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Gladis Costa    |   22/05/2016   |   Marketing e Comportamento   |  

A juniorização no trabalho: saem os gurus, entram os guris

Como as empresas estão reduzindo custos com salários e benefícios.

Na juventude aprendemos; na maturidade compreendemos.
Marie Von Ebner-Eschenbach, escritora alemã – 1830-1916

A seção de Finanças do Business Insider publicou no último dia 9 um post abordando o tema "Juniorização em Wall Street". O assunto já havia sido pauta do “theSkimm", blog de carreiras, comportamento e tendências, que definiu ironicamente o vocábulo: “juniorização é quando a happy hour da empresa começa a ficar mais barulhenta”. Para o Business Insider, no contexto da matéria, “juniorização é quando Wall Street substitui senior traders e profissionais de negócios por talentos mais jovens”.

Como os traders precisam ser proativos, flexíveis e disciplinados, veteranos de Wall Street se perguntam como estes jovens vão resolver questões estratégicas numa atividade onde networking, conhecimento técnico, faro aguçado e insight fazem toda a diferença. É uma preocupação real já que alguns clientes são conservadores, abominam mudanças constantes e confiam em seus parceiros de negócios. Por outro lado, estes senior traders admitem que enfrentam dificuldades para se adaptar a tanta tecnologia.

No post do Insider, um profissional de alta patente de Wall Street mencionou que o headcount do banco onde trabalha não mudou, mas o mix, sim. Na visão desta organização, fornecer conhecimento e tecnologia aos colaboradores mais jovens pode trazer o mesmo retorno proporcionado por funcionários mais experientes. Parece que no segmento financeiro esta forma de juniorização tem sido uma prática comum há alguns anos.  Em nome da eficiência operacional o banco aumenta o número de vagas de analistas, associados, gerentes e diretores, elimina os cargos mais altos da pirâmide e consegue reduzir despesas com salários e benefícios.


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Alguns mercados, no entanto, por conta do core business e da estratégia de negócios, contratam profissionais jovens porque falam a língua de seus clientes e garantem alto engajamento para suas iniciativas, mas a crise tem levado diversos setores a adotar a juniorização almejando apenas a redução de custos e nem sempre o processo é feito de maneira eficiente. Jovens talentos são contratados como líderes sem a maturidade profissional que o cargo exige. Alguns gestores de RH afirmam que jovens são ansiosos, tendem a achar o ambiente corporativo monótono e não conseguem ver a empresa de forma holística.  Fica difícil visualizar a liderança exercida por estes jovens, sem um plano de treinamento e capacitação. O ambiente de marketing, que elogia a criatividade e vê com bons olhos aqueles que pensam “fora da caixa”, se preocupa com a rapidez com que estes jovens tomam decisões que às vezes custam muito dinheiro, além de uma boa dose de estresse para os dois lados da mesa.

A juniorização possui várias nuances: é comum ver empresas oferecendo salários “entry level” para profissionais maduros, que por falta de opção acabam aceitando a oferta. Para alguns, a volta ao mercado justifica uma redução no salário. Em alguns casos, cargos mais altos são eliminados e as funções e responsabilidades passam a ser exercidas pelos que ficaram - normalmente membros mais jovens da equipe, gerando uma disruptura na qualidade do serviço entregue, e que é percebida pelo cliente. O lado cruel deste cenário é quando o funcionário (ou a empresa) se frustra porque a experiência, após um tempo, não é tão gratificante ou relevante como parecia.

Talvez gurus e guris tenham uma visão diferente sobre carreira e sucesso, afinal o background e as expectativas não são as mesmas e as empresas precisam levar em consideração esta realidade no momento da contratação.

O mantra em vigor diz que é preciso fazer mais com menos, ser mais eficiente, reduzir custos; mas existem habilidades que são imprescindíveis para o sucesso dos negócios e são justamente estas habilidades que não têm preço. Elas têm valor.

O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.
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Gladis Costa

Gladis Costa é profissional da área de Comunicação e Marketing, com vivência em empresas globais de TI. É fundadora do maior grupo de Mulheres de Negócios do LinkedIn Brasil, que conta com mais de 6200 profissionais. Escreve regularmente sobre gestão, consumo, comportamento e marketing. É formada em Letras, e tem pós graduação em Jornalismo, Comunicação Social e MBA pela PUC São Paulo. É autora do livro "O Homem que Entendia as Mulheres", publicado pela All Print.


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