Com 47 unidades paralisadas, setor siderúrgico volta ao patamar de 2006

As siderúrgicas devem encerrar o ano com queda de 16,3% nas vendas, retornando ao patamar de 2006. Diante deste cenário, 47 unidades foram desativadas ou paralisadas no Brasil e, segundo representantes do setor, este é um ano para ser esquecido.

"Além da desaceleração da economia, a restrição ao crédito está muito grande, o que impacta sensivelmente o setor siderúrgico", afirma o presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Produtos Siderúrgicos (Sindisider), Carlos Loureiro.

Para o presidente executivo do Instituto Aço Brasil (IABr), Marco Polo de Mello Lopes, o crescimento pífio da economia, aliado ao cenário de sobrecapacidade global, levou ao adiamento de investimentos e diversas paralisações no mercado doméstico.

"Esta é a pior crise da história da siderurgia brasileira", declarou. O IABr projeta ainda o fechamento de outras 24 unidades no Brasil, nos próximos seis meses, o que pode incluir altos-fornos, aciarias, coquerias, laminadores, entre outros. Outros 23 equipamentos, conforme o IABr, foram adquiridos, mas não foram instalados.

Segundo a entidade, a produção deve recuar 2% neste ano, no País, para 33,2 milhões de toneladas, pior desempenho desde 2010.

Com isso, as demissões na cadeia siderúrgica atingiram 21,7 mil pessoas desde o início de 2014 e, segundo o IABr, outros 7,4 mil funcionários devem ser dispensados nos próximos seis meses. Esses números não contemplam os cerca de 2,2 mil empregados em regime de layoff (suspensão temporária do contrato).

Entre as paralisações, a mais recente ocorreu na Usiminas, que já havia desligado dois altos-fornos em 2015, um em Cubatão (SP) e outro em Ipatinga (MG). Há algumas semanas, a empresa anunciou a suspensão das operações primárias da Baixada Santista, ficando apenas com laminação.

Já a gigante global ArcelorMittal anunciou, este ano, a intenção de desativar um dos laminadores de aços longos de Piracicaba (SP), com capacidade de 500 mil toneladas. O segmento de aço longo (vergalhões) acompanha a retração do mercado imobiliário.


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O cenário também afetou a brasileira Votorantim, que paralisou a aciaria de Barra Mansa (RJ). A unidade tem capacidade para produzir 800 mil toneladas de aços longos.

"Nós temos uma folga muito grande de capacidade instalada no mercado brasileiro, que poderia ser usada para exportação, mas desde que houvesse rentabilidade", diz Lopes.

Ele explica que as exportações devem encerrar o ano com crescimento de 36,2% sobre 2014. "Esta é a única alternativa das empresas para não fecharem as portas. Mas as siderúrgicas estão vendendo ao exterior sem margens."

Segundo o presidente do IABr, Benjamin Mário Baptista Filho, o mercado global tem sido inundado por volumes significativos de aço com preços "predatórios", em sua maioria da China. "O país asiático está invadindo praticamente todos os mercados", declarou.

De acordo com Lopes, mais de 116 medidas foram tomadas ao redor do mundo para tentar evitar que a China inunde o mercado com 400 milhões de toneladas excedentes.

O governo federal pode anunciar em até 15 dias uma elevação nos impostos sobre importação de produtos siderúrgicos, disse o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro, segundo a Reuters.

Projeções

Para 2016, a projeção do IABr é de que as vendas de aço atinjam 17,4 milhões de toneladas, recuo de 4% sobre 2015, que já foi de queda expressiva. "Não há nada que sinalize recuperação do mercado interno para 2016", afirma Lopes.

O consumo aparente também deve apresentar um declínio de 5,1% na mesma base de comparação, para 20,2 milhões de toneladas, segundo o IABr.