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Samanta Luchini    |   19/01/2021   |   Desenvolvimento Humano   |  

O ano novo pede uma mente “total flex”

A flexibilidade cognitiva é a capacidade do cérebro de passar de um conceito para outro de maneira rápida e sem muito desgaste energético.

Tenho certeza de que esse texto está chegando a você depois daquela famosa lista de resoluções de ano novo. Daquela reflexão mais profunda que geralmente fazemos ao final de cada ano, como uma espécie de balanço dos nossos erros e acertos, da qualidade das nossas escolhas, das metas que foram atingidas ou não e porquê. Daquela sessão de planejamento estratégico que você faz para si mesmo, para o seu departamento, para sua equipe ou para a sua empresa.

Tudo isso acrescentado de uma tonalidade mais específica para o ano de 2021, que tem o desafio e a responsabilidade de suceder um ano tão peculiar como foi o de 2020. Um ano que nos exigiu demais em termos de resiliência, desprendimento, capacidade de adaptação e, principalmente, abertura e disponibilidade para adotar novas formas de trabalhar, estudar, aprender, se relacionar, se divertir e organizar a vida de forma geral.

Fomos introduzidos no rico universo da flexibilidade cognitiva. E por mais que isso tenha acontecido de forma abrupta e impositiva, vejo como um grande avanço no nosso processo de desenvolvimento. Penso ainda que, a partir de agora, podemos seguir aprendendo de maneira mais consciente e intencional, até que essa competência esteja de fato incorporada ao nosso comportamento.

Frank Zappa dizia que “a mente é como um paraquedas, só funciona se estiver aberta” e não haveria uma citação mais assertiva para ilustrar a necessidade dessa competência no nosso cotidiano, especialmente nesse ano que certamente será marcado pela sílaba RE, de retomada, recomeço, reação, recriação, reestruturação, reforma, reposicionamento, recuperação, reabertura e acima de tudo, realização.

Flexibilidade cognitiva é a capacidade do cérebro de passar de um conceito para outro de maneira rápida e sem muito desgaste energético. Dito de outra forma, é a habilidade para perceber que o que estamos fazendo não funciona mais, e assim processar e executar as alterações necessárias para nos adaptarmos às novas demandas e situações, mediante os resultados desejados.


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Pessoas com baixo nível de flexibilidade cognitiva são incapazes de mudar de um conceito para outro, não conseguem aceitar posicionamentos e perspectivas diferentes das suas e muitas vezes ficam aprisionadas em uma única linha de pensamento ou tipo de foco.

Além de nos ajudar a lidar melhor com as situações inesperadas, a flexibilidade cognitiva também contribui para a atualização do nosso sistema de crenças, uma vez que nos permite estar expostos a um maior e mais qualificado universo de informação.

A flexibilidade cognitiva exerce uma ampla função na aprendizagem, na resolução de problemas também se associa à melhora do funcionamento do cérebro.

Como acontece com qualquer outra competência, a flexibilidade cognitiva pode ser aprendida, treinada e melhorada (reveja o artigo “As competências são como músculos”). Para tanto, algumas estratégias são muito úteis.

A leitura, por exemplo, ativa várias regiões do cérebro simultaneamente, o que configura um bom exercício mental. Melhor ainda se você optar pela leitura de gêneros literários, autores e temáticas diferentes daquelas que você gosta e está habituado a ler.

Amplie e diversifique sua base de conhecimentos. Pense no seu cérebro como uma grande biblioteca, com vários livros armazenados nos nossos neurônios. Quanto maior a variedade e a quantidade de informações disponíveis, maiores serão as chances de pensar de diferentes modos e perspectivas.

Os jogos também são bons aliados. Um jogo que mantenha seu cérebro desafiado e ativo, seja ele no formato on-line, um jogo de tabuleiro ou até mesmo um quebra-cabeças, ajuda o cérebro a construir novos caminhos neurais. Além de favorecer a flexibilidade cognitiva no presente, essa estratégia também ajuda a retardar o declínio cognitivo que é inerente ao processo de envelhecimento. E se esses jogos puderem ainda contar com a presença da família e dos amigos, o benefício é ainda maior.

Experimente exercícios de lógica. Assim como os nossos músculos, quanto mais o cérebro for exercitado, melhor será o seu condicionamento, sua agilidade e eficiência. O estudo da lógica, apesar de parecer complicado para algumas pessoas, ajuda a analisar as formas como usamos a nossa cognição na vida e no trabalho.

Traga pessoas diferentes para perto de si. O relacionamento com pessoas que pensam como nós pensamos acalanta o nosso ego, pois elas validam nossas ideias, opiniões e crenças. Por outro lado, quem pensa de forma diferente, nos coloca em dúvida, nos desafia, traz provocações e ensina modos diferentes de observar a realidade, agregando novos conhecimentos e reflexões. Com isso a nossa flexibilidade cognitiva se expande naturalmente.

Olhe de forma mais leve para os seus erros. O erro é parte integrante do processo de aprendizagem e, especialmente, quando experimentamos algo novo. Aceitar esse fato, ajuda a minimizar o medo de errar, que é uma das principais causas da resistência à mudança.

Preste atenção na quantidade e na qualidade do seu sono. Já está comprovado que o sono exerce um papel importantíssimo nas nossas funções cerebrais, como por exemplo a consolidação das memórias de curto prazo, para que possam se converter em memórias de longo prazo (o que hoje é reconhecido oficialmente como aprendizagem).  Mais especificamente o sono REM (da sigla em inglês Rapid Eye Moviment – movimento rápido dos olhos), que é aquele mais profundo onde há um grande processamento de informações nas redes neurais e onde acontecem os nossos sonhos, que também se associam ao aumento da criatividade e capacidade de raciocínio. O sono verdadeiramente restaurador, a ponto de beneficiar suas funções cerebrais deve ser contínuo e profundo.

A flexibilidade cognitiva é um requisito indispensável para a vida que levamos hoje. Por isso eu espero que neste ano você experimente uma mente “total flex”, ou seja, aquela que é capaz de funcionar e manter a sua performance, independente do conceito com o qual esteja sendo abastecida.

Um grande abraço e até breve.

O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.
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Samanta Luchini

Mestre em Administração com Foco em Gestão e Inovação Organizacional, Especialista em Gestão de Pessoas pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS e em Neurociência pela Unifesp.
Psicóloga pela Universidade Metodista de São Paulo.
Executive & Life Coach em nível Sênior, com formação internacional pelo ICI (Integrated Coaching Institute) em curso credenciado pela ICF (International Coach Federation).
Professora convidada dos programas de pós-graduação da FGV/Strong, Universidade Metodista e Senac, dos programas de MBA da Universidade São Marcos e Unimonte, e dos cursos FGV/Cademp, para a área de Gestão de Pessoas.
Professora conteudista do Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos – UNIFEOB.
Formadora de consultores e treinadores comportamentais.
Atua há mais de 23 anos com Gestão de Pessoas em diversas empresas e segmentos, dentre elas Wickbold, Bridgestone, Bombril, Solar Coca-Cola, Porto Seguro, Grupo M. Dias Branco, Prensas Schuler, Arteb, Grupo Mardel, Tegma, Pertech, Sherwin-Williams, Grupo Sigla, Unilever, Engecorps, Nitro Química, Grupo Byogene, Netfarma, NTN do Brasil, TW Espumas, Ambev, Takeda, Pöyry Tecnologia,
Neogrid, Scania, Kemp, Ceva Saúde Animal, Embalagens Flexíveis Diadema, Sem Parar, CMOC, Camil e Toyota.
Em sua trajetória profissional e acadêmica, já desenvolveu mais de 27.000 pessoas, com uma média de avaliação superior a nota 9,0 em todos seus treinamentos.
Palestrante, consultora de empresas e autora de diversos artigos acadêmicos publicados em congressos e revistas.
Colunista da revista Manufatura em Foco – www.manufaturaemfoco.com.br


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