Diretor da ABS fala sobre o setor de soldagem do País

Daniel Almeida é o diretor executivo da Associação Brasileira de Soldagem (ABS).

Entre os dias 12 e 13 de novembro aconteceu no Rio de Janeiro o Solda Brasil 2013, evento que abordou temas como tecnologia, mão de obra qualificada e automação do setor. A terceira edição do Seminário Nacional de Tecnologia e Mercado de Soldagem faz observarmos o crescimento do setor junto à demanda náutica, automobilística e eólica, indústrias que vêm recebendo grande estímulo e investimento no País. Sendo assim, o Portal CIMM entrevistou, neste mês, o diretor executivo da Associação Brasileira de Soldagem (ABS), Daniel Almeida. Ele nos contou um pouco sobre os desafios de qualificação de mão de obra do setor, bem como a expansão do setor nos últimos anos no Brasil.

Qual a importância de um evento como a Solda Brasil 2013 para o setor?

 A comunidade de soldagem está carente por informações e este evento vem contribuir para a disseminação dos conhecimentos de soldagem com a presença de pessoas que integram a cadeia de empresas usuárias. Trata-se de um importante fórum para debater as necessidades do segmento de óleo e gás, particularmente o de offshore e refino, para propor soluções e discutir alternativas para atender as necessidades existentes e as futuras.

Quais as principais regiões e setores para o setor de soldagem?

Todos os pólos industriais, sendo os setores mais importantes o automobilístico, equipamentos pesados e tubulações (geradores de energia, vasos de pressão), estaleiros, máquinas de movimentação de terra, máquinas agrícolas. Ou seja, a soldagem é de extrema importância em todos os segmentos industriais.

Você confirma que a demanda de soldagem no Brasil tem crescido com os estímulos governamentais ao setor de óleo e gás, e, consequentemente, à indústria naval?

Sem dúvida o segmento de óleo e gás vem puxando a demanda por mão de obra qualificada e produtos de soldagem com especificações especiais. No pré-sal serão demandados produtos com requisitos especiais que requerem também um rigoroso controle de aplicação e de sistemas de soldagem. Por ora, a demanda tem sido muito expressiva na construção de navios e plataformas, mas estamos assistindo apenas um início de um ciclo que se prolongará por muitos anos com demanda por produtos e mão de obra muito maior do que a atual. Lembro que só o campo de Libra deverá produzir em sua capacidade plena cerca de 1 milhão e 400 mil barris/dia, equivalentes hoje a praticamente 70% da produção atual.

Empresários de outros setores relacionados à indústria de óleo e gás disseram que não estavam preparados quando a Petrobrás iniciou investimentos milionários em determinadas regiões do País, assim, a preparação e a capacitação foram uma consequência da demanda da Petrobrás e estaleiros que se instalaram no País nos últimos anos. Essa realidade também foi vivida pelo setor de soldagem? De que maneira?

Aqueles que estavam atentos à evolução do mercado de soldagem se preparam para essa demanda, largamente divulgada pela Petrobrás com os investimentos previstos. Mas, infelizmente, estes foram poucos. Com relação à mão de obra qualificada, é necessária uma preparação com muita antecedência, pois de nada adianta colocar pessoas em treinamento com alguns meses de antecedência, o que tem acontecido com a formação, por exemplo, de soldadores. As empresas não estão encontrando esses profissionais no mercado e tentam, em um curto espaço de tempo, admitir leigos e treiná-los por conta própria e pensam que em seis meses eles estarão prontos para executar soldas de responsabilidade.

Também nos níveis superiores a dificuldade de contratar profissionais de soldagem, como engenheiros, é grande. Para que se consiga um engenheiro com especialização em soldagem vai ter que prever pelo menos um ano e meio de curso, a menos que a empresa envie seu funcionário para o exterior para fazer um curso intensivo de 3 meses com cerca de 470 horas de carga horária. Ainda assim, a desvantagem é que o aluno tem dificuldade de assimilar tanto conhecimento em tão pouco tempo.

De que maneira a Associação e os associados têm trabalhado para suprir essa demanda com qualidade?

A ABS vem fazendo um esforço enorme para suprir a falta de engenheiros de soldagem no País. Em pouco tempo formamos oito centros de treinamento para qualificar em nível de pós-graduação estes profissionais, mediante convênio com Universidades e Instituições de ensino. Hoje o Brasil é membro do IIW-International Institute of Welding através da ABS, Organização presente em 56 países. Temos um Organismo de Qualificação e Certificação de pessoal de soldagem acreditado pelo IIW o que permite promover a realização de cursos de sua estrutura qualificando e certificando profissionais cujas qualificações estão previstas na norma ISO 3834, o que demonstra a credibilidade e importância das qualificações do IIW.

No próximo curso estaremos dando início a Qualificação IWS – International Welding Specialist que corresponde a um técnico nível médio em soldagem, também prevista pela ISO 3834

Por outro lado o Senai tem oferecido em todo o Brasil excelentes cursos para a qualificação de soldadores, mas ainda assim a demanda não esta atendida.

De que maneira a Associação acompanha e enxerga a evolução de pesquisas relacionadas ao uso de novos materiais principalmente no setor automotivo? De alguma maneira o uso de novos materiais pode interferir no setor? Se sim, de que maneira?

O setor de pesquisas no exterior trabalha com muita afinidade com a indústria e contribui fortemente. Mas não devemos nos esquecer que os mais importantes fabricantes de equipamentos  possuem centros de pesquisa e desenvolvimento próprios e suprem as suas necessidades.

Há hoje em uso outro processo de união que substitui a soldagem como, por exemplo, o uso de super adesivos já utilizados pela BMW. Mas o reflexo na substituição não constitui uma preocupação. Também, a substituição de chapas metálicas por plásticos e polímeros altera o consumo dos eletrodos habituais e dão lugar ao uso de processos e métodos de união alternativos.

Ouvi de um estudante de engenharia mecânica a reprodução de um discurso de um professor universitário que dizia que a indústria brasileira não investia em novas tecnologias para o setor de soldagem. Esse discurso é compatível com a realidade. Por quê?

Não enxergo da mesma forma. Com relação aos equipamentos de soldagem, temos aqui o que há de mais novo no mercado mundial, embora por problema de escala de produção esses equipamentos na sua maioria são importados, assim como os consumíveis necessários.

As grandes empresas investem milhões de dólares anualmente em Pesquisa e Desenvolvimento de novos sistemas e soluções para soldagem. Essas empresas podem ganhar muito se buscarem o apoio, através de convênios, com Universidades e Centros de Pesquisas.

 


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