Consumo de máquinas cresce e indica expansão do investimento no 3º tri

A melhora da produção doméstica de bens de capital e a queda mais branda das importações desses itens levaram o consumo interno de máquinas e equipamentos a crescer no terceiro trimestre. Cálculos de economistas consultados pelo Valor indicam alta entre 1% e 2,2% de julho a setembro em relação aos três meses anteriores, forte indício de que os investimentos dentro do Produto Interno Bruto (PIB) subiram na mesma comparação, após quatro trimestres seguidos de recuo. Para os especialistas, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas e construção civil) deve ter crescido também entre 1% e 2,3%.

A possibilidade de variação positiva do FBCF, no entanto, não é avaliada como início de uma recuperação. Em primeiro lugar, porque o avanço deve ocorrer em cima de base de comparação muito fraca: de abril a junho, período em que a atividade econômica atingiu o fundo do poço, a FBCF caiu 5,3% sobre o segundo trimestre.

Além disso, o nível de confiança ainda deprimido dos empresários e as incertezas que permanecem no cenário econômico são considerados entraves a uma expansão mais expressiva dos investimentos daqui para frente.

André Muller, da Quest Investimentos, afirma que o desempenho da formação bruta surpreendeu positivamente no terceiro trimestre: tanto a parte de maquinário quanto a de construção civil mostraram comportamento mais favorável. Na passagem trimestral, a produção nacional de bens de capital aumentou 4,1%.

Somando a essa variação a retração de 1,3% do volume importado desses itens e descontando a alta de 3,4% das exportações, Muller calcula que a absorção doméstica de bens de capital subiu 1% no terceiro trimestre, primeira alta no dado com ajuste sazonal desde o segundo trimestre de 2013. Já a produção de insumos típicos da construção civil ficou 1,1% maior no período. Segundo o economista, o conjunto de dados aponta que a FBCF voltou ao campo positivo no terceiro trimestre, com avanço de 1% ante os três meses anteriores.


Continua depois da publicidade


"É um desempenho um pouco melhor, mas devido principalmente ao efeito estatístico", diz Muller, que ainda não vê uma trajetória consistente de retomada dos investimentos. Como os estoques da indústria de bens de capital estão elevados - segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), a diferença entre o percentual de empresas do setor com estoques excessivos e insuficientes chegou a 25 pontos em outubro -, a indicação é que a demanda por investimentos continua fraca, em linha com as perspectivas de baixo crescimento no longo prazo para a economia, afirma.

O economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, destaca que, entre o terceiro trimestre de 2013 e o segundo trimestre de 2014, a formação bruta acumulou retração de 11,2%. Por isso, Borges vê a expansão de 1,1% esperada para o terceiro trimestre mais como um estancamento das fortes reduções observadas anteriormente do que como uma reação do investimento.

Algumas medidas relacionadas à confiança do empresariado mostraram pequena melhora e podem explicar a volta ao crescimento da FBCF, diz ele, como as perspectivas para os próximos seis meses. Também de acordo com a FGV, o percentual de empresas que prevê piora da situação de seus negócios nesse horizonte diminuiu de 29,9% em setembro para 18,6% em outubro.

Mesmo assim, o Índice de Confiança da Indústria (ICI) da FGV segue em níveis compatíveis aos três períodos em que o Brasil entrou em recessão (82,6 pontos), condição que, aliada ao aumento da ociosidade na economia, não permite prever aumento importante dos investimentos nos próximos meses. "Pode até haver outra alta dos investimentos nos últimos três meses do ano, mas não será nada significativo", diz o economista da LCA.

Para Rodrigo Baggi, da Tendências Consultoria, a interrupção de uma longa sequência de quedas do investimento é um fato positivo, mas indica apenas que esse componente do PIB está deixando o fundo do poço. Em seus cálculos, o consumo aparente de bens de capital diminuiu 1,6% entre o segundo e o terceiro trimestres, o que não deve impedir a FBCF de avançar 2,3% em igual comparação.

Baggi explica que os ajustes sazonais das duas séries são diferentes, o que pode resultar em discrepâncias no curto prazo, e lembra que distorções do comércio exterior continuam afetando os dados do consumo.

No terceiro trimestre, por exemplo, a exportação contábil de duas plataformas de petróleo levou o volume exportado de bens de capital a saltar 23,2% ante os três meses anteriores. Sem o registro dessas duas operações, Baggi calcula que o consumo interno de máquinas passa a mostrar alta de 2,2% na passagem trimestral, em linha com suas estimativas para a FBCF. Para o economista, é necessária uma melhora mais firme dos condicionantes da demanda de máquinas e equipamentos para que o setor se recupere.

"Apesar do pico de incertezas em relação à economia já ter ficado para trás, há uma série de indefinições em relação a 2015", diz Baggi, que vão desde a nomeação de uma nova equipe econômica até as novas regras do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), do BNDES.

O analista recorda que o excesso de pedidos feitos no fim de 2013, antes do aumento de juros do programa, e o atraso na regulamentação do PSI para 2014 levaram a uma paralisação das liberações de financiamentos no começo deste ano, situação que pode ocorrer novamente.

Mesmo com a expectativa de que os juros do PSI subam a partir de janeiro, o economista Leandro Padulla, da MCM Consultores, avalia que o último trimestre de 2014 não será forte para o investimento. Em suas estimativas, a formação bruta cresceu 1,1% de julho a setembro, com alta de 1,4% do consumo interno de bens de capital.

Segundo Padulla, a variação não tende a representar uma mudança de tendência, dado que o ambiente para o investimento segue ruim. "O quadro de incertezas faz com que o empresariado continue reticente", diz.