BNDES não poderá mais conceder empréstimos para a Petrobrás

Resolução do Banco Central deu três anos para o BNDES se enquadrar nos limites de prudência que impedem o banco de comprometer 25% do seu patrimônio com um único cliente.

A Petrobrás não poderá contar com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar investimentos. Uma resolução do Banco Central (BC), aprovada na quinta-feira (25), deu três anos para o BNDES se enquadrar nos limites de prudência e impediu novos financiamentos e aportes em participação nas empresas nas quais o banco tenha excesso de recursos comprometidos, caso da Petrobrás.

Pelas regras, nenhum banco pode comprometer com um único cliente mais do que 25% do patrimônio de referência, um indicador financeiro. No caso do BNDES, esse limite é de R$ 24,112 bilhões, conforme dados do primeiro trimestre. Na conta entram tanto empréstimos ainda devidos quanto a participação acionária. 

O problema é que o BNDES terminou 2014 com cerca de R$ 64 bilhões comprometidos com a Petrobrás, conforme um cruzamento de dados revelado pelo Estado no fim de abril. Considerando holding e subsidiárias, são cerca de R$ 42 bilhões em crédito e R$ 22 bilhões em participação acionária, muito acima do limite. 

Uma fonte ouvida sob condição de anonimato pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, confirmou que o valor comprometido pelo BNDES com a Petrobrás está acima 50% do patrimônio de referência. Em nota, o banco confirmou que a exposição à Petrobrás excede o limite. 

Exceções

Há cerca de 15 anos, por meio de resoluções do Conselho Monetário Nacional (CMN), o BC abria exceções ao BNDES na hora de calcular o comprometimento com a Petrobrás. Uma das exceções - que permite ao BNDES excluir as participações acionárias do cálculo do limite de 25% - acabará no próximo dia 30. 

Pela resolução, a partir de 1º de julho, o BNDES terá que reduzir os excessos até 2024. Até lá, o fato de os valores passarem do limite “implica o impedimento da contratação de novas operações”. De 2016 a 2018, será preciso cortar o excedente em 20%. Na nota, o banco garantiu que a exigência “não terá impacto sobre a carteira atual de financiamentos” e que não será preciso vender ações para reduzir os excessos: “Até 2018, estão previstas amortizações de financiamentos, o que resultará em redução da exposição”.


Continua depois da publicidade


As mudanças não mexeram com outra exceção, que permite ao banco considerar, no cálculo, cada subsidiária da Petrobrás como um único cliente - ou seja, o limite de R$ 24,112 bilhões vale para cada empresa do sistema Petrobrás. 
Segundo o economista Fabio Klein, especialista em finanças públicas da consultoria Tendências, o excesso de recursos na Petrobrás pode afetar o lucro do BNDES caso a petroleira passe por problemas, mas é remota a possibilidade de um calote, que obrigasse o Tesouro a aportar recursos. “A Petrobrás fará de tudo para não fazer isso, porque o rating dela já está ruim”, disse Klein.


Tópicos: