Montadoras não têm peças para recall

Número recorde de consertos nos veículos provoca falta de itens para reposição.

Após número recorde de recalls de veículos no ano passado, faltam peças para reparar os carros envolvidos em campanhas para corrigir erros de fabricação.

O caso mais preocupante é o de modelos Cobalt, Onix, Prisma e Spin, da General Motors, cujo defeito pode, em casos extremos, provocar incêndio.

A GM anunciou recall para 400.940 veículos em meados de dezembro, com início previsto para o dia 22. A empresa chamou consumidores para providenciar a substituição da porca de fixação da bomba de combustível ou do tanque e alertou para os riscos de incêndio. No entanto, a peça para o conserto não está disponível, segundo relatam consumidores e concessionários.

"Recebi duas cartas no início de dezembro que alertavam sobre o risco de pegar fogo; fiquei assustada e liguei para agendar o conserto, mas me colocaram em uma fila de espera, pois a peça está em falta e não há previsão de quando chegará", conta Ana Maria Primo Marques, de 71 anos.

Dona de um modelo Cobalt 2013, Ana Maria marcou hora numa concessionária e levou o carro, mas lá recebeu a mesma informação e foi colocada numa lista de espera para ser avisada assim que a peça chegar. "Não entendo por que a empresa faz um recall assustando a gente, mas não tem a peça para o conserto", diz ela, que fez questão de ficar com uma cópia da ordem de serviço emitida pela revenda.

Várias concessionárias consultadas confirmaram não ter a peça e os atendentes afirmaram que a falta é generalizada. A única orientação dada aos clientes por algumas revendas é para não encher o tanque de combustível até que o conserto ocorra. Também afirmam que o risco de incêndio "é só em casos de capotamento". Há lojas em São Paulo com 180 a 400 pessoas na fila para o recall.

Proprietários de modelos Peugeot 208 e Citroën C3, C3 Picasso e Aircross também relatam dificuldades em realizar o recall para substituição dos braços da suspensão dianteira desses modelos. O defeito, segundo as fabricantes, pode resultar em perda de dirigibilidade "e grave risco de acidentes com danos físicos ou materiais aos ocupantes ou terceiros".


Continua depois da publicidade


A convocação de 40.742 modelos das duas marcas foi feita no dia 5 de dezembro. "Fiquei um mês e meio tentando agendar a troca em várias revendas e sempre informavam que a Peugeot não tinha peças disponíveis", informa Daniela Leite André Magalhães.

"Na quarta-feira recebi um telefonema de uma das concessionárias marcando o conserto para o dia 30, mas estou com medo de chegar lá e não ter a peça, como ocorreu com outras pessoas", diz ela.

Daniela mora em Itatiba (SP) e viaja todos os dias cerca de 60 km para Bragança Paulista, onde trabalha no setor de Recursos Humanos de uma empresa.

"É uma rodovia perigosa e estou sempre receosa, pois a carta que recebi fala em riscos de acidente, porque a roda do carro pode se soltar", afirma Daniela, que tem um modelo 208 ano 2013. "O mínimo que se espera de um recall que envolve risco de morte são peças para troca imediata."

O site Reclame Aqui contabiliza de dezembro até 20 de janeiro 419 reclamações envolvendo problemas com recall de veículos, entre falta de peças, dificuldade de agendamento e demora em realizar o serviço. É mais que o dobro das 204 reclamações no mesmo período do ano passado, informa um representante do site.

Notificação

Procurada, a GM informa, por meio de nota, ter peças "disponíveis para atender ao recall conforme planejamento e orienta os clientes que eventualmente tiverem dificuldade de agendar o serviço em alguma concessionária a entrar em contato com a Central de Relacionamento da empresa, que irá auxiliar no agendamento."

A PSA Peugeot Citroën também afirma em nota que sua rede de concessionárias "está preparada, treinada e com peças de reposição à disposição para o desenvolvimento da campanha, com atendimentos sendo realizados desde o início da ação".

Diante da constatação da falta de peças, contudo, o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) informa que as duas companhias podem ser notificadas e terão de explicar as razões do desabastecimento.

No ano passado, um total de 1,516 milhão de veículos (incluindo motos e caminhões) foi convocado para recall em 95 campanhas realizadas por montadoras e importadores. O número de veículos envolvidos é 124% maior que o de 2013, ano em que ocorreram 73 campanhas, segundo dados do Procon São Paulo.

A GM, sozinha, foi responsável por 46% dos veículos convocados - foram 704,5 mil unidades em 17 campanhas no ano passado.

Os modelos campeões de recall no ano passado foram Cobalt, Montana e Spin, da GM, e Grand Cherokee, da Chrysler/Jeep. Cada um deles foi chamado quatro vezes para voltar às concessionárias.

Neste ano já foram anunciados, até agora, quatro recalls de veículos: o de 1.436 motocicletas Triumph, 5.717 modelos Jetta, Fusca, Golf, Fox, CrossFox, SpaceFox e SpaceCross, da Volkswagen, 1.039 unidades do Jeep, da Chrysler, e 4 mil unidades do Lifan X60.

A empresa é obrigada a fazer recall quando o defeito de fabricação envolve a segurança dos ocupantes dos veículos e terceiros, segundo o Código de Defesa do Consumidor.