Por que evitar o Chumbo?

A 3º parte da reportagem trata dos efeitos do chumbo no corpo humano

Fonte: Marianna Wachelke
 
Arte: Luiz Wachelke

Devido ao seu baixo ponto de fusão, ductibilidade e facilidade em formar ligas metálicas, o chumbo foi um dos primeiros metais a serem manipulados pelo homem, que já desde a Antigüidade o utilizava na fabricação de utensílios, armas e adornos.

Os pesquisadores do Departamento de Saúde Pública da Universidade Estadual Paulista, Ricardo Cordeiro, e do Departamento descola Nacional de Saúde Pública do Rio de Janeiro, Euclydes de Lima Filho, analisaram dados de 20 anos do uso do chumbo no Brasil e no mundo e publicaram artigos científicos com os resultados. Uma das pesquisas descreve que a solda é apenas uma das várias utilidades do metal. Cerca de 5 milhões de toneladas de chumbo são consumidas no mundo todo ano em processos industriais, como produção de acumuladores elétricos, chapas, tubos, revestimentos de cabos e aços. Os compostos são usados na produção de pigmentos e como antidetonantes na gasolina.
Epidemiologia e Métodos Quantitativos da EEmbora 0,49% de todo chumbo produzido seja usado em solda e apenas 2% do chumbo produzido seja usado em toda a indústria de eletro-eletrônicos (TVs, telefones, celulares, computadores etc.), esses equipamentos são descartados em lixos comuns e não recebem o tratamento necessário, o que resulta na poluição das fontes de água. Somente em 2004, a União Européia produziu 9,7 milhões de toneladas de lixo eletrônico, sendo que a cada década, o volume tende a duplicar. (Ver tabela)  
 
No Brasil, o Conselho Nacional do Meio Ambiente estabelece concentrações máximas de 0,03 mg/L para águas classificadas doce e de 0,01 mg/L para salina e salobra. As atividades de mineração e fundição de chumbo primário (do minério) e secundário (recuperação de sucatas ou baterias) constituem as principais fontes emissoras. O metal é depositado nos lagos, rios e oceanos, proveniente da atmosfera ou do escoamento superficial do solo.

Pelo solo, pela água ou pelo ar, o chumbo acarreta diversos problemas para o ser humano. Como esse metal afeta todos os órgãos e sistemas do organismo, os mecanismos de toxicidade envolvem processos bioquímicos fundamentais, que incluem a característica do chumbo de inibir ou imitar a ação do cálcio e de interagir com proteínas. (Veja sintomas na Figura 3.)



"O problema todo é basicamente com o descarte dos equipamentos eletrônicos", explica a professora de Toxicologia do Departamento de Patologia da UFSC, Claudia Regina dos Santos. A maioria dos equipamentos eletrônicos gastos está em latas de lixo ou lixões a céu aberto e muitos deles sem nenhum controle químico. A chuva ácida dissolve o chumbo e outras substâncias perigosas dos equipamentos eletrônicos e a água da chuva mistura-se com esses materiais indo direto para os lençóis freáticos e para a água que bebemos.

Nos últimos anos, atenção especial tem sido dada aos estudos epidemiológicos direcionados para os possíveis efeitos neurotóxicos do chumbo nas crianças. "Especialmente naquelas com desvios de comportamento, que podem ter o seu QI prejudicado", lembra a professora. Na população adulta, pesquisas têm focado nos efeitos cardiovasculares do chumbo e o seu envolvimento na hipertensão.

A professora de Análise Toxicológica da Universidade Estadual de Londrina,  Monica Paoliello, publicou o artigo Ecotoxicologia do chumbo e seus compostos que aponta vários sintomas da contaminação pela substância. A doutora em saúde coletiva e autora de mais de 17 trabalhos sobre chumbo aborda que, além da ausência de um limite preciso, a toxicidade do chumbo na infância pode ter efeitos permanentes, tais como menor quociente de inteligência e deficiência cognitiva.

Nos adultos, o sistema nervoso central também é afetado por concentrações relativamente baixas. Os danos sobre o sistema nervoso periférico, primeiramente motor, são observados principalmente nos adultos. Os sintomas variam, dependendo da idade e da condição geral do paciente, da quantidade absorvida, do tempo de exposição e de certos fatores concomitantes, como o alcoolismo crônico.

Tanto os consumidores quanto as indústrias eletroeletrônicas devem se adaptar à  lei.  Uma etiqueta especial nos produtos será utilizada para identificar que são Pb-free. Ainda não existem análises do impacto ambiental ou sintomas dos substitutos do chumbo, entretanto, os procedimentos e padrão para avaliação de qualidade e confiabilidade são estudos das principais indústrias eletroeletrônicas, como a Philips, e instituições ambientais européias que asseguram a metodologia e danos. 


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