Engenheiros desenvolvem ligas com maior deformação física

Ligas metálicas adicionadas de boro mostram maior magnetostricção em testes.

Uma dissertação de mestrado da Escola de Engenharia de Lorena (EEL) da USP buscou encontrar novos materiais que possam ser utilizados como sensores e atuadores (elementos que produzem movimento, a partir de comandos manuais, elétricos ou mecânicos), levando em conta o custo e a maior magnetostricção dos materiais, criando um transdutor para a realização dos testes. A magnetostricção é um fenômeno físico na qual os materiais se deformam fisicamente (dilatam ou contraem) somente com a aplicação de um campo magnético, que interage com a componente magnética dos átomos do material, gerando um afastamento ou aproximação.

Sob a orientação da professora Cristina Bormio Nunes, o engenheiro de materiais Mateus Botani pesquisou ligas de ferro e alumínio (Fe-Al) com adição do elemento químico boro (B), que têm um custo reduzido e potencial para serem utilizadas em equipamentos de movimento e captação. Na magnetostricção os valores de deformação são pequenos, por volta de dezenas de partes por milhão. “Imagine que eu aplique um campo magnético em uma barra do nosso material [Fe-Al-B] de 100 metros de comprimento, a deformação seria por volta de 7 milímetros!”, cita Botani.

Entretanto, a principal aplicação dos materiais magnetostrictivos está relacionada com sensores e atuadores, já que as propriedades magnéticas dependem do estado de tensão do material. Estes materiais são aplicados em diversas áreas, como por exemplo, a automobilística (sensores para medir o torque do eixo de virabrequins e atuadores que permitem o funcionamento da injeção eletrônica nos carros), médica (atuadores para manipulação de endoscópios, instrumentos com câmaras e bisturis que são utilizados em cirurgias pouco invasivas), militares (sonares subaquáticos) e energéticas (coletores de energia que transformam a energia mecânica do ambiente em energia elétrica, como a eólica).


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Para a realização dos testes, foi construído um transdutor, que é um aparelho que transforma um tipo de energia em outra (como um microfone, que transforma as ondas sonoras em energia elétrica e, no caso da magnetostricção, a energia eletromagnética em energia mecânica, que gera a deformação do material). Botani estuda materiais magnetostrictivos desde 2010, na qual realizou uma iniciação científica com o tema. Seu mestrado e doutorado seguem os mesmo caminhos: “Até o presente momento, as ligas de Fe-Al-B já renderam 4 artigos científicos em revistas de alto fator de impacto da área de Engenharia de Materiais”, comenta.

O transdutor

(a) núcleo magnético, (b) bobinas de excitação,
(c) bobina de captura, (d) extensômetro,
(e) cilindro da amostra em estudo e (f) suporte.
Imagem: Divulgação

O transdutor é composto por 6 partes. As bobinas de excitação (b), onde se passa uma corrente elétrica, são as responsáveis por gerar o campo magnético, que é direcionada pelo núcleo magnético (a). Construído com chapas de Ferro e Silício, o núcleo tem o objetivo de fechar o circuito magnético e concentrar o campo na região da barra de Fe-Al-B em estudo (e), localizada no centro do transdutor. Dessa forma, a partir de uma fonte de corrente, é possível aplicar campo magnético na amostra.

Para a medição da magnetostricção e da indução magnética, utilizou-se um extensômetro (d) e uma bobina de captura (c). O extensômetro é uma pequena resistência colada na amostra. Dessa forma, quando a amostra dilata, o extensômetro aumenta o seu comprimento e muda a sua resistência, sendo a partir dela calculada a magnetostricção do material. “O circuito magnético usado é muito similar a circuitos de máquinas elétricas de eletrodomésticos em geral”, comenta a orientadora.

Os programas computacionais que controlam todos os instrumentos e coletam a magnetostricção também foram criados pelo grupo. No entanto, o pesquisador explica: “o objetivo do nosso grupo ainda não é desenvolver sensores e atuadores, mas sim desenvolver novos materiais que possuam um maior potencial para serem aplicados como sensores e atuadores, sempre levando em consideração o preço de produção”.

Atualmente, o trabalho de doutorado de Botani envolve estudar diferentes composições do sistema ternário Fe-Al-B utilizando o transdutor. O intuito é desenvolver novas ligas magnetostrictivas que possuam um maior potencial para serem aplicadas como sensores e atuadores, além de possuírem um custo reduzido. Ele também planeja utilizar uma técnica para aumentar a magnetostricção, na qual a amostra é aquecida enquanto uma tensão de compressão a comprime. Deseja-se que este procedimento aumente os valores de magnetostricção.