Insegurança sobre rumo da economia adia novos investimentos na indústria

Mesmo com o aumento de 60% nas consultas por empresas junto ao BNDES, economista afirma que ainda há muitas incertezas no setor.

As informações sobre aumento de 60% nas consultas realizadas por empresas junto às carteiras de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não foram suficientes para empolgar empresários e analistas quanto aos investimentos este ano. 

A avaliação é de que o momento ainda é de muita insegurança. “Há muitas incertezas sobre o que vai acontecer com o investimento este ano. As consultas ao BNDES são um bom sinal. Mas também há muitos outros sinais ruins”, comenta o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), Armando Castelar. 
 
Entre os maus sinais, o economista aponta o paradeiro na indústria de bens de capitais, que fechou 2012 com queda de 3% no faturamento e com utilização da capacidade instalada em 70%. Ele cita também o anúncio da Petrobras de que o ano de 2013 será ainda pior que o anterior para a empresa.
 
A política cambial é outro ponto de interrogação, no entender de Castelar. “O câmbio será uma fonte de incerteza, porque o governo tem que lidar com objetivos conflitantes. Cada um desses objetivos leva o dólar para um lugar diferente”, comenta. Ele ressalta que, se de um lado o governo precisa incentivar a indústria nacional com o dólar mais valorizado, por outro, tem de manter a moeda em baixa para que a própria indústria possa importar máquinas. “Não sei nem se para a própria indústria o dólar mais valorizado é o ideal.” 
 
Mesmo os recentes anúncios do governo para atrair investimentos, para ele, são insuficientes para estimular a indústria. “Os anúncios em si não geram investimentos. Há ainda muitas incertezas, por exemplo, em relação às concessões anunciadas”, diz, ao se referir ao marco regula-tório que, para os investidores ainda não está claro.
 
Embora a projeção da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) para o faturamento do setor este ano seja de 5%, o seu vice-presidente, José Velloso, dá um tom pessimista às suas previsões. “Este crescimento depende de muitos fatores”, diz Velloso. “Não há dúvida de que há incentivos por parte do governo e o número de consultas junto ao BNDES é um bom sinal. Mas o que não há é vontade das empresas de investir”, disse, referindo-se também às incertezas quanto ao porvir da economia brasileira. “O empresário só vai comprar máquina se tiver o que fazer com ela.” 
 
Velloso também criticou a política cambial. Ele lembrou que boa parte da queda no faturamento do setor no ano passado aconteceu por causa do dólar desvalorizado. “As nossas projeções de crescimento foram feitas com base no dólar a R$ 2,00. Se o dólar ficar abaixo disso, não haverá alta no faturamento.” O superintendente de Planejamento do BNDES, Cláudio Leal, discorda das previsões mais pessimistas. “A minha avaliação é que houve um conjunto de medidas que o governo tomou, que criou condições para a retomada dos investimentos este ano”, comenta, citando a redução no custo da energia para as indústrias e as novas concessões. 
 
Ele lembra que o aumento recorde de 60% nas consultas realizadas ao longo do ano passado já começaram a se concretizar em janeiro, quando há uma estimativa de que os desembolsos do banco de fomento tenham crescido 25% em relação a janeiro de 2011 — o que também será recorde para meses de dezembro (os números ainda estão sendo fechados). “Janeiro costuma ser um mês fraco em termos de desembolsos, porque dezembro é a ‘raspa do tacho’, quando todo o dinheiro sai. E o que se verifica agora é que mesmo com o resultado recorde de desembolsos verificados em dezembro, tivemos elevação de 25% em janeiro”, observa.

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