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Tulio Duarte    |   20/07/2015   |   Qualidade e produtividade   |  

Você gerencia a qualidade do seu processo utilizando apenas Índice de Capacidade? Cuidado com isso

Utilizar apenas o Índice de Capacidade para analisar a qualidade da produção é um dos maiores erros cometidos. Saiba a razão no artigo.

Em empresas que aplicam CEP, Controle Estatístico de Processo, para gerenciar a qualidade da produção, quando há problemas é comum haver reuniões e longos debates entre engenheiros, técnicos, gerentes e diretores para discutir os índices de capacidade como se somente este índice isolado transmitisse conhecimento, compreensão e segurança. Na maioria das vezes isso não é verdade.

Por que isso não é verdade? Então qual é a capacidade de um produto?

Essas perguntas (e suas variações) indicam a falta de compreensão dos conceitos por trás dos índices. E o pior é quando a resposta para o valor da capacidade de um produto feito na fábrica toda é um valor único.

Començando a responder a pergunta, quando há uma avaliação de capacidade, não se pode separar a capacidade do produto da capacidade do processo. Isto é, uma parte do índice de capacidade é dependente da máquina, ou processo, em que o produto foi fabricado.

Você que deve estar intrigado com a afirmação acima pode me pedir para provar isso. Pois bem, faremos um seguinte exemplo extrapolando o cenário para ficar claro como índice de capacidade é dependente da máquina, para isso vamos usar uma analogia.

Se houver um desafio de lances livres de basquete, cada pessoa pode lançar 20 vezes a bola. Como seria a disputa entre uma pessoa comum contra o Michael Jordan? Provavelmente a pessoa comum perderia feio. Portanto, é certo falar em índice da capacidade do torneio? Ou é melhor falar: a pessoa comum tem uma capacidade X de acertar lances livres e o Michael Jordan uma capacidade Y de acertar lances livres?

Se identificarmos a pessoa comum e o Michael Jordan como processos e o produto final são cestas convertidas, provavelmente neste ponto, todo mundo concorda que temos que discutir índice de capacidade levando em consideração o produto e também o processo.

Se você não concorda com isso, nem leia o resto, coloque seus motivos nos comentários que será bem legal debater isso.

Para os bravos que concordam com este raciocínio, vamos agora responder as questões feitas acima?

O CEP se propõe a controlar, o processo, e é raramente considerada quando se fala de capacidade. Antes mesmo de começar uma discussão sobre capacidade, você deve considerar um mínimo de três itens distintos e muito importantes:

  1. O produto (código, número, SKU ou desenho)
  2. A característica (largura, peso, diâmetro, etc) que é avaliada no produto
  3. O processo (máquina) que produziu o produto

Cada índice de capacidade, será uma combinação dos três itens acima. O problema é que nem sempre é comunicado e discutido assim. E o item mais importante, o processo, é geralmente esquecido.

Por isso, certifique-se de que qualquer discussão de índice de capacidade inclua o processo além do produto em questão.

Agora vamos para um exemplo da vida real, um dado produto pode ter um furo cujo diâmetro é cortado em uma dimensão específica. O mesmo produto, no entanto, poderá ser fabricado em diferentes máquinas. Infelizmente, cada máquina tem sua própria “personalidade” (setup + matéria prima + operador + ferramenta + versão, etc.). Isto é, provavelmente cada máquina funciona um pouco diferente das demais.

Isso é verdade mesmo para duas máquinas do mesmo modelo feita pelo mesmo fabricante. Mesmo se duas máquinas são idênticas, elas sempre funcionam um pouco diferente. Estas diferenças comuns no desempenho de máquinas exigem que índices de capacidade sejam levantados para cada máquina que fabrica o produto. 

Continuando com o nosso exemplo, o mesmo furo de um mesmo produto pode ser feito em várias operações diferentes. A primeira operação poderia ser um corte bruto do furo usando uma broca seguida por um alargamento com maior precisão e, em seguida, um mandrilamento para o acabamento final. Neste exemplo, índices de capacidade teriam de ser calculados para as três operações diferentes para o mesmo produto e mesma característica.

Nunca assuma que duas máquinas idênticas, diferentes apenas no número de série, executarão produtos iguais. Elas não fazem isso. Pergunte os índices de capacidade de cada processo que fabrica suas peças.

E voltando à nossa pergunta inicial, se você estiver em uma reunião para discutir problemas de qualidade e alguém te questionar "então qual é a capacidade de um produto?", o que você deve responder?

  1. Ofereça o índice dividido pela combinação produto x processo x característica
  2. Tenha junto sempre uma carta de controle para acompanhar

Por que a carta de controle?

Raramente nas discussões de capacidade as cartas de controle são consideradas. Parabéns às pessoas que sempre incluem a carta numa discussão de capacidade. A carta de controle serve como evidência de médias e desvios-padrão consistentes. Sem médias e desvios padrão consistentes e estatisticamente estáveis, os valores de Cpk significam pouco. Por quê? Porque, sem uma carta de controle coerente com média e desvio padrão que não mudam, é impossível prever com confiabilidade que valores essas estatísticas assumirão na próxima semana. Ou nas próximas 24 horas. Por isso, com uma média e desvio padrão que são imprevisíveis, os valores de Cpk poderiam também ser significativamente diferentes de uma hora para a outra, o que torna os relatórios de Cpk pouco confiáveis, incoerentes até.

Utilizar o índice de capacidade dividido pel conjunto "produto x processo x característica" e ter junto a carta de controle, você vai estar melhor embasado para entender a capacidade do processo, e muito melhor preparado para responder a inevitável pergunta: “E então, qual é a capacidade deste produto?”

O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.
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Tulio Duarte

O autor é formado em Ciências da Computação pela UFSC onde também cursou mestrado. Trabalha desde 2002 na HarboR Informática Industrial, empresa que desenvolve soluções para controle de produção e controle de qualidade. Neste período atuou em mais de 100 projetos de controle de produção e controle de qualidade para indústrias de todos os portes do Brasil e de outros países como Canadá, Estados Unidos, México, Colômbia, Chile, Uruguai, França, Itália, Eslováquia e China. É também co-fundador e atual presidente do grupo Vertical Manufatura da Acate, um grupo que aproxima empresas de tecnologia e indústria de manufatura para discutir e desenvolver soluções que visam a diminuição de custos, aumento de qualidade e produtividade, assim como o cumprimento de normas legais e diminuição de recalls.


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