos.

No romance Dom Quixote enfrenta moinhos de vento, fantasiando que estes são monstros. No Brasil moderno, percebe-se uma abordagem das indústrias similar à de Dom Quixote quando se “enfrenta” o conceito de Indústria 4.0. Todos os livros, eventos, seminários e as missões internacionais parecem estar catequizando nossa indústria a enfrentar moinhos de vento quando na verdade os monstros continuam soltos.

Existem no Brasil diversos fatores que barram a competitividade industrial. Fatores estes que começam a ser discutidos em algumas reformas fundamentais e que historicamente têm sido ofuscados em alguns setores por conta da alta demanda local e alguns incentivos pontuais.

Vivemos por décadas à sombra de políticas públicas ruins (pelo menos para a maioria da população) e assistimos de camarote à deterioração do parque industrial de nosso país. Por isso, nós brasileiros sempre buscamos os nossos romances de cavalaria para fugir de nossa realidade. Vivemos por décadas acreditando no Brasil do futuro e torcendo para que um fator externo nos trouxesse esperança de dias melhores.


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Pois essa esperança para o setor industrial parece ser o milagre da indústria 4.0. Enquanto a maior movimentação desta revolução no país ainda está pautada no mercado de livros, eventos e consultorias, algo mais importante acontece nos bastidores. A verdadeira revolução para o Brasil pode ser a revolução da integridade e da transparência que nos trouxeram a internet e as redes sociais. Este sim pode ser o fator externo que tanto esperamos. Se o país seguir unido contra a corrupção e em busca das reformas tão importantes, poderemos virar o esperado país do futuro.

A verdade é que o investimento em tecnologia sempre foi fundamental para a competitividade na indústria. Independente de levarmos nosso velho parque industrial para níveis 2.0, 3.0 ou 4.0, o fato é que sem investir em tecnologia, qualquer indústria está fadada ao fracasso.

Se a indústria tivesse um amigo fiel e realista como Sancho Pança, acredito que seu conselho seria de não investir em modismos, mas sim considerar evolução tecnológica como parte integrante de seu planejamento estratégico. Contratar colaboradores (externos ou internos) que realmente entendam de inovação tecnológica e que apliquem o que existe de mais moderno, porém sempre vinculando investimentos a resultado e à estratégia da empresa. Afinal de contas, a quarta revolução industrial não foi a primeira e nem será a última.

*O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.

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Renato Carlo Zacchello Leal

Renato Carlo Zacchello Leal

Fundador e CEO da GreyLogix Automação, empresa que há mais de 10 anos traz tecnologia de ponta para a indústria nacional. Engenheiro de automação (UFSC), pós graduado em gestão financeira (FGV) e marketing (INPG) e especialização em inovação (UC Berkeley). Aficcionado por inovação tecnológica e empreendedorismo.