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Gladis Costa    |   14/08/2015   |   Marketing e Comportamento   |  

Nós e a crise: hora de discutir a relação

A crise está aí. O que fazer com ela? Será que é o fim do mundo? Não.

"A economia compreende todas as atividades do país, mas nenhuma atividade do país compreende a economia", Millôr Fernandes

A gente podia fingir que a crise não existe, mas você sabe que a confiança do consumidor, da indústria, do comércio, o nível de emprego e o PIB estão em queda livre. Você sabe que 600.000 vagas foram fechadas em um ano e conhece pelo menos cinco amigos que estão desempregados.

A crise está dentro de casa, é o quinto elemento da família, senta-se à mesa, come nossa comida, ouve nossos planos e, claro, ri deles. Nesta relação injusta e desequilibrada, é o lado mais forte. Ela desorganiza a nossa vida e afeta nosso comportamento. Será que dá para gerenciar tudo isto sem se perder pelo meio do caminho? Que rufem os tambores, por favor: Sim, é possível! 

A crise não é recente, era um feto maligno que se nutriu de manobras, desgoverno e principalmente de má fé. Nasceu forte, causando estragos, tirou o sono e o emprego de muita gente, deixou as pessoas sem rumo e sem esperança. Estamos todos financeiramente doentes, é uma epidemia, mas este mal pode ser contido. A gente já estava fazendo nossa parte, cortamos muita coisa, mas parece que não bastou.

Agora, mais do que nunca, é preciso fazer contas, afinal não existe jeito mais fácil de controlar o orçamento sem colocar no papel todos os gastos. Como comparar nossa performance mês a mês se a gente não tem histórico? Nada como ter KPI´s (Key Performance Indicator) bem definidos para descobrir os pontos falhos do nosso comportamento de consumidor compulsivo.  Tem que visualizar os gastos, analisar o panorama e fazer os ajustes necessários. 

Precisamos “sair do outro lado”, como costumam dizer. Gerenciar os custos é uma boa forma de entender como estamos usando nossa receita. Serviços e produtos têm quer ser reavaliados. Um exemplo: um cafezinho em casa deve custar 5% do que custa na padaria, talvez menos. Em casa é um produto, mas na padaria, é um serviço e então são acrescidos impostos, custos de funcionários, conveniência, segurança, etc. Ok,  o café da padaria não tem preço, mas no meio do furacão Crise 2.0, ele custa caro e vai ter que sair de cena temporariamente.


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Cortar gastos com serviços é dolorido, mas a economia é visível. Estou comprando mais produtos do que antes e partindo para o modelo DIY (do it yourself) - faça você mesmo - para muitas coisas – de refeições a consertos domésticos. Passei a conhecer opções mais econômicas de serviços no meu bairro, negociei preços com provedores de TV a cabo, telefonia e internet. E não é que os frutos começam a aparecer? 

Adiar planos não é uma opção, mas uma estratégia de sobrevivência. Muita coisa pode esperar; o que não dá para adiar é a consciência de que algo vai muito mal por aqui; por exemplo, perceber que a atual crise está nos afetando muito mais do aquela que assolou o mundo em 2009, porque agora estamos no olho do furacão, somos os protagonistas de um filme de terror classe B, cujo monstro é real, faminto e made in Brazil. Antes a gente falava “é fogo, amigo”, hoje já sabemos que “é fogo amigo.” Conhecemos a identidade do nosso carrasco, o que não diminui a dor. Agora é um problema nosso e vamos ter que lidar com isto. 

Mas algumas lições serão aprendidas ao longo do caminho: seremos mais conscientes e cuidadosos com nossas finanças. Não seremos mais pegos de surpresa. No relacionamento com a crise, somos o lado mais fraco da corda, mas não quer dizer que a gente vá se enforcar com ela, afinal, uma corda tem várias utilidades: serve para sair do poço, fazer rapel, laçar um boi e se serve para domar um cavalo, por que não a crise?

“Você não pode direcionar o vento, mas pode ajustar as velas”, Confúcio

O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.
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Gladis Costa

Gladis Costa é profissional da área de Comunicação e Marketing, com vivência em empresas globais de TI. É fundadora do maior grupo de Mulheres de Negócios do LinkedIn Brasil, que conta com mais de 6200 profissionais. Escreve regularmente sobre gestão, consumo, comportamento e marketing. É formada em Letras, e tem pós graduação em Jornalismo, Comunicação Social e MBA pela PUC São Paulo. É autora do livro "O Homem que Entendia as Mulheres", publicado pela All Print.


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