PSA dará lucro no Brasil, diz Tavares

CEO afirma que investimentos só voltarão com rentabilidade

“Estamos em um processo de reconstrução econômica, no plano lançado ano passado que chamamos Back in the Race, que já está dando bons resultados e isso também vai acontecer aqui no Brasil”, disse Carlos Tavares, presidente mundial da PSA Peugeot Citroën, em conversa com jornalistas durante sua visita à fábrica do grupo em Porto Real (RJ) na quarta-feira (11) para o lançamento industrial do novo Citroën Aircross. Esse disse que a porção da América Latina balanço já voltou ao azul no primeiro semestre, mas o mercado brasileiro, que representa 50% das vendas na região (já foi 60% em 2010/2011) ainda está no prejuízo. Tavares reconfirmou que a meta é retomar os lucros até 2017, e que só quando isso acontecer será possível justificar novos investimentos no País. “Não se faz investimento em algo que não é rentável”, resume. 

Ao mesmo tempo em que a busca pela volta da rentabilidade é uma constante na estratégia atual do grupo, Tavares reconhece que o portfólio de produtos Peugeot e Citroën na América Latina ainda não é ideal para ser competitivo na região. “Estamos muito limitados, precisamos participar de mais segmentos”, diz o CEO. Ele garante que não há contradição entre recuperar o lucro com cortes de custos e a necessidade de se investir em novos veículos. “Com uma coisa conseguiremos fazer a outra. Se entrarmos em qualquer fábrica vamos encontrar toneladas de desperdícios que podem ser cortados. Isso é uma boa notícia, pois já sabemos que é possível tornar a operação rentável e assim voltar a investir”, raciocina. 

Por enquanto, a estratégia de recuperação da rentabilidade já custou expressiva perda de participação nas vendas das duas marcas da PSA no Brasil, que de pouco mais de 5% em 2010/2011 desceu para menos de 2,5% agora. Com a retirada dos produtos mais baratos de linha, os carros da Peugeot e Citroën são vendidos acima de R$ 45 mil, valor que fica fora do alcance de metade do mercado brasileiro. “A maneira mais fácil de se aumentar a cota de mercado é dar carros às pessoas, mas essa é uma cota tóxica, que não traz valor ao negócio. Não é adequado estarmos abaixo de 5% mas não interessa aumentar a participação sem rentabilidade, porque isso torna a empresa insustentável”, justifica Tavares. 


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Após parar de vender com prejuízo, o executivo avalia que agora falta “se comunicar melhor com os clientes brasileiros e dar mais confiança aos concessionários”. Outra medida é a quase completa reestruturação da rede Peugeot, que já teve 160 concessionárias em 2010 e deverá ser enxugada para 110. Somente este ano houve um movimento de 70 entradas e saídas de grupos concessionários da marca. 

Além do corte de custos fixos, que já alcançou 50% nos últimos três anos no Brasil, também está na mira a redução dos custos variáveis. Nesse sentido, com o dólar no atual patamar, a maior nacionalização de peças voltou a ser preocupação número um. Os carros feitos no País já têm índice médio de localização acima de 75%, mas a meta é superar 85% nos próximos anos. “Reservamos € 70 milhões para cobrir custos de nacionalização nos próximos três anos, € 50 milhões só no Brasil”, explica Carlos Gomes, presidente da PSA América Latina. 

Situação degradada

“A situação no Brasil se degradou com inflação, recessão e depreciação do real. Estamos buscando mais ações e ideias para superar isso. Vou passar os próximos três dias aqui para discutir o que fazer. Temos questões delicadas a tratar”, admite Tavares, que assumiu o cargo em março de 2014 e lançou oficialmente o plano Back in the Race. Ele nega, no entanto, qualquer intenção de sair do País e reafirma que a montadora está na região para ficar. 

“Se eu fosse pessimista não teria aceitado o convite para comandar a PSA no fim de 2013, em um período que a empresa esteve à beira da falência. Aprendi que sempre existe uma maneira de reconstruir os resultados. Implantamos o plano de recuperação e este ano já alcançamos margem operacional de 5% (no balanço global da companhia), antes do que esperávamos (a meta desse porcentual era 2019). Por isso sequer considero que exista outro caminho para o Brasil”, enfatiza. Para o executivo, o Brasil “pode ser rentável se fizer as coisas certas, tem muito potencial para voltar a crescer”. 

No plano de investimento da PSA para o Brasil, a fábrica de Porto Real deveria ter a capacidade dobrada de 150 mil para 300 mil unidades/ano em três turnos. Porém, com o encolhimento substancial do mercado, nem todos os R$ 3,7 bilhões anunciados foram gastos e a PSA pôs o pé no freio da expansão. “Nas atuais condições não houve necessidade de ampliar mais e o potencial cresceu para 220 mil/ano”, admite Carlos Gomes. Trabalhando atualmente em apenas dois turnos, a capacidade máxima atual é de 150 mil/ano, porém o total de 2015 deverá ficar bem abaixo desse volume. Em 2014 foram 90,5 mil e a projeção é chegar a 70 mil este ano.