Embraer surpreende com prejuízo trimestral

A fabricante de aeronaves Embraer espera melhora no mix de produtos e no volume de entrega de aviões no quarto trimestre de 2014, após resultado fraco apresentado no terceiro. A companhia admitiu o mix desfavorável dos meses de julho, agosto e setembro com a concentração de entrega de unidades menores.

Segundo José Antonio de Almeida Filippo, vice-presidente executivo financeiro e relações com investidores, a tendência foi anunciada e é consequência de encomendas de empresas aéreas americanas, focadas nesse tipo de jato. "Já tínhamos essa expectativa, dado o perfil de entrega das ordens americanas, focadas nesse tipo de aeronave", afirmou.

Para o executivo, existe a concentração de entregas no último trimestre, inclusive de aeronaves maiores, devido a sazonalidade. "Observamos maior distribuição das entregas em 2014. Apesar da concentração no fim do ano, isso deve ser menos percebido do que foi no ano anterior", disse Filippo. Se a expectativa se consolidar, a companhia poderá atingir as projeções para o ano, que foram mantidas pela fabricante.

A empresa saiu de lucro para o prejuízo de R$ 24,331 milhões no terceiro trimestre, frente a igual intervalo de 2013. A receita líquida recuou 3,9% no período, passando para R$ 2,827 bilhões, e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, em inglês) foi de R$ 311,3 milhões nos meses de julho, agosto e setembro, 13,2% menor no comparativo anual.

A queda nos resultados aconteceu sobretudo com a combinação de menor número de entregas de jatos executivos aliado ao mix de entregas de aeronaves comerciais, parcialmente compensado pela alta de 29% na receita do segmento de defesa e segurança. O resultado líquido foi prejudicado ainda por despesa de Imposto de Renda (IR) mais elevada, de R$ 178,6 milhões no trimestre, comparada a despesa de R$ 58,7 milhões no ano passado, alta de 204%. O aumento ocorreu em razão do efeito da variação cambial, que gerou maior despesa de IR e Contribuição Social sobre itens não monetários.


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A Embraer espera atingir as estimativas publicadas em fevereiro, da receita líquida anual entre US$ 6 bilhões e US$ 6,5 bilhões. As entregas devem ficar entre 92 e 97 jatos comerciais, 80 a 90 jatos executivos leves e 25 a 30 jatos executivos grandes, segundo ela. O Ebitda fica entre US$ 780 milhões e US$ 910 milhões.

O prejuízo líquido não era esperado por analistas consultados pelo Valor. Pela média das estimativas do Morgan Stanley, BTG Pactual e Citi, a empresa mostraria lucro de US$ 34,3 milhões no trimestre, ou R$ 77,9 milhões quando convertidos pelo dólar médio do período de R$ 2,27. A companhia, no entanto, reportou prejuízo de R$ 24,3 milhões. O Ebitda ficou em linha e receita acima do esperado.

Com a volatilidade recente no câmbio, a fabricante aderiu a hedges financeiros para reduzir a exposição do fluxo de caixa. Essa exposição ocorre, segundo a empresa, pelo fato de aproximadamente 10% da receita líquida e 25% dos seus custos totais serem em reais.

Para 2014, cerca de 60% da exposição em real está protegida, caso o dólar se desvalorize abaixo de R$ 2. Para taxas de câmbio acima deste nível, a empresa se beneficiará até o limite médio de R$ 3,50 por dólar. Além disso, aproveitando a recente volatilidade cambial, a companhia aderiu a hedges financeiros adicionais para reduzir a exposição do fluxo de caixa de 2015.

Para o próximo ano, a expectativa da fabricante é que o nível de produção de aviões comerciais fique estável ou com um pequeno aumento. Deve haver, no entanto, pressão sobre as margens brutas devido aos preços mais agressivos com aumento da concorrência. A tendência de alta no dólar, por outro lado, pode ajudar a rentabilidade.

O desenvolvimento do Legacy 500 pode levar à melhora no segmento de jatos executivos e à tendência de alta nos resultados. Em defesa e segurança, a tendência é de estabilidade com o que foi projetado para este ano. Está no foco também o desenvolvimento no plano de aviação regional. A questão depende da aprovação no Congresso. A companhia afirmou que "é difícil prever para onde vai", mas que, se mantido o plano original, ela deve ser beneficiada.


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