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Samanta Luchini    |   12/10/2020   |   Desenvolvimento Humano   |  

Ajustar o foco é a chave para os seus resultados

Foco não é apenas a capacidade de manter a atenção numa tarefa. Trata-se também da capacidade de gerenciar as distrações e dizer não àquilo que não se relaciona com a sua prioridade.

A humanidade está vivendo a era da conectividade. Temos o mundo literalmente na palma mão, dentro dos nossos smartphones. Com um toque ou um breve comando verbal acessamos imediatamente qualquer tipo de conteúdo, desde aqueles que atendem nossas necessidades conscientes, até aqueles que se originam das necessidades que nós ainda nem sabemos possuir.

Os gigantes e da internet e do marketing digital investem pesadamente em mecanismos e estratégias que tem o objetivo exclusivo de nos manter conectados o máximo de tempo possível. Nossa atenção tem sido disputada a peso de ouro e com isso, estamos constantemente expostos a uma quantidade avassaladora de informações e estímulos. A economia da atenção nos deixa tão distraídos, que a nossa capacidade fundamental de experimentar o momento presente tem ficado cada vez mais fragilizada.

Você já deve ter se observado em um momento em que estava fazendo algo importante, mas sem perceber acabou pegando o celular para dar uma olhadinha nas suas redes socias. Ou seja, estamos o tempo todo interrompendo nosso próprio foco, que tem diminuído consideravelmente com o passar do tempo.

De acordo Larry Rosen, professor da Universidade Estadual da Califórnia e pesquisador da chamada "psicologia da tecnologia", a capacidade média de concentração dos participantes de suas pesquisas é de apenas 3 a 5 minutos. Depois disso, eles se distraem, sem conseguir concluir suas tarefas.

Sempre que eu falo de foco, nos treinamentos, nas aulas e até mesmo nas conversas de coaching, utilizo a metáfora de uma luneta.

Quando você olha para o céu, numa noite estrelada, você vê uma imagem linda, ampla e cheia de belíssimos pontos iluminados. Pode até se sentir desorientado na escolha de qual direção olhar, ou não saber para qual constelação olhar primeiro.

Agora, quando olha para o céu usando uma luneta, você reduz o campo de visão e já não pode mais enxergar a miríade de estrelas e constelações. Contudo, você ganha em clareza, nitidez e riqueza de detalhes acerca do “pedaço” que escolheu observar, pois a função da luneta é produzir o aumento e a qualificação da sua visão. A luneta canaliza seu olhar, seu tempo, sua atenção e sua energia para aquilo que você escolheu.


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Isso é foco. A capacidade de atingir um objetivo, manter uma prioridade, sem se distrair ou se desviar do caminho. É uma competência que nos permite direcionar nossos esforços a objetivos específicos, mantendo a visão nítida daquilo que realmente desejamos.

Desta forma, ter foco não significa apenas ser capaz de manter a atenção por um maior período de tempo, mas principalmente conseguir gerenciar as inúmeras distrações que estão ao nosso redor. Sejam elas distrações externas ou internas.

As distrações externas podem estar no seu ambiente (layout, iluminação, ruídos, temperatura, desorganização, ergonomia, poluição, etc), no fluxo e na quantidade de informações que você recebe, nas pessoas que trabalham com você, nas interrupções, nos compromissos da sua agenda, no seu celular. Estudos indicam que a simples presença do celular já é capaz de nos distrair, mesmo que não estejamos mexendo nele.

Faça uma análise minuciosa do seu ambiente. Identifique os fatores que geralmente tiram o seu foco e, para cada um deles, estabeleça pelo menos uma ação de contenção. Esse é um exercício diário, que requer planejamento, compromisso e disciplina.

Já as distrações internas parecem ser mais desafiadoras. Elas não estão visíveis no ambiente, não poder ser tocadas ou mudadas de lugar, não estão condicionadas a um horário específico ou a uma pessoa.

Refiro-me àqueles pensamentos repetitivos, sobre o passado, sobre o futuro, sobre nossas inseguranças e receios. Emoções intensas, sejam elas positivas ou negativas. A voz sutil, porem constante, da autossabotagem. Até mesmo os sintomas físicos, como a fome, a sede e o sono, que por vezes se manifestam de maneira suspeitamente pontual, como atividades de fuga, para nos tirar do foco. Já reparou quantos “cafezinhos” nosso corpo pede em determinados momentos do dia?

O gerenciamento desse tipo de distração requer uma análise muito mais profunda e refinada, seguida de estratégias e ferramentas específicas, que na maioria das vezes demandam uma ajuda especializada e consistente.

Steve Jobs dizia que foco não significa dizer sim para aquilo que você deseja e que, portanto, pretende se focar. Na verdade, foco significa ser capaz de dizer não às centenas de outras possibilidades e boas ideias que existem. Isso nos coloca diante da difícil tarefa de saber filtrar, selecionar e escolher.

Para dizer um sim realmente convicto à sua prioridade e criar o foco necessário para alcança-la, você precisa dizer não a uma série de outras coisas que ao mesmo tempo se mostram vantajosas, interessantes e prazerosas. A nobre e madura capacidade de adiar as gratificações imediatas em benefício daquilo que você realmente deseja. Isso também é foco.

Agora que já conversamos um pouco sobre as capacidades relacionadas ao foco, gostaria compartilhar seis dicas que podem contribuir para os seus resultados.

  • Evite o autoengano de fazer várias coisas ao mesmo tempo. Às vezes nos iludimos com a ideia de que, ao fazermos duas tarefas ao mesmo tempo, estaremos sendo mais produtivos. Na realidade, acontece o contrário: você leva mais tempo para executar uma tarefa quando o faz junto com outra, do que se fizesse uma de cada vez. Pegue um cronômetro, faça o teste e comprove. Isso acontece porque o cérebro pode até ser multitarefa, não nunca será multifoco. Ele só consegue focar em uma única coisa por vez, quando você tenta (sem sucesso) dividir o seu foco para duas atividades, sua atenção diminui e você acaba levando mais tempo na execução.
  • Divida as tarefas grandes em várias partes. As tarefas grandes geralmente demandam muito tempo para a sua realização, o que pode entrar em conflito com a nossa dificuldade em manter o foco por muito tempo. Dividir a tarefa em partes menores, cada qual com seu prazo de execução específico, nos ajuda a enxergá-las como mais factíveis e viáveis, reduzindo nossa tendência de fugir do foco.
  • Experimente a técnica do pomodoro. Ela foi desenvolvida no final dos anos 80 pelo italiano Francesco Cirillo, que buscava uma forma de aumentar sua produtividade nos estudos durante os primeiros anos de faculdade. Para isso, ele utilizou um timer de cozinha (que tinha o formato de um tomate, que significa pomodoro em italiano) no qual ele programava 25 minutos. Nesse período ele se concentrava totalmente nas suas tarefas sem interrupções. Quando o timer tocava, ele fazia um X nas tarefas concluídas ou anotava o status de seu trabalho e fazia um breve intervalo de 5 minutos. Imagine o benefício de se manter focado durante 25 minutos numa atividade, sem pegar o celular ou levantar para tomar um café?
  • Celebre e registre intencionalmente cada período de foco. O progresso diário, registrado através de pequenas vitórias, pode fazer toda a diferença na forma como nos sentimos e como atuamos. O poder do progresso é fundamental para a natureza humana. Registre, celebre e recompense todos os momentos de foco do seu dia. Retome e analise esses registros regularmente para estar consciente do seu progresso. Esse exercício pode ser uma fonte a mais para a sua motivação para prosseguir.
  • Experimente incluir técnicas de meditação e mindfulness no seu dia-a-dia. Já estão comprovados cientificamente os benefícios que essas técnicas trazem para o funcionamento do nosso cérebro, especialmente no que diz respeito ao foco. Um estudo publicado pela Universidade de Harvard, demonstrou que nossa mente está dispersa e distraída em nossos pensamentos durante praticamente 47% do tempo. É como se em metade da vida estivéssemos pensando no passado e no futuro, esquecendo-nos do presente. Viver nesse estado não prejudica apenas a capacidade de criar e manter o foco. Pode provocar também outros sintomas e problemas relacionados à saúde e ao bem-estar, como a ansiedade e o estresse, além de prejudicar a percepção da felicidade com as conquistas e os momentos presentes.
  • Identifique os comportamentos observáveis de quem tem foco. Transformar uma competência comportamental, como é o caso do foco, numa lista de indicadores observáveis de comportamento é a chave para o seu desenvolvimento. Observe as pessoas que na sua opinião tem um bom nível de foco e pergunte-se o que elas fazem exatamente. Além de gerenciar as distrações (externas e internas) e saber dizer não, é bastante provável que elas pratiquem outros comportamentos, como por exemplo, terminar uma tarefa antes de iniciar outra, desabilitar as notificações do celular, determinar horários específicos para olhar suas mensagens e suas redes sociais e avisar as pessoas nos períodos em que ela não pode ser interrompida.

Lembre-se: tudo que pode ser visto pode ser modelado e aprendido.

Um grande abraço e até breve...

O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.
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Samanta Luchini

Mestre em Administração com Foco em Gestão e Inovação Organizacional, Especialista em Gestão de Pessoas pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS e em Neurociência pela Unifesp.
Psicóloga pela Universidade Metodista de São Paulo.
Executive & Life Coach em nível Sênior, com formação internacional pelo ICI (Integrated Coaching Institute) em curso credenciado pela ICF (International Coach Federation).
Professora convidada dos programas de pós-graduação da FGV/Strong, Universidade Metodista e Senac, dos programas de MBA da Universidade São Marcos e Unimonte, e dos cursos FGV/Cademp, para a área de Gestão de Pessoas.
Professora conteudista do Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos – UNIFEOB.
Formadora de consultores e treinadores comportamentais.
Atua há mais de 23 anos com Gestão de Pessoas em diversas empresas e segmentos, dentre elas Wickbold, Bridgestone, Bombril, Solar Coca-Cola, Porto Seguro, Grupo M. Dias Branco, Prensas Schuler, Arteb, Grupo Mardel, Tegma, Pertech, Sherwin-Williams, Grupo Sigla, Unilever, Engecorps, Nitro Química, Grupo Byogene, Netfarma, NTN do Brasil, TW Espumas, Ambev, Takeda, Pöyry Tecnologia,
Neogrid, Scania, Kemp, Ceva Saúde Animal, Embalagens Flexíveis Diadema, Sem Parar, CMOC, Camil e Toyota.
Em sua trajetória profissional e acadêmica, já desenvolveu mais de 27.000 pessoas, com uma média de avaliação superior a nota 9,0 em todos seus treinamentos.
Palestrante, consultora de empresas e autora de diversos artigos acadêmicos publicados em congressos e revistas.
Colunista da revista Manufatura em Foco – www.manufaturaemfoco.com.br


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