Cai a venda de máquinas para construção

Queda de investimento freia venda de máquinas

Após mostrar evolução quase constante nos últimos oito anos - interrompida apenas em 2009 pela crise financeira, mas compensada por sucessivos recordes nos dois anos seguintes -, o consumo de máquinas e equipamentos empregados na construção civil e grandes projetos de infraestrutura travou em 2012.

Dados da Abimaq, a entidade que abriga os fabricantes de bens de capital instalados no Brasil, mostram quedas expressivas em uma série de equipamentos utilizados na primeira fase das obras - ou seja, todos aqueles trabalhos destinados a preparar o terreno para o início das edificações.
 
Quando comparado ao mesmo período de 2011, o desempenho do primeiro trimestre revela queda de 21% nas vendas de escavadeiras hidráulicas e de 36,1% nos volumes de motoniveladoras. No caso das retroescavadeiras - equipamento mais utilizado na fase de terraplenagem -, a queda foi menos significativa, de apenas 1,1% em relação a um ano antes.
 
Na soma dos principais equipamentos - que ainda inclui tratores de esteira, carregadeiras, caminhões fora-de-estrada e rolos compactadores -, a contração é da ordem de 15,4%.
 
A letargia dos projetos públicos - que levou o governo federal a colocar recentemente um crédito de R$ 20 bilhões à disposição dos Estados para obras de infraestrutura -, combinada à retração dos investimentos no país - como revelou a decomposição do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre - ajuda a explicar a inflexão da trajetória positiva dos últimos anos.
 
Também há uma relação com o estágio de projetos que contrataram grande volume de maquinário nos últimos anos. Boa parte das obras dos estádios que vão receber a Copa do Mundo de 2014, por exemplo, começa a sair da fase de movimentação de terra - que utiliza as máquinas citadas acima - para um estágio de deslocamento de materiais, no qual começam a ser utilizados outros tipos de equipamentos, como gruas e as plataformas elevatórias.
 
Por outro lado, os empreendimentos ligados a acessos viários, mobilidade urbana e aeroportos, não avançam como a própria Fifa - organizadora do Mundial de Futebol - esperava.
 
"Tem muito investimento a ser feito, mas eles acontecem a uma velocidade aquém do imaginado", resume Clóvis Salioni Júnior, presidente da Abef, a entidade das empresas de engenharia de fundações - setor que movimenta aproximadamente R$ 350 milhões por ano em máquinas perfuratrizes e bate-estacas.
 
A Brasil Máquinas de Construção (BMC) - que distribui marcas como Hyundai, Zoomlion e XCMG - relata um início de ano ruim em termos de faturamento. De acordo com o presidente da empresa, Felipe Cavalieri, a carteira de pedidos ainda mostra algum crescimento, mas a demora na execução dos contratos vem derrubando a receita: a queda até agora é de 15%.
 
Cavalieri aponta que o principal entrave é a lentidão na execução das ordens de serviço por governos (federal, estaduais e municipais), devido, principalmente, a dificuldades relacionadas a burocracia ou licenciamento ambiental das obras.
 
A maioria dos clientes da BMC - cerca de 80% - atende a obras públicas. O executivo acrescenta que a espera pelo faturamento de contratos também pesa sobre os custos da empresa: "Meu problema é que eu tenho de ficar carregando máquina no estoque e isso tem um preço."
 
As perspectivas para o longo prazo permanecem positivas, mas o desempenho registrado nos primeiros meses do ano indica que o setor terá dificuldade para cumprir com as previsões de crescimento traçadas para 2012.
 
Andrea Park, presidente da câmara de máquinas rodoviárias da Abimaq, diz que a tendência para o consumo de equipamentos para construção está mais para um aumento de 5% do que para os 10% previstos no fim do ano passado.
 
O balanço da entidade mostra que, a despeito da menor demanda, a produção dessas máquinas cresceu 4,5% no primeiro trimestre, indicando que havia uma perspectiva positiva dos fabricantes no início do ano. "Todo mundo se preparou muito para uma expectativa que não aconteceu", avalia Andrea.
 
Por outro lado, a melhora da demanda nos mercados internacionais permitiu ao setor compensar parcialmente a queda das vendas domésticas com um aumento significativo das exportações. Houve, por exemplo, expansão de 42,4% nos embarques ao exterior de retroescavadeiras e crescimento de 18% nas exportações de motoniveladoras, conforme os dados do trimestre.
 
A Sobratema - que coleta informações sobre esse mercado - traça um aumento de 5% nas vendas de maquinário de construção, mas o vice-presidente da entidade, Mário Humberto Marques, adianta que esse número só será atingido se o segundo semestre for muito bom e o PIB brasileiro conseguir crescer 3% no ano - uma possibilidade pouco considerada pelo mercado financeiro, que prevê crescimento de 2,3% para 2012.
 
Por Eduardo Laguna e Ana Fernandes/Valor Econômico