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Samanta Luchini    |   12/03/2018   |   Desenvolvimento Humano   |  

Uma Questão de Reputação

De que adianta um belo currículo se a reputação o coloca em cheque? O que as pessoas dizem ou pensam ao nosso respeito tem tanta importância quanto as nossas competências, quando se trata da sua posição profissional.

Você já parou para pensar no que as pessoas falam sobre você, quando deixa a sala, após uma reunião de trabalho? No que elas pensam de você, enquanto defende uma ideia ou apresenta um novo projeto para um cliente? Qual a primeira impressão das pessoas ao fazerem uma rápida pesquisa no seu perfil do Facebook? Ou ainda, o que pensará o entrevistador depois de entrevista-lo para uma posição importante e para a qual você foi fortemente indicado?

Essas perguntas parecem difíceis de responder, uma vez que o ser humano ainda não adquiriu o poder de ler a mente alheia. Mas talvez valha a pena dedicar um pouco de seu tempo e atenção nesta análise, pelo menos na tentativa de prever como seriam tais respostas.

Esse questionamento nos ajuda a ter uma ideia mais concreta de como vem sendo construída e mantida a nossa reputação. Aquilo que dizem ou pensam sobre nós funciona como um indicador efetivo do impacto que causamos nas pessoas que nos rodeiam e nos diferentes ambientes nos quais estamos inseridos.

Muitas empresas perdem clientes (e consequentemente, muito dinheiro!) por estarem envolvidas em situações comprometem sua reputação. Muitos artistas perdem papéis importantes e contratos milionários pelo fato de terem apresentado comportamentos inadequados, que arranham ou até mesmo derrubam definitivamente sua reputação. Muitos profissionais perdem valiosas oportunidades porque, muitas vezes, a reputação acaba falando mais alto do que a competência.

Pode-se chamar de reputação o conceito que as demais pessoas têm ao nosso respeito. Aquilo que elas dizem e pensam de nós, depois de cada comportamento que emitimos e de cada oportunidade de interação. Funciona como uma espécie de avaliação social que recebemos daqueles que nos cercam, que favorece à obtenção confiança, respeito admiração e credibilidade.

Quando comecei a trabalhar com gestão de pessoas, há 20 anos, o lema que orientava os profissionais era algo do tipo “se você deseja ascender na carreira, é preciso ser muito competente”. É evidente que a competência, formada pelo conjunto de nossos conhecimentos, habilidades, atitudes e resultados, tem papel determinante numa carreira de sucesso. Mas o que vejo de forma bem mais transparente hoje em dia é que, além de sermos competentes, é imprescindível que a nossa reputação reafirme essa competência. Isto é, também precisamos que as pessoas nos tenham como competentes em seus próprios conceitos, para que as portas se abram de fato e oportunidades cheguem até nós.


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Pode parecer injusto ou até mesmo cruel, o fato de a reputação chegar primeiro. Mas você eu sabemos bem que é assim mesmo que as coisas funcionam.

Antes de comprar um produto ou serviço, você verifica os antecedentes reputacionais dele nas redes sociais. Antes de contratar um palestrante ou um consultor, faz questão de verificar o que seu aquecido network diz a respeito dessa pessoa e do trabalho que ela desenvolve. Antes de chamar um candidato para uma entrevista, faz questão de conferir as recomendações existentes no seu perfil do LinkedIn.

Sendo assim, devemos estar comprometidos não apenas com a construção de um currículo de qualidade, mas também com a construção de uma reputação compatível a ele. Isso significa estar constantemente atentos ao que falamos, ao que fazemos, ao que publicamos, ao que curtimos e ao que compartilhamos. Em um tempo de hiperconectividade, como o que estamos vivendo hoje, nossas ações já não são mais isoladas e mesmo que decidamos apagar uma foto ou um comentário, muitas vezes o estrago já está feito.

Imagine a executiva de comunicação de uma empresa respeitadíssima no mercado, minutos antes de embarcar num voo de trabalho para a África do Sul em 2013, que resolve fazer uma rápida publicação no Twitter, dentre os seus quase 200 seguidores: "Estou indo para a África. Espero não pegar HIV. Brincadeira. Sou branca". Certamente, Justine Sacco (a dona desse tuíte infeliz) não fazia ideia das consequências desastrosas do que mais tarde chamou de “brincadeira”. Sua publicação foi compartilhada por milhares de pessoas indignadas com essa atitude, ela foi hostilizada por gente do mundo inteiro e fui sumariamente demitida de seu cargo. Ela teve uma queda brutal e imediata do posto de “a executiva de sucesso” para “a executiva racista”. Uma crise de reputação que até hoje está cobrando seu preço.

Este exemplo, dentre tantos outros, nos ajuda a entender que a reputação é a somatória do que fazemos, do que falamos e do que falam de nós. Portanto, comporte-se de modo que as pessoas consigam enxergar coerência entre a pessoa que você é e as atitudes e comportamentos que mostra para o mundo. E se você é líder, tome ainda mais cuidado, pois a influência, que é a base da liderança, também passa pela sua reputação. Ninguém vai te seguir se a sua reputação estiver contaminada.

Encerro nosso papo com a célebre citação de Sócrates que diz “a maneira de se conseguir boa reputação reside no esforço em se ser aquilo que se deseja parecer.”

Um grande abraço e até breve...

O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.
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Samanta Luchini

Mestre em Administração com Foco em Gestão e Inovação Organizacional, Especialista em Gestão de Pessoas pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS e em Neurociência pela Unifesp.
Psicóloga pela Universidade Metodista de São Paulo.
Executive & Life Coach em nível Sênior, com formação internacional pelo ICI (Integrated Coaching Institute) em curso credenciado pela ICF (International Coach Federation).
Professora convidada dos programas de pós-graduação da FGV/Strong, Universidade Metodista e Senac, dos programas de MBA da Universidade São Marcos e Unimonte, e dos cursos FGV/Cademp, para a área de Gestão de Pessoas.
Professora conteudista do Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos – UNIFEOB.
Formadora de consultores e treinadores comportamentais.
Atua há mais de 23 anos com Gestão de Pessoas em diversas empresas e segmentos, dentre elas Wickbold, Bridgestone, Bombril, Solar Coca-Cola, Porto Seguro, Grupo M. Dias Branco, Prensas Schuler, Arteb, Grupo Mardel, Tegma, Pertech, Sherwin-Williams, Grupo Sigla, Unilever, Engecorps, Nitro Química, Grupo Byogene, Netfarma, NTN do Brasil, TW Espumas, Ambev, Takeda, Pöyry Tecnologia,
Neogrid, Scania, Kemp, Ceva Saúde Animal, Embalagens Flexíveis Diadema, Sem Parar, CMOC, Camil e Toyota.
Em sua trajetória profissional e acadêmica, já desenvolveu mais de 27.000 pessoas, com uma média de avaliação superior a nota 9,0 em todos seus treinamentos.
Palestrante, consultora de empresas e autora de diversos artigos acadêmicos publicados em congressos e revistas.
Colunista da revista Manufatura em Foco – www.manufaturaemfoco.com.br


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