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Enquanto recrudesce o temor pelo encarecimento do petróleo e pelas conseqüências da produção de biocombustíveis sobre o preço dos alimentos, cientistas e ativistas promovem energias de fontes limpas, eficiente e, além de tudo, em grande escala. Os 10 principais produtores de energia de fontes alternativas, que emitem pouco dióxido de carbono, cobriram sozinhos a demanda de nove milhões de pessoas este ano, evitando a emissão de 1,9 milhão de toneladas desse gás, um dos causadores do efeito estufa, segundo responsáveis por empreendimentos inovadores. Os gases que provocam o efeito estufa, como dióxido de carbono, metano e óxido nitroso, são considerados pela maioria da comunidade científica responsáveis pelo aquecimento global e pela mudança climática.
Os 10 pioneiros foram identificados pelos prêmios Ashden para a Energia Sustentável, concedidos na Grã-Bretanha. As emissões que várias organizações dedicadas a produzir energia a partir de fontes alternativas na África e Ásia conseguiram evitar equivalem ao consumo de aproximadamente 700 mil britânicos, segundo um informe elaborado pelo Instituto Internacional para o Ambiente e o Desenvolvimento (IIED), em colaboração com o GVEP Internacional, com sede em Londres e que se dedica a promover a energia limpa em áreas rurais e semi-urbanas. O estudo foi encomendado pelo Ministério do Desenvolvimento Internacional da Grã-Bretanha.
Em Bangladesh, um único programa de energia solar instalou mais de 160 mil painéis domésticos, em comparação com os 2.300 existentes na Grã-Bretanha. O programa da organização Grameen Shakti (Aldeia Energética) em Bangladesh começou como esforço em pequena escala, mas se tornou de massa. “Começamos em 1996 instalando algumas centenas de painéis solares por ano”, contou Dipal Barua, da Grameen Shakti. “Agora, colocamos oito mil por mês. Nossa meta era chegar a um milhão em 2015, mas iremos superá-la em 2010”. Esses painéis geram eletricidade suficiente para alimentar durante cinco horas quatro lâmpadas, uma televisão em preto e branco, um rádio e a bateria de um telefone celular, disse Barua.
“Seu custo aproximado é de US$ 400 ao ano, mas não pedimos uma entrega inicial. Aceitamos uma pequena quantia como adiantamento e nossos engenheiros cobram o restante no prazo de dois anos ou mais”. Os painéis solares marcam uma grande diferença na vida das pessoas, acrescentou. “O querosene para os lampiões é caro e prejudica o meio ambiente. Este sistema nos permite fornecer luz às casas à noite para que as crianças possam estudar e os comerciantes manterem seus negócios”, disse à IPS. A grande demanda converteu Grameen Shakti em uma organização que emprega dois mil engenheiros e conta com orçamento anual de US$ 30 milhões.
Nas aldeias do Nepal estão sendo instalados novos sistemas de biogás. O combustível, obtido pela transformação de fezes de animais, é usado para cozinhar e iluminar, e permite substituir o fogo de lenha e os lampiões. O custo deste dispositivo é aproximadamente de US$ 400 por unidade. As famílias podem conseguir subsídio por um terço do preço total, contribuir para outro terço em espécies e pagar o restante pelo microcrédito. Como os painéis solares de Bangladesh, cada dispositivo de biogás fornece a energia necessária para cobrir as necessidades básicas de uma casa. A demanda por unidades e sua produção aumentam rapidamente. A Grameen Shakti agora também se dedica à instalação de unidades de biogás e ao desenvolvimento de tecnologia para melhorar o funcionamento das cozinhas.
Na Índia, a Empresa de Desenvolvimento Internacional criou bombas movimentadas a pedal para irrigar, substituindo as movidas a óleo combustível. Também a Companhia de Luz Elétrica Solar criou uma ampla variedade de bombas solares e outros dispositivos. Nos dois casos, não se trata de implementos alternativos para uns poucos. A demanda é de milhares de unidades ao mês, e aumenta rapidamente. “Isto vai além de uma linda idéia ou do conceito de nicho de mercado”, disse à IPS o responsável de programa dos prêmios Ashden para a Energia Sustentável, Ben Dixon. “Estamos chegando a um ponto de inflexão depois do qual esta tecnologia beneficiará milhões de pessoas. O desafio agora é explorar oportunidades para copiar estas práticas de sucesso em outros lugares”, afirmou.
A divulgação pública destes êxitos é a forma de avançar, diz o informe do IIED e do GVEP. As pequenas e medias empresas que desenvolvem essas tecnologias compartilham uma forte orientação social e o objetivo de levar energia aos pobres, diz a pesquisa encomendada pelo Departamento de Desenvolvimento Internacional britânico. “Chama a atenção o fato de todos os programas terem sido desenvolvidos em um prazo significativo. Em sete casos foi de 10 anos ou mais. Isso permitiu criar experiência no âmbito local, cadeias de fornecimento e a permanente incorporação de novos enfoques e idéias”, diz o estudo.
A maioria dos programas – prossegue o informe – “estive a cargo de pessoas que estiveram desde o principio, e a continuidade da liderança e sua perspectiva pode ter desempenhado um papel significativo”. Esses êxitos não devem permanecer isolados como agora, devendo se repetir em outros lugares através da transferência tecnológica e de mecanismos financeiros, prossegue o documento. A nova tecnologia limpa pode ser facilmente adotada por pessoas sem outras fontes de energia. Os lares de aproximadamente dois bilhões de pessoas no mundo carecem de eletricidade e 1,6 bilhão dependem da lenha para cozinhar, afirma a pesquisa. “Isto é importante para a saúde, educação e redução da pobreza. A alta do petróleo e a demanda crescente tornam difícil para os sistemas energéticos centralizados preencherem essa lacuna”, ressalta.
Os 10 programas destacados pelo informe oferecem tecnologias simples e acessíveis, como cozinhas melhoradas, painéis solares de uso doméstico, biogás e bombas de água. “As tecnologias têm benefícios ambientais significativos, como reduzir as emissões de dióxido de carbono e o desmatamento, mas, também apresenta conseqüências sociais e econômicas. Transformam a vida de seus beneficiários por meio de melhores renda, saúde, segurança alimentar ar mais puro e maiores oportunidades para estudar”, diz o informe.
Uma das principais conclusões do estudo é que os possíveis beneficiários devem poder ter acesso ao crédito. “Isso porque os custos iniciais das novas tecnologias, como os painéis solares, podem ser uma barreira, mesmo que o alto preço do querosene e de outras alternativas signifique que o prazo de reembolso seja surpreendentemente curto”, diz o informe. O documento recomenda os microcréditos que tenham apoio de empréstimos brandos e subsídios do governo e fundos de carbono especificamente projetados para apoiar essas fontes alternativas.