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Conectividade: a nova fonte de lucro para as montadoras

Fabricantes de carros começam a destravar mercado trilionário no Brasil

Por: Automotive Business      14/12/2018 

O carro conectado será em uma das grandes fontes de receita da indústria automotiva nos próximos anos. A expectativa é consenso entre uma série de especialistas. Pesquisa da KPMG com executivos da indústria automotiva mostra que 75% deles acreditam que veículos com conexão têm potencial para gerar faturamento 10 vezes maior. Já levantamento da Mckinsey indica que, ao lado dos serviços de mobilidade e novos modelos de negócio, a conectividade acrescentará US$ 1,5 trilhão em receitas à indústria automotiva.

Globalmente as companhias automotivas já se movimentam para se adaptar a esta transformação. A Volkswagen, por exemplo, anunciou investimento de US$ 4 bilhões no desenvolvimento de negócios digitais até 2025. A empresa vai criar a plataforma We baseada na nuvem para conectar veículos, clientes e oferecer serviços. A Bosch é outra organização que aposta no mesmo caminho. A empresa criou uma nova divisão, a Connected Mobility Solutions, focada na oferta de serviços conectados e de mobilidade. 

Avanço local

Os negócios também começam a se movimentar no Brasil. Este ano a Nissan começou a oferecer carros equipados com o Multi-App, central multimídia mais completa, conectada à internet e que não depende de espelhamento com o celular. A solução traz uma série de funcionalidades para o cliente e, ainda, oportunidade importante para a montadora, que consegue monetizar com oferta de serviços e estreitar o relacionamento com os consumidores. 

Antonio Azevedo, CEO da Logigo Automotive, desenvolvedora de centrais multimídia responsável pela produção do Multi-App, explica a maior diferença entre a solução adotada pela Nissan e a maioria das outras usadas no mercado. “Usamos um software nativo que garante à montadora o controle dos dados dos clientes e, assim, permite a monetização destas informações. Nos sistemas equipados com Android Auto ou Apple CarPlay, quem tem este domínio é o Google e a Apple, não a fabricante do carro”, conta. 


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Segundo o executivo, a tecnologia da central multimídia permite que a montadora envie mensagens direto ao cliente pelo sistema, como um desejo de parabéns no aniversário dele com um cartão de desconto para executar serviços em uma concessionária, por exemplo. Como a plataforma digital é própria, a fabricante do carro pode também aceitar publicidade na central multimídia, vender aplicativos ou ir mais longe e desenhar seguros sob medida para cada cliente. 

“A montadora passa a ter a informação de como determinado motorista dirige, se este concordar em dividir essas informações, pode firmar parceria com seguradora e fazer preços personalizados ou desenhar uma apólice pay per use em que o cliente só paga pelo tempo em que está com o carro na rua”, enumera Azevedo. Segundo ele, possibilidades não faltam, mas todas dependem de que o carro esteja conectado para funcionar. 

“Hoje grande parte dos veículos que temos no mercado contam com uma central multimídia que representa um investimento da montadora que não se converte em aumento da lucratividade depois. Acredito que estas plataformas representam um ponto chave para as montadoras, uma oportunidade de negócio”, defende Azevedo. 

Inovação à brasileira

Em tempos de busca por novas receitas para a indústria automotiva Régis Nieto, sócio-diretor do BCG, lembra que a melhor recomendação é não esperar que as respostas venham prontas da matriz das organizações. “Nos próximos anos o dinheiro virá de novos lugares. As empresas que não estão se reposicionando agora vão passar por dificuldades”, disse o consultor durante apresentação em evento promovido por Automotive Business em agosto. 

Segundo ele, é um erro acreditar que as novas soluções não podem ser desenhadas localmente. “Uma das coisas que mais ouço dos profissionais no Brasil é que as respostas virão de fora. Acima de tudo, o consumidor é local e, portanto, precisamos desenhar os produtos e serviços certos para ele”, defende. Ele lembra que, com pessoas tão conectadas, o país é um dos maiores mercados para empresas como Uber e Waze. É aí, justamente, que está a maior oportunidade para as companhias automotivas: desenhar soluções brasileiras com potencial para ganhar escala. 

É justamente nisso que a LogiGo está apostando, garante Azevedo. Segundo ele, a empresa deve abrir em breve um escritório no Vale do Silício. A ideia ali é tanto aproveitar a mão de obra do maior polo de inovação do mundo para os novos desenvolvimentos, quanto fazer uma ofensiva no mercado dos Estados Unidos. É a inovação à brasileira ganhando o mundo.

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